Uma pesquisa inédita analisada nesta terça-feira (21) pelo jornal “Aujourd’hui en France” mostra a crescente angústia dos judeus franceses, sobretudo os jovens, com o aumento das agressões antissemitas na França.
Ao menos 34% dos franceses de confissão judaica se sentem ameaçados no cotidiano por causa de sua convicção religiosa. Na faixa etária de 18 a 24 anos, 84% dos jovens judeus afirmam já ter sido vítimas de atos antissemitas.
A maior autoridade judaica no país, o rabino Haim Korsia, denuncia a que ponto chegou o antissemitismo nas redes sociais e no ambiente escolar. A intimidação e as agressões contra crianças e adolescentes começam desde a mais tenra idade na escola, sem que as autoridades francesas consigam colocar um limite à violência e à discriminação.
A pesquisa é publicada a dois dias de uma viagem do presidente Emmanuel Macron a Israel, onde ele vai participar na quinta-feira (23) do 5° Fórum Mundial sobre o Holocausto e das celebrações dos 75 anos de liberação do campo de concentração de Auschwitz, onde um milhão de judeus foram assassinados pelo regime nazista.
Os judeus formam 8% da população francesa.
Banalização da violência e estigmatização
De acordo com a sondagem, 70% dos judeus franceses já foram vítimas de um ato antissemita ao longo da vida. Dois terços deles (64%) já foram alvo de ofensas, xingamentos ou gozações.
O número de agressões físicas, como socos e empurrões, chega a 39% entre os jovens da faixa etária de 18 a 24 anos. Eles convivem com uma angústia permanente quando saem às ruas, seja com a quipá na cabeça – peça de vestuário utilizada tanto como símbolo da religião quanto sinal de temor a Deus – ou sem ela.
Por causa desse sentimento de insegurança, 33% dos entrevistados abriram mão de usar a quipá em público.
Segundo o jornal francês, a estigmatização também afeta o mercado de trabalho. Para não serem identificados nas empresas, uma parcela dos judeus franceses desistiu de se ausentar do trabalho nos dias em que a comunidade comemora as principais festas do calendário judaico, como o Dia do Perdão ou a Páscoa.
O único aspecto otimista que emana dessa pesquisa é uma aparente tomada de consciência da sociedade francesa a respeito desse grave problema e suas consequências, principalmente depois do atentado cometido pelo terrorista franco-argelino Mohamed Merah contra uma escola judaica, em Toulouse (sul), em 2012. Na época, o terrorista de 24 anos assassinou a sangue frio sete pessoas, incluindo três crianças judias.
Três anos mais tarde, a série de atentados extremistas islâmicos contra o jornal satírico Charlie Hebdo e o supermercado Hyper Cacher, em Paris, também cometidos por três muçulmanos radicalizados, nascidos e educados na França, marcou definitivamente a história do país.
Fonte: RFI.