A probabilidade de trocas de ataques nucleares entre Washington e Moscou é baixa, mas seus arsenais nucleares representam uma ameaça, segundo especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos.
O Relógio do Juízo Final, um relógio simbólico mantido desde 1947, teve seu horário acertado na quinta (23), passando de dois minutos para a meia-noite (pior nível histórico) para apenas cem segundos da hora fatal – as 12 badaladas indicariam o apocalipse, na metáfora criada pelo prestigioso Boletim dos Cientistas Atômicos.
“Acho que nem os russos nem os chineses têm qualquer intenção de atacar os EUA com armas nucleares. Um erro é possível, mas nestes países – EUA, Rússia, China – os sistemas de controle são suficientemente bons. O perigo real vem da possível perda de armas nucleares ou da perda de materiais nucleares. Penso que há um perigo maior de que outros países usem armas nucleares. Talvez o Paquistão”, disse Robert Latiff, membro do Conselho de Ciência e Segurança do grupo.
Troca de ataques
A probabilidade de os americanos ou russos usarem armas nucleares uns contra os outros continua igual a antes, opinou o especialista.
“O perigo das armas nucleares é agora ligeiramente maior devido à presença de tantas outras pessoas na arena internacional”, acrescentou Latiff sem especificar a quem se referia, explicando que esse fator continua sendo um dos aspectos que são levados em conta quando os analistas decidem mover o Relógio do Juízo Final.
De acordo com a professora Sharon Squassoni, “enquanto houver grandes arsenais, há sempre a possibilidade de lançamento intencional ou não intencional”.
“Estou preocupada com a possibilidade de trocas de ataques, intencionais ou não, entre o Paquistão e a Índia. Mas, se falamos de uma ameaça existencial, ela vem dos enormes estoques de armas dos EUA e da Rússia”, afirmou a analista.
Squassoni alerta para a necessidade de um maior diálogo entre os dois países sobre questões de não-proliferação e controle de armas.
“Os EUA afirmam que a Rússia adotou a doutrina de escalada para desescalada, ou seja, o uso de armas nucleares para desescalar um conflito não-nuclear. A doutrina dos EUA passou de uma dependência reduzida das armas nucleares para uma doutrina nuclear muito mais ambígua em 2018. Então, agora ambos os lados estão olhando um para o outro e dizendo: ‘Você não está desistindo das armas nucleares, na realidade, você está pensando cada vez mais sobre isso”, explicou a professora.
Em 2019, os EUA abandonaram o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) acusando a Rússia de não cumprimento. Moscou nega as acusações.
O Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START III) expira em fevereiro de 2021, e Washington ainda não determinou se pretende prorrogá-lo.
O Relógio do Juízo Final mede o risco de uma guerra nuclear, mas ele também contempla a mudança climática e seus efeitos, assim como avanços tecnológicos perigosos.
Fonte: Sputnik.