Com 12 milhões de casos e um número que mais que dobra em seis semanas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) admite que a erradicação da covid-19 é hoje “improvável”. A agência registrou um novo recorde, com 224 mil novos casos em 24 horas. EUA lideraram, com o Brasil em segundo lugar.
Mas acredita que ainda existe a possibilidade de que governos possam controlar a transmissão. Em sua coletiva de imprensa nesta sexta-feira, a agência alerta que governos que estão optando por reabrir suas economias, mesmo diante de uma intensa transmissão da covid-19, correm o sério risco de jogar seus países em “situações difíceis”, ver a aceleração de casos e voltar à estaca zero.
Michael Ryan, diretor de operações da agência, comentou a volta de novos casos em locais que abriram suas economias, depois de meses de confinamento. “Era esperado”, admitiu o chefe da OMS sobre a subida no número de infecções, principalmente na Europa. “Uma vez que os confinamentos terminaram, havia um risco de voltar onde o vírus está presente”, disse. Ryan pede que governos promovam suas aberturas de forma lenta, com etapas.
Mas ele foi claro: “em nosso contexto, é improvável que vamos conseguir erradicar ou eliminar o vírus”.
Para Ryan, governos precisam ter a capacidade de isolar novos surtos para impedir que, em locais onde os números são baixos, que uma nova fase da epidemia não seja iniciada.
A OMS, porém, admite que tal medida de reabertura exige “uma parceira de confiança entre comunidades e liderança”. “Isso deve ser baseado em honestidade e transparência”, insistiu. “Se queremos evitar novas epidemias, precisamos acabar com os pequenos surtos rapidamente”, afirmou.
Estaca zero
Mas a grande preocupação da agência está em países como México e Brasil que começam a abrir suas economias, mesmo com elevados números diários de casos e sem um sistema de testes ideal. Segundo Ryan, essa situação deve levar a um aumento ainda maior da pandemia.
O risco, segundo ele, é de que esses países voltem ao ponto que estavam em fevereiro e março, desfazendo todo tipo de ganho que as quarentenas conseguiram atingir. “Aberturas cegas”, alerta Ryan, impedem países chegarem onde desejam.
Ryan admite que governos e famílias carentes estão sob pressão, diante do colapso econômico e a perda de renda. “Mas temos de encontrar um forma de equilibrar. Abrir quando se tem a intensificação de casos levará países a uma situação difícil e faz retornar ao início. Isso não será sem consequência”, afirmou.
Para a OMS, governos precisam reconhecer a possibilidade de que tenham de reconfinar as pessoas. “Em alguns casos, essa pode ser a única solução”, admitiu. Mas o modelo mais adequado poderia ser o de quarentenas localizadas. Para que isso seja possível, porém, testes precisam aumentar.
Ryan ainda falou da necessidade de que governos sejam “honestos” com suas populações sobre os riscos da doença e que informação correta seja passada.
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, reconheceu que a crise está levando o mundo “ao limite”, especialmente os mais pobres. Para ele, é necessário que haja “liderança”, ação agressiva e união nacional.
O chefe da OMS citou como, apesar da crise, países como a Itália, Espanha e Coreia do Sul mostraram que a doença “ainda pode ser colocada sob controle”.
Cloroquina e Bolsonaro
Questionado pela coluna, o chefe da OMS voltou a alertar que a agência recomenda que o uso de cloroquina só seja realizada sob intensa supervisão médica e voltou a dizer que não existem sinais de que o remédio reduza a mortalidade.
Desde que anunciou que está contaminado pela covid-19, o presidente Jair Bolsonaro vem postando imagens nas quais ele toma o remédio e diz “confiar” na droga. Ele ainda insistiu que o remédio tem um efeito praticamente imediato, sem qualquer evidência científica para chegar a essa conclusão.
Para Ryan, não há como comentar casos específicos e indicou que cabe ao médico tomar a decisão. Mas voltou a indicar que, do ponto de vista da OMS, as evidências não indicam benefícios para pacientes hospitalizados.
“Mas aí cabe aos médicos. Apenas podemos dizer o que vemos de estudos e cabe às agências reguladoras nacionais avaliar”, indicou.
Fonte: UOL.