O comitê de emergência da OMS soa o alerta sobre a crise sanitária e aponta que está “profundamente preocupada” com a narrativa e percepção de que a pandemia da covid-19 está chegando ao fim ou caminhando para ser controlada.
A declaração ocorre no momento em que a Europa e EUA reabrem suas economias e sociedades, e diante de uma pesquisa no Brasil conduzida por Datafolha que revela que mais da metade da população avalia que a pandemia está em parcialmente controlada (53%) ou totalmente controlada (5%). Para 41%, ela está fora do controle, e 1% não sabe.
O comitê, que foi responsável por declarar a emergência global em janeiro de 2020, insiste que os casos no mundo continuam a aumentar e pede que eventos de massa sejam evitados. Hoje, são mais de 4 milhões de mortos.
O recado vem dias depois da conclusão da Eurocopa, fortemente criticada pela OMS pela viagem de torcedores e estádios lotados. Se um evento tiver de ocorrer, o comitê insiste que medidas sanitárias precisam ser implementadas com rigor.
A conclusão do Comitê foi claro: “a situação não é boa”. “18 meses depois da emergência, ainda estamos corremos atrás do virus”, disse. Para o grupo, estados precisam continuar a seguir a ciência e adotar medidas de distanciamento social, principalmente diante do surgimento de novas variantes mais transmissíveis.
Outra recomendação se refere à vacinação. O comitê da OMS quer que 10% da população de cada país do mundo seja imunizada até setembro. Mas, para isso, uma das preocupações se refere às propostas de países ricos de dar uma terceira dose das vacinas para proteger suas populações contra variantes.
“Precisamos ser cautelosos. Não podemos aumentar a desigualdade no acesso à vacina. Vários países consideram uma terceira dose, sem justificativa científica”, disse o comitê. Israel já fala abertamente sobre uma terceira dose, enquanto a Alemanha também sinaliza nessa direção.
Entre as recomendações da OMS está o aumento do acesso às vacinas aos países mais pobres, além de suspender patentes. A agência lamenta que apenas uma empresa mergulhou no caminho de transferir tecnologia, no caso a AstraZeneca, enquanto as demais não atenderam aos apelos internacionais.
Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, também soou seu alerta. “Estamos num momento crítico. Os casos aumentam pelo mundo”, disse. Segundo ele, a preocupação é de que existe um sentimento entre certas comunidades de que a pandemia está chegando ao final. “A pandemia não está nem perto do final”, alertou.
Jens Spahn, ministro da Saúde da Alemanha, que anunciou novas doações para a OMS, também confirmou. “A pandemia não acabou”, disse. Hoje, Berlim é o maior doador de recursos para a entidade.
China precisa ser mais transparente
Tanto a Alemanha como a OMS, porém, insistem que as pesquisas precisam continuar na busca das origens do vírus. Uma missão internacional foi enviada para Wuhan. Mas, segundo a agência, aquilo foi apenas o começo e a China terá de ser mais transparente. “Devemos uma resposta às vítimas e para evitar novas pandemias”, disse Tedros.
Um dos obstáculos tem sido o bloqueio aos dados brutos sobre o início da doença, na China. Tedros também voltou a alertar sobre a situação do laboratório de Wuhan, apontado por alguns como um potencial local de difusão do vírus, sem que qualquer prova exista nesse sentido.
Se no início do ano Tedros rejeitava a ideia de um acidente em laboratório que teria liberado o vírus, agora seu discurso é diferente. “Trabalhei em laboratórios. Acidentes ocorrem, eu vi e eu fiz erros”, disse. Para ele, se o mundo tiver acesso aos dados da China, tal hipótese pode ser excluída. “Precisamos saber de onde o vírus vem”, completou o ministro alemão.
Fonte: Uol.