Um relatório da União Europeia (UE) divulgado nesta terça-feira (9) revelou que a pandemia de covid-19 “reacendeu” a retórica antissemita e abriu espaço para “novos mitos e teorias conspiratórias”, culpando a comunidade judaica de toda a Europa pela atual emergência sanitária.
“O antissemitismo aumentou durante a pandemia, especialmente na internet”, informou a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA), no estudo realizado com base em estatísticas e dados de organizações civis.
O texto informa que o fenômeno está sendo acompanhado por toda a União Europeia e, “embora os bloqueios e medidas restritivas anti-covid possam ter levado a uma contenção fisiológica de episódios antissemitas em espaços públicos, a proliferação de conspirações online mostra como o número de incidentes registrados não é indicativo da situação”.
De acordo com o estudo, em muitos países, “a grande maioria dos incidentes não é relatada, nem à polícia nem a qualquer outra instituição”. Na verdade, as pesquisas realizadas mostram que os ataques contra os judeus são altamente subestimados e que o ódio na web, incluindo o antissemitismo, está firmemente enraizado nas sociedades europeias.
Na Alemanha, uma rede de associações observou que, nos primeiros meses da pandemia, 44% dos incidentes antissemitas registrados foram “associados ao coronavírus”. Além disso, em 2020, o país teve o maior número de crimes com motivação política e antissemita em toda a Europa (2.351).
Segundo o relatório, os dados podem significar que na Alemanha tem um sistema mais eficaz de detecção de casos do tipo, não necessariamente que o país seja o mais afetado. O mesmo se aplica à Itália, que com 101 episódios identificados pelo Observatório de segurança contra atos de discriminação (Oscad), com base em investigações conduzidas pela Polícia Estadual e pelos Carabineiros, ocupa o quarto lugar, depois da Alemanha, Holanda (517) e França (339). Dos casos denunciados pelo Oscad, 86 enquadram-se no crime de incitação à violência.
Pelo contrário, em alguns países, como a Grécia e a Hungria (dados não oficiais), o número de incidentes antissemitas diminuiu, mas o problema permanece o mesmo em toda a Europa, conforme a agência. O estudo alerta ainda que não apenas as vítimas e testemunhas devem ser encorajadas a relatar esses incidentes, mas as autoridades devem ter sistemas que permitam o registro e a comparação de tais casos.
“Os protagonistas políticos, tanto a nível da UE como dos Estados-membros devem partilhar este compromisso para que o antissemitismo seja combatido de forma eficaz”, conclui. Para o vice-presidente da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, durante a pandemia de covid “a comunidade judaica foi uma das comunidades mais atacadas”.
“Nós os vimos ultrajantemente e falsamente acusados de criar o vírus, e as medidas de saúde pública foram comparadas a medidas que levaram ao extermínio da maioria dos judeus europeus, banalizando o Holocausto. Esta estratégia de luta é a nossa resposta”, afirmou Schinas.
A UE apresentou a sua primeira estratégia contra o antissemitismo em outubro, com o objetivo de combater o ódio na Internet, reforçar a proteção das sinagogas e promover a transmissão da história do Holocausto.
Em mensagem publicada no Twitter, o papa Francisco afirmou que a ameaça do antissemitismo, encontrada na Europa e também em outros lugares, “é um estopim que deve ser apagado”. “Empenhemo-nos em promover uma educação para a fraternidade, a fim de que não prevaleçam os surtos do ódio que a querem destruir”, escreveu o Pontífice.
Fonte: ANSA.