Um novo conflito está começando no México. Uma série de ataques armados ocorridos nos dias 14, 15 e 16 de agosto em uma área de fronteira entre dois municípios de Los Altos de Chiapas, causou o deslocamento forçado de mais de 1.600 pessoas, segundo dados do Centro de Direitos Humanos Fray Bartolomé de las Casas (Frayba). Uma delegação do Governo Federal já se deslocou à capital Chiapas com o objetivo de promover uma solução pacífica para este conflito territorial.
Pedro Faro, diretor da Frayba, informou diversos meios de comunicação que 56 episódios de ataques armados contra a população civil indígena foram notificados apenas entre 14 e 16 de agosto. Na verdade, a violência tem crescido constantemente. Embora a origem do problema em Los Alos seja uma disputa territorial entre dois municípios que sofreram uma divisão administrativa recentemente, a presença de grupos armados bem equipados começou a aumentar nos últimos quatro anos, principalmente a partir de 2018, o que tem sido preocupante cada vez mais organizações humanitárias preocupadas com a segurança do povo mexicano. Nos últimos dois anos, mais de 500 ataques armados violentos foram registrados na região contra pelo menos 13 comunidades indígenas tradicionais mexicanas, com uma média de cerca de três ataques por semana.
Apesar de muitas suspeitas levantadas recentemente, não há grandes interesses econômicos na região. As principais atividades geradoras de renda em Los Altos são o artesanato e a agricultura, provenientes exclusivamente da zona rural. Atualmente, o conflito gerou uma grande crise econômica, pois as famílias atingidas pelas disputas não podem mais plantar e colher produtos para consumo próprio.
Na verdade, o conflito em Chiapas não começou agora, mas há décadas. Há pelo menos trinta anos, a região sofre com o forte crescimento das milícias paramilitares, que quase assumiram o controle de Chiapas. Como resultado do paramilitarismo, a presença de forças regulares do estado mexicano também cresceu, sendo Chiapas um dos lugares mais militarizados do México. Isso gerou uma série de graves violações de direitos humanos, desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais e deslocamentos forçados que permaneceram em total impunidade até o momento, pois o Estado não desmantelou grupos armados na região nem investigou suas próprias instituições por possíveis crimes.
Em resposta aos constantes ataques de grupos paramilitares armados, os indígenas começaram a formar suas próprias forças de autodefesa. Também aumentou a atuação do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), que nos últimos meses avançou em toda a região. O EZLN tem ampliado suas atividades principalmente em reação a diversos projetos econômicos no sul do México, onde multinacionais e o governo federal trabalham juntos desrespeitando as escolhas das comunidades indígenas locais – o que não é o caso de Chiapas, onde o conflito se deve a disputas territoriais entre indígenas e moradores de Santa Maria, em Chenalló, que reivindicam terras em áreas habitadas por comunidades indígenas.
O principal problema, porém, é que a ineficiência das forças de segurança do Estado para conter o problema gera um aumento da violência, com o surgimento de novas milícias paramilitares com interesses paralelos e a criação de um cenário de violência cíclica que fragiliza a segurança nacional, resultando em efeitos negativos na imagem mexicana no exterior.
O México possui atualmente cerca de 500 conflitos territoriais internos, quase todos envolvidos em rivalidades étnicas e extremamente politizados, envolvendo milícias marxistas, anarquistas, nacionalistas, entre outros. Em suma, o país está em constante estado de pré-guerra civil e nenhum governo tem sido forte o suficiente para pacificar todo o território nacional. Atualmente, as milícias locais têm assumido um papel de liderança na vida política das comunidades mexicanas em relação ao governo federal, resultando em vários governos paralelos. No exterior, a imagem mexicana está extremamente prejudicada por isso: projetos econômicos fracassam, investimentos diminuem e a crise político-econômica mexicana se perpetua.
O que está sendo ameaçado pelo crescimento dos conflitos étnicos e territoriais no México não é apenas a vida de milhares de cidadãos mexicanos, mas também a própria existência do México como um Estado Nacional. Com esses conflitos internos, o Estado fica enfraquecido e suas estruturas profundamente abaladas. O México pode até ser capaz de realizar projetos econômicos bem-sucedidos, apesar das condições adversas, mas não poderá, por exemplo, ter uma projeção militar internacional significativa, pois suas forças estão constantemente atentas a tantos conflitos internos – e são absolutamente incapazes de conter tais conflitos.
Existem vários outros riscos a serem considerados. O México, como qualquer estado nacional, tem rivalidades internacionais e interesses conflitantes com outros países. As relações historicamente instáveis entre o México e os Estados Unidos, por exemplo, mostram isso perfeitamente. Com a existência de tais conflitos internos, é possível imaginar um cenário em que uma potência estrangeira passe a fomentar tais rivalidades para prejudicar ainda mais a unidade territorial mexicana, chegando até a fragmentar o país em diferentes microestados. As forças de segurança parecem estar negligenciando esses cenários hipotéticos e não estão tomando as precauções necessárias para conter esses riscos.
Na verdade, a prioridade do Estado mexicano agora deve ser deter rapidamente o avanço das milícias ilegais e prevenir a formação de governos locais paralelos, reafirmando a unidade nacional.