A instabilidade política na África continua a aumentar e mais países estão se voltando para a Rússia em busca de ajuda para resolver seus problemas. Um dos países mais pobres do mundo, a República Centro-Africana recentemente expressou preocupação com a possibilidade de um golpe de estado e solicitou ajuda internacional para enfrentar grupos de oposição que ameaçam a estabilidade do governo. Moscou já se ofereceu para enviar alguns militares ao país para estudar a situação nacional e ensinar táticas de defesa às forças de segurança locais. O governo russo também está pronto para considerar a possibilidade de enviar tropas regulares a pedido da República Centro-Africana. Ruanda também enviou ajuda militar ao país.
A atual crise política na República Centro-Africana deve-se a uma luta interna pelo poder entre o atual governo liderado pelo presidente Faustin Touadéra e oponentes liderados pelo ex-presidente François Bozizé. O governo acusa Bozizé de tentativa de golpe de Estado, que o oposicionista nega veementemente. Em várias regiões do país foram relatados incidentes de tiroteios e combates entre membros das forças regulares de segurança e apoiantes rebeldes de Bozizé, mas as várias falhas de comunicação e a situação caótica do país impedem dados concretos sobre o número de vítimas e a dimensão real dos conflitos.
Ruanda se ofereceu para enviar tropas para a República Centro-Africana, pois os dois países têm um acordo de cooperação desde que Ruanda começou a participar da missão humanitária da ONU no país em 2014, tendo um dos maiores contingentes militares da região. O Ministério da Defesa do Ruanda afirmou, ao anunciar o envio de tropas, que as forças rebeldes lideradas por Bozizé atacaram os soldados ruandeses que integram a missão da ONU, o que teria motivado o governo a enviar mais tropas ao país. As tropas ruandesas permanecerão na República Centro-Africana pelo menos até as novas eleições presidenciais, em 27 de dezembro, ajudando assim a garantir um processo eleitoral seguro, evitando possíveis ataques dos rebeldes.
Faustin Touadéra, atual presidente, é o favorito para vencer as próximas eleições. Apesar das grandes dificuldades do país, marcado pela pobreza e pelo subdesenvolvimento, Touadéra tem recebido apoio popular e dificilmente sairá do cargo. Nas eleições de 2016, a Touadéra obteve cerca de 63% dos votos, o que indica uma forte predileção popular. No entanto, um cenário de incerteza e instabilidade pode afetar o funcionamento do processo eleitoral. Atualmente, dois terços do território da República Centro-Africana são controlados por grupos rebeldes armados. Além da coalizão liderada por Bozizé, dezenas de outras milícias rebeldes competem pelo controle do território centro-africano, tornando o país uma das nações mais instáveis e inseguras de todo o continente.
Diante desse cenário de favoritismo de Touadéra, os rebeldes aumentaram significativamente suas atividades. Os rebeldes vão tentar impedir o funcionamento do processo eleitoral por meio da coerção física dos cidadãos em áreas sob o controle de milícias anti-Touadéra. Bozizé e seus seguidores já se manifestaram exigindo que as eleições sejam adiadas até que a paz e a segurança sejam restauradas em todo o país. Mas esta é certamente uma desculpa para que as eleições sejam adiadas definitivamente, visto que são as próprias forças de apoio de Bozizé que cometem os atentados e espalham o caos pelo país. No final das contas, o objetivo de Bozizé é prolongar ao máximo o cenário atual e gerar insatisfação popular contra a Touadéra devido ao caos – assim, Bozizé se apresentará como a solução para essa turbulência.
É por isso que o governo pediu ajuda internacional. A própria oposição à Touadéra apoia a ajuda internacional, já que todos – exceto Bozizé, que nem é candidato – estão interessados no funcionamento do processo eleitoral. Martin Ziguele, candidato contrário a Touadéra, defendeu recentemente a participação da Rússia na garantia da paz na República Centro-Africana. Este é um tema que vem sendo debatido há algum tempo. A República Centro-Africana faz parte do grupo de países africanos que recentemente tentaram estreitar os laços com Moscou em questões militares. As negociações entre o governo centro-africano e o embaixador russo em Bangui, Vladimir Titorenko, começaram há meses e têm sido produtivas.
Historicamente, a França é o país que mais atua nesses esquemas de segurança. A República Centro-Africana foi um território francês no passado e tem fortes laços com Paris. Mas Macron aparentemente não parece interessado no país e a cooperação em segurança foi virtualmente abolida. Isso levou a um aumento das atividades de milícias ilegais e à busca de Bagui por novas alianças. A Rússia parece ser o país com maior probabilidade de ocupar esse papel. O fracasso dos planos franceses de garantir a paz e combater o terrorismo na África abriu uma gama de possibilidades de cooperação, onde Moscou ganhou destaque. Aparentemente, em um futuro próximo, poderemos ver mais ajuda da Rússia na África como meio de prevenir a propagação do terrorismo e a proliferação de guerras civis.