Artigo foi descoberto em uma caverna perto do mar Morto e, segundo seu dono original, pode ter estado nas mãos do próprio profeta Moisés. Foi considerado falso pelo Museu Britânico, mas pesquisador reconhece sua autenticidade.
O pergaminho de Shapira, suposto manuscrito bíblico vendido por um colecionador ao Museu Britânico no final do século XIX, mas depois descartado como falso e mais tarde perdido, pode ter sido o fragmento mais antigo da escritura já descoberto, é o que afirma um estudo publicado na quarta-feira (10) na revista alemã Zeitschrift fur die alttestamentliche Wissenschaft (Revista de Estudos do Antigo Testamento).
O artefato, que consistia em 15 tiras de couro com um texto paleo-hebraico quase ilegível por estar coberto por uma substância escura, foi encontrado em 1883 em uma caverna perto do mar Morto. Ele foi comprado por Moses Willhelm Shapira, um negociante de antiguidades da Polônia baseado em Jerusalém. Saphira chegou a vender artigos genuínos para museus e colecionadores europeus, mas também objetos falsos.
O conteúdo dos fragmentos em questão corresponderia ao livro de Deuteronômio, com menos leis e mais narrativa histórica sobre as palavras de Moisés dirigidas aos israelitas.
Além disso, havia a possibilidade de um 11º mandamento: “Não odiarás teu irmão em teu coração: sou Deus, seu Deus.”
Shapira, que alegou que o objeto era o manuscrito original de Deuteronômio que possivelmente estava nas mãos do próprio profeta Moisés, ofereceu-o ao Museu Britânico por 1 milhão de libras esterlinas (equivalente a mais de 670 milhões de reais, na cotação atual).
No entanto, depois de expor dois dos fragmentos ao público por um curto período, os especialistas concluíram que o pergaminho era uma falsificação. O evento arruinou a reputação de Shapira, que fugiu de Londres. O objeto foi leiloado em 1885 a preço de banana e se perdeu.
Recentemente, Idan Dershowitz, pesquisador da Universidade de Potsdam, na Alemanha, e autor da nova obra, reconstruiu o texto do Pergaminho de Shapira com base em transcrições, desenhos e outros documentos contemporâneos.
E chegou à conclusão de que as evidências linguísticas, lexicais e sintáticas, e também literárias, dão a entender que o objeto seja mesmo datado do século X a.C., confirmando, assim, sua autenticidade.
Desse modo, o manuscrito de Shapira ultrapassaria na antiguidade até os manuscritos de Qumran, criados entre 250 a.C. e 66 d.C., sendo, portanto, os textos bíblicos mais antigos conhecidos até agora.
Dershowitz chama a perda do Manuscrito de Shapira de “uma tragédia” para a disciplina de estudos bíblicos, embora ele espere que um dia pelo menos alguns de seus fragmentos reapareçam.