Para especialista, o grupo enfrenta questões que o faria pensar duas vezes antes de entrar no conflito, e isso significaria que um enfrentamento em grande escala com Israel estaria, por enquanto, fora de questão.
O embate entre Israel e a Faixa de Gaza segue violento desde o dia 10 de maio, quando os primeiros foguetes foram disparados, porém, nessa quarta-feira (19), o confronto contou com foguetes provenientes de uma terceira região, o sul do Líbano.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram que quatro foguetes foram lançados de território libanês. Um foi interceptado pelo sistema de defesa antiaérea Cúpula de Ferro, um caiu em um campo aberto e outros dois caíram fora da costa de Israel no mar Mediterrâneo.
Até agora, nenhum grupo assumiu a responsabilidade pela ação, mas Tel Aviv apontou a culpa para o Hezbollah, dizendo que responsabilizava a milícia xiita por todos os ataques vindos de solo libanês.
Mas estaria o Hezbollah realmente interessado em participar desse conflito?
De fato, o grupo tem um uma longa história de hostilidade com Israel. O mais recente confronto, ocorrido em 2006, foi um duro golpe para o Líbano. Quase 1.200 pessoas perderam a vida, 4.400 ficaram feridas e centenas de milhares foram deslocadas.
O Hezbollah teve dificuldade em se recuperar do golpe desferido pelas FDI, mas anos depois, emergiu como uma das milícias mais fortes e sofisticadas da região.
Não à toa, o Estado judeu sempre anuncia exercícios recorrentes com seu contingente das FDI em sua fronteira no sul do país, justificando tais treinamentos através da ameaça do Hezbollah.
Porém, para Eyal Zisser, vice-reitor da Universidade de Tel Aviv e um dos maiores especialistas israelenses em Irã e Hezbollah, não é hora de se apressar em culpar a milícia xiita sobre os foguetes lançados para o território judeu.
“O Hezbollah sabe que não deve provocar Israel e tem o cuidado de não nos atacar diretamente. Portanto, eles podem ter dado luz verde a um dos grupos palestinos ou até mesmo ao braço da Al-Qaeda [organização terrorista proibida na Rússia e em outros países] que opera no sul do Líbano para realizar o ataque”, disse o especialista à Sputnik.
Segundo Zisser, o grupo passa por diversas dificuldades, como problemas financeiros e adversidades que o próprio Líbano vem enfrentando.
O Irã, que supostamente fornece assistência monetária ao Hezbollah, cortou seu financiamento à milícia em 40% devido a uma queda dramática nos preços do petróleo.
Já o Líbano, se encontra em meio a graves dificuldades. Primeiro, o país foi abalado por protestos, com alguns culpando o Hezbollah pela turbulência. Em seguida, houve a pandemia do coronavírus e profunda crise política, o que gerou mais frustração.
A crise é tão forte, que pela primeira vez na história, a União Europeia (UE) começou a preparar sanções contra Beirute pelo colapso socioeconômico gerado pelo atual governo, conforme noticiado no dia 12 de maio.
Diante deste quadro, o especialista acredita que o grupo tem outros problemas mais críticos para se preocupar, e não estaria focado em ajudar a enfraquecer o lado israelense no conflito, apesar de ser apoiador declarado da causa palestina.
“É claro que o Hezbollah continuará a falar sobre resistência. Mas eles têm muitos problemas próprios. E porque estão preocupados com eles, é provável que não façam nada”, disse Zisser.
No entanto, se as coisas saírem do controle e o grupo acabar atacando Israel, o especialista israelense tem certeza que Tel Aviv será capaz de resistir ao ataque. “Israel tem um Exército forte. É mais forte do que o Hamas e o Hezbollah juntos. Não queremos um confronto com eles, mas se formos pressionados contra a parede, podemos simplesmente não ter escolha”.
Até agora, mais de 220 palestinos faleceram, incluindo 64 crianças, e cerca de 1.500 pessoas ficaram feridas em consequência do conflito. Em Israel, 12 pessoas faleceram, incluindo duas crianças, e cerca de 50 ficaram feridas.