20% das pessoas infectadas pelo coronavírus desenvolvem a doença de uma forma severa ou crítica. Além disso, o ritmo de progressão da pandemia ganha força. Foram necessários três meses para que o vírus atingisse 100 mil pessoas. Mas, depois dessa marca, foram necessários apenas doze dias extras para que o total atingisse 200 mil.
O alerta foi passado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aos governos de todo o mundo, numa reunião fechada na quinta-feira pela noite em Genebra. A entidade apela por ações para desacelerar o ritmo de progressão, na esperança de que a ciência e serviços públicos possam usar o tempo para dar uma resposta. Além disso, esse tempo seria usado para permitir que a produção de testes e outros itens sejam aceleradas.
A OMS insiste na necessidade de que todos com sintomas sejam testados e que os casos positivos sejam isolados.
O encontro, realizado de forma virtual, serve para que a agência de saúde mundial coordene as respostas sobre a pandemia e informe oficialmente aos países sobre a situação internacional. Trata-se também de uma maneira de compartilhar informações sobre os estudos científicos, antes que sejam publicados.
Por enquanto, os únicos dados apontavam para a taxa de letalidade do vírus, considerada como baixa. Mas os documentos entregues aos governos e obtidos pela coluna revelam pela primeira vez um estudo mais amplo sobre a dimensão da crise.
Segundo o levantamento realizado em diferentes partes do mundo e com bases nos dados de serviços de saúde, constata-se que 5% de todos os infectados passam por uma situação “crítica”, exigindo ventilação mecânica. Outros 15% desenvolvem a doença de maneira “severa”, com a necessidade de terapia de oxigênio.
Além dos casos severos e críticos, a OMS também contata que 40% dos afetados registram casos de pneumonia, ainda que de forma moderada. Outros 40% dos casos avaliados permanecem apenas com sintomas leves.
O documento foi um alerta aos governos para que preparem seus sistemas de saúde a tal cenário.
Usando as projeções, a OMS alerta que, de forma hipotética, isso representaria que mais de 5,5 mil italianos poderiam desenvolver a doença de forma severa, além de 2 mil espanhóis e 1,5 ml alemães.
Os dados foram repassados aos governos no mesmo dia em que a Itália superou a China com o maior número de mortes, apesar de o país asiático ter uma população 20 vezes maior que o europeu.
Uma das maiores preocupações da OMS neste momento é com a capacidade dos sistemas públicos de dar conta com uma explosão de casos. Até ontem, já eram mais de 220 mil pessoas contaminadas, além de milhares de outras que não estão sequer sendo testadas por não fazer parte do grupo de risco.
Durante a reunião, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou que nem todos os países tinham desenvolvido ainda planos de prevenção. Segundo ele, 30% do mundo continuam sem uma estratégia para dar uma resposta.
“É claro que isto não é suficiente, e esperamos que todos os países estejam prontos, quer tenham casos ou não”, alertou.
Ele também criticou o fato de apenas metade dos países têm um programa nacional de prevenção e controle de infecções nos padrões da OMS. “Apenas metade dos países que relataram à OMS têm um sistema de encaminhamento clínico em vigor para a COVID-19”, indicou.
Saturados
Enquanto o alerta era lançado em Genebra, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, fazia uma constatação preocupante. “Muitos países ultrapassaram a capacidade de cuidar de casos mesmo leves em instalações de saúde, sendo muitos incapazes de responder às enormes necessidades dos idosos”, disse. “Mesmo nos países mais ricos, vemos os sistemas de saúde a cair sob pressão”, afirmou.
Para ele, os gastos com a saúde devem ser aumentados imediatamente para atender às necessidades urgentes e ao aumento da demanda.
“Foi provado que o vírus pode ser contido. Ele deve ser contido”, insistiu. “Se deixarmos o vírus se espalhar como um incêndio – especialmente nas regiões mais vulneráveis do mundo – ele mataria milhões de pessoas”, completou.
Fonte: UOL.