O segundo dia do Fórum Econômico Mundial de Davos 2022 foi marcado pelo tema da geopolítica.
Muitos painéis discursaram sobre as consequências da invasão russa da Ucrânia, que continua no centro do debate em Davos.
Uma das falas mais marcantes do dia foi a da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
“Se a Rússia retornar à democracia, ao estado de direito, ao respeito pela ordem internacional, então poderá encontrar seu lugar na Europa”, disse a política alemã respondendo à pergunta do fundador do Fórum de Davos, Klaus Schwab.
Von der Leyen deixou duas mensagens muito claras para a Rússia do palanque de Davos.
A primeira é que “a Ucrânia deve vencer a guerra”. A segunda é que o Ocidente encontrará uma maneira de acabar com a “chantagem russa” sobre o trigo. Porque, segundo ela, “já são evidentes os sinais de uma crescente crise alimentar mundial”.
Alerta sobre risco de crise alimentar em Davos
Milhões de toneladas de cereais estão atualmente bloqueados, encerrados no “celeiro do mundo” por causa da presença da frota russa no Mar Negro.
Von der Leyen salientou que isso relembra claramente “os métodos soviéticos” e da devastadora carestia da década de 1920, o Holodomor imposto por Stalin, que matou milhões de ucranianos.
Uma experiência que marcou as consciências do povo da Ucrânia e criou uma profunda desconfiança em relação ao vizinho russo.
Mas desta vez a crise de desabastecimento alimentar corre o risco de inflamar a África e o Oriente Médio.
Por isso, Von der Leyen revelou que está preparando uma conferência com o presidente egípcio Al-Sisi para tratar de como enfrentar a emergência com os países da região.
Atualmente, 22 milhões de toneladas de trigo não podem sair da Ucrânia para serem exportados para a África, Oriente Médio e muitos outros países.
Com as atuais taxas de exportação, levaria mais de seis anos para escoar essas 22 milhões de toneladas. Um horizonte impossível de ser aceito, sem provocar uma catástrofe alimentar mundial.
Risco de novos fluxos migratórios
O presidente polonês, Andrej Duda, também lembrou de Davos os devastadores “efeitos colaterais” que uma crise alimentar na África pode causar na Europa.
“Existe o risco de uma crise alimentar na África e, portanto, a Espanha e os outros países do sul da Europa podem sofrer uma nova crise migratória”, disse Duda.
Rússia terá mais Otan em suas fronteiras
Por sua vez, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a Rússia iniciou uma guerra para ter “menos Otan nas fronteiras” e agora terá “mais Otan nas fronteiras’.
“Quando o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou um ultimatum à Otan em dezembro passado”, no qual pediu “um tratado juridicamente vinculante para reescrever a arquitetura de segurança na Europa” e “pôr fim ao alargamento da Otan”, ele queria “menos Otan em suas fronteiras. Ele começou uma guerra: agora tem mais Otan nas suas fronteiras e mais países membros da Aliança”, disse Stoltenberg.
Ao invadir a Ucrânia, explicou Stoltenberg, o presidente russo “cometeu um grande erro estratégico”.
“Isso porque um de seus objetivos declarados era tomar Kiev, decapitar o governo e controlar o país. Ele foi forçado a retirar suas forças de Kiev e do norte do país. Suas forças foram repelidas pela região de Kharkiv”, explicou Stoltenberg de Davos.
“E a ofensiva no Donbass está se desenvolvendo lentamente. Não estou prevendo o resultado da guerra, ninguém pode fazer isso, mas é claro que a Rússia não alcançou seus objetivos. Era para ser uma operação militar curta. Está se tornando uma guerra longa e custosa para a Rússia”, disse o chefe da Otan, salientado como a aliança militar do Ocidente “não fará parte da guerra” na Ucrânia, não haverá “envolvimento direto” dela no conflito,
“A decisão da Finlândia e da Suécia de se candidatarem à adesão à Otan é histórica: demonstra que a segurança europeia não será ditada pela violência e pela intimidação”, explicou Stoltenberg.
A guerra na Ucrânia, diz ele, mostra que “as relações com regimes autoritários podem criar vulnerabilidades”, como “depender demais da importação de commodities-chave, como energia” ou “riscos relacionados à exportação de tecnologias avançadas, como inteligência artificial”, ou ainda “o enfraquecimento da resiliência causado pelo controle estrangeiro sobre infraestruturas-chave, como a rede 5G”.
Fonte: Exame.