O anúncio na terça-feira (28) do plano de paz de Donald Trump para o conflito entre Israel e Palestina previu a região que inclui a cidade de Abu Dis como capital de um futuro Estado Palestino. O local fica a poucos quilômetros dos muros da Cidade Velha de Jerusalém.
Durante o anúncio do plano, Trump disse que Jerusalém Oriental abrigaria a capital da Palestina. Ao mesmo tempo, ele afirmou que Jerusalém permaneceria como capital indivisível de Israel.
A explicação é que Abu Dis fica dentro do distrito de Jerusalém — porém, fora dos limites municipais definidos por Israel após anexar Jerusalém Oriental em 1967, movimento não reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.
Abu Dis é um centro urbano no caminho para Jericó. A pequena cidade tem muito pouco da importância cultural ou religiosa do centro histórico de Jerusalém, que contém os lugares sagrados das três grandes religiões monoteístas: cristianismo, islamismo e judaísmo.
Porém, Abu Dis abriga um grande edifício abandonado que sediaria o Parlamento da Autoridade Palestina. O local jamais foi utilizado, sobretudo após a esperança gerada pelos acordos de Oslo se converterem em mais conflito, com o início da Segunda Intifada, em 2000.
Desde então, palestinos em Abu Dis estão separados dos bairros de Jerusalém a oeste por um alto muro de concreto que Israel construiu para interromper ataques de homens-bomba e impedir a entrada de atiradores.
Muro entre duas capitais
Estudantes de uma universidade nas redondezas têm usado o muro como um anteparo para projetar filmes durante as noites quentes de verão no Oriente Médio.
O documento apresentado pela Casa Branca junto ao anúncio do plano diz que o muro deve “servir como uma fronteira entre as capitais das duas partes”.
Além disso, o texto diz que Jerusalém deve “permanecer como a capital soberana do Estado de Israel, e deve permanecer uma cidade não dividida”.
“A capital soberana do Estado da Palestina deve ficar na seção de Jerusalém Oriental localizada em todas as áreas a leste e a norte da barreira de segurança existente, incluindo Kafr Aqab, a parte ocidental de Shuafat e Abu Dis, e pode ser nomeada Al Quds ou outro nome que o Estado da Palestina determinar”, continua o documento.
Lugares sagrados
Conforme o plano, Israel teria controle da colina no coração da Cidade Velha conhecida como Har ha-Bayit (Monte do Templo) pelos judeus — ou al-Haram al-Sharif (Nobre Santuário) para os muçulmanos.
Considerado lugar mais sagrado para o judaísmo, o local abrigou templos judaicos da antiguidade. O muro construído por Herodes, conhecido como Muro das Lamentações, é um ponto sagrado de orações para os judeus.
No topo do morro, há dois imponentes templos sagrados para o Islã: o Domo da Rocha e a Mesquita Al-Aqsa, construída no Século XIII. Muçulmanos consideram o local o terceiro mais importante, atrás apenas das cidades de Meca e Medina, na Arábia Saudita.
É ali que os palestinos gostariam que estivesse a capital de um futuro Estado Palestino. E é sobre ali que o presidente Mahmoud Abbas se referia quando disse que seria “impossível para toda criança palestina, árabe, muçulmana ou cristã aceitar uma cidade sem Jerusalém”.
O anúncio de que Abu Dis abrigaria a capital de um Estado Palestino enfureceu os habitantes da cidade, que reagiram com escárnio e revolta.
“A capital da Palestina é Jerusalém”, disse Mohammed Faroun, morador de Abu Dis.
Outro morador, que não se identificou, afirmou: “Trump ou quem quer que seja não será bem-vindo”, disse.
“Jerusalém conta nossa história, cada pedra conta algo sobre nossa história. Nunca foi israelense ou americana. É palestina, islâmica e árabe”, completou o morador.
Fonte: Reuters.