O Dia de Todos os Santos, data tradicional do calendário católico e feriado na França, é celebrado sob alta segurança neste domingo (1°), após o ataque terrorista na basílica de Notre Dame de Assunção, em Nice, na última quinta-feira (29). A vigilância foi reforçada nas igrejas de todo o país.
Os católicos da França participam neste domingo de missas em homenagem às vítimas do atentado de Nice, no sul da França, que deixou três mortos, entre eles, a brasileira Simone Barreto Silva. Um imenso dispositivo de segurança foi mobilizado para proteger as igrejas de todo o país.
Em Nice, na presença de militares fortemente armados, os fiéis compareceram em grande número às missas do Dia de Todos os Santos. A data, um dos pontos altos do calendário católico no país, homenageia todos os mártires, conhecidos ou não. Dia 1° de novembro também é a ocasião em que os franceses levam flores aos mortos nos cemitérios.
“Estava apreensiva, fiquei com medo de vir”, afirma a católica Claudia, de 49 anos, ao chegar na igreja do Voeu, neste domingo. “Mas é preciso mostrar que não temos medo, que estamos aqui”, reitera.
Encorajando os fiéis a assistirem as missas, o prefeito de Nice, Christian Estrosi, anunciou que vai participar de uma cerimônia na noite deste domingo, na basílica de Notre Dame de Assunção, palco do atentado de quinta-feira. Apesar do novo lockdown nacional, determinado na semana passada, os locais de culto obtiveram autorização para manter suas portas abertas até segunda-feira (2). Após as comemorações do feriado católico, as missas serão suspensas até ao menos 1° de dezembro.
Liberdade de expressão
“É preciso mostrar aos outros que permanecemos de pé! Nossa liberdade de expressão é justamente abrir nossas igrejas onde proclamamos que nossa fé é uma mensagem de amor”, declarou o bispo de Nice, monsenhor André Marceau, em uma entrevista ao jornal Nice Matin.
Pedindo aos muçulmanos para “tomarem medidas” contra o extremismo, ele afirmou que não está de acordo com a postura do jornal satírico Charlie Hebdo, que republicou recentemente caricaturas de Maomé. Outros religiosos franceses também colocaram em dúvida, nos últimos dias, a necessidade destas charges e os limites da liberdade de expressão.
Após a decapitação, em outubro, do professor Samuel Paty, que mostrou os fatídicos desenhos de Maomé a seus alunos durante uma aula, o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que a França “não renunciará às caricaturas”, suscitando manifestações e pedidos de boicote de produtos franceses em vários países muçulmanos.
No sábado (31), em entrevista ao canal de TV Al-Jazeera, o chefe de Estado tentou acalmar os ânimos, afirmando que compreende que os muçulmanos possam “se chocar” com essas charges, mas que elas não justificam nenhum tipo de violência.
Investigações em Nice e Lyon
Em Nice, os investigadores anunciaram na manhã deste domingo que mais duas pessoas foram presas para interrogatório, um homem de 25 anos e outro de 63 anos. Outros quatro indivíduos, detidos nos últimos dias e suspeitos de terem envolvimento no atentado, continuam sendo interrogados pela polícia.
O serviço antiterrorismo da França tenta determinar se o agressor, Brahim A., tunisiano de 21 anos, teve cúmplices para a realização do ataque. A análise dos dados de dois celulares que o terrorista carregava em uma bolsa e as investigações na Tunísia “serão determinantes”, afirmou uma fonte que acompanha as investigações.
O primeiro-ministro tunisiano, Hichem Mechichi pediu que os ministros do Interior e da Justiça do país cooperem plenamente com as autoridades francesas. O agressor, que tinha antecedentes criminais por violência e consumo de drogas na Tunísia, deixou sua cidade natal, Sfax, em meados de setembro. Ele viajou clandestinamente à Europa, passando primeiro pela ilha italiana de Lampedusa, e em seguida desembarcou em Bari, no sul da Itália, em 9 de outubro. De acordo com os investigadores, Brahim A. chegou em Nice dois dias antes do atentado.
Padre baleado em Lyon
O chefe da Igreja Ortodoxa da Grécia, o monsenhor Iéronymos, denunciou no sábado (31) o ataque em uma igreja de Lyon, no centro da França. “Esse horror ultrapassa a lógica humana, que uma religião possa armar terroristas cegos de ódio”, afirmou à agência de notícias grega Ana.
Na tarde de sábado, o padre ortodoxo grego Nikolaos Kakavelakis foi gravemente ferido a balas. Ele segue internado neste domingo. Uma pessoa foi detida e a motivação do suspeito ainda não foi divulgada pelas autoridades. “Neste estado, nenhuma hipótese está descartada, nem privilegiada”, declarou o procurador de Lyon, Nicolas Jacquet.
Fonte: RFI.