Após surto viral em competição de saltos a cavalo na Espanha em fevereiro, pelo menos 17 animais morreram e outros foram submetidos a abortos ou precisaram de cirurgia para reparar danos em órgãos. Federação Internacional de Esportes Equestres cancelou todos os eventos europeus até meados de abril.
No final do mês passado, após uma competição internacional de salto a cavalo em Valência, na Espanha, um surto viral adoeceu dezenas de cavalos. Pelo menos 17 animais morreram, outros foram submetidos a abortos ou precisaram de cirurgia para reparar danos em órgãos. Muitos cavalos exibiram um comportamento agressivo incomum após a infecção.
Antes que os pesquisadores pudessem identificar a causa do surto – um patógeno conhecido chamado herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1), uns 600 dos 750 cavalos que participaram do evento já estavam indo para casa, ameaçando espalhar o que as autoridades já chamam de “o maior surto de EHV-1 na Europa em décadas”.
Em uma tentativa de conter os danos, a Federação Internacional de Esportes Equestres (FEI, na sigla em inglês), que supervisiona as competições equestres internacionais, cancelou todos os eventos europeus, incluindo a Copa do Mundo, pelo menos até meados de abril. Os proprietários de cavalos, por sua vez, estão tentando freneticamente vacinar e isolar seus cavalos.
Para os cientistas, o surto levantou uma série de questões. Eles estão examinando por que o EHV-1, um vírus familiar que normalmente produz sintomas mais brandos, parece ter atingido esses animais, especialmente as éguas, de maneira incomum. Há suspeita de que a própria vacina contra o EHV-1 pode ter desempenhado um papel na infecção anormal.
“Nossa prioridade deve ser lidar com o impacto imediato desse terrível vírus”, disse Goran Akerstrom, diretor veterinário da FEI, à Science.
Os pesquisadores dizem que as condições da competição de um mês, realizada em Valência, Espanha, eram propícias para um surto de EHV-1, que se espalha principalmente por gotículas exaladas. Os cavalos foram alojados em baias apertadas, o que pode ter facilitado a transmissão.
“Tudo o que é necessário é que um cavalo portador de um vírus latente tenha algum tipo de estresse e seu vírus seja ativado e comece a se espalhar”, diz o especialista em doenças equinas Lutz Goehring, da Universidade de Munique Ludwig Maximilian.
Após o evento, animais doentes logo lotaram um hospital equino e os veterinários exaustos tratavam até 20 animais simultaneamente, com muitos cavalos içados em fundas, literalmente pendurados entre a vida e a morte. “Acho que entendo mais como tem sido para os médicos [da linha de frente contra COVID-19]”, diz Álvarez.
Infecções ativas geralmente causam febre e doenças respiratórias leves, às vezes aborto. Uma variante especialmente preocupante, conhecida como tipo 1, pode causar sérios danos neurológicos, tornando os cavalos instáveis ou incapazes de ficar em pé. Ocasionalmente, isso os mata. A maioria dos surtos afeta apenas um punhado de cavalos antes que uma fazenda seja colocada em quarentena e desinfetada.
Em situações normais, menos de 15% dos animais infectados exibem sintomas neurológicos. Mas em Valência até 40% dos cavalos doentes mostraram sinais de danos neurológicos, disse Álvarez. Cerca de 80% dos casos mais graves de Valência envolveram éguas.
Os pesquisadores também estão examinando se a vacina EHV-1, que requer doses de reforço a cada seis meses, pode ter influenciado o surto. O grupo de trabalho da FEI está coletando registros de vacinação, bem como dados de infecção e sintomas, na esperança de esclarecer tais questões e desenvolver melhores maneiras de tratar e prevenir surtos futuros.