O porta-voz, Dmitry Peskov, também afirmou, em entrevista à CNN, que após a reunificação da Alemanha foi feita uma promessa não oficial de que a OTAN não faria nenhum tipo de expansão para o leste.
“Quando a Alemanha foi reunificada e quando a então União Soviética e o líder da União Soviética, sr. Gorbachev, concordaram com isso, houve uma promessa do lado americano. Infelizmente, não foi oficializada em um documento legalmente vinculativo. Mas existiu uma garantia de que a OTAN nunca iria expandir sua infraestrutura militar ou política para o leste”, disse Peskov.
Peskov também declarou que a Rússia considera a OTAN um instrumento de confrontação que está se aproximando das fronteiras russas.
“A OTAN, no nosso entendimento, é uma organização criada para a confrontação, não para defesa. E a OTAN não é uma pomba da paz, estabilidade e prosperidade. E essa arma de confrontação tem avançado a cada dia para cada vez mais perto das nossas fronteiras.”
O porta-voz do Kremlin disse que Moscou quer ver uma atitude séria do Ocidente quanto às preocupações da Rússia sobre avanço da OTAN. A Rússia não quer gastar um mês ou um ano com negociações em que os lados só indicam suas divergências.
“Formou-se uma situação crítica em torno das […] preocupações nacionais da Rússia. Se virmos vontade política por parte de Washington para tentar de alguma maneira considerar [as preocupações da Rússia] e discutir isso conosco, isso será uma base para continuar. Se continuarmos recebendo respostas no sentido ‘não, isso não se discute’, isso será uma razão para pessimismo”, disse.
Nas negociações realizadas na semana passada em Genebra, Bruxelas e Viena, os EUA e seus aliados rejeitaram as propostas da Rússia sobre garantias de segurança, incluindo sobre a não expansão da OTAN para o leste.
Tropas russas perto da Ucrânia é resposta à tensão
O porta-voz informou que a Rússia não está fazendo nenhum tipo de ameaça com suas operações militares, mas, caso a OTAN siga se expandindo, terá que tomar certas medidas em resposta.
“Nós vimos a gradual invasão da OTAN no território ucraniano com infraestrutura, com seus instrutores, com envio de armamentos defensivos e ofensivos, treinamentos do Exército da Ucrânia, entre outras situações. Isso nos levou à linha vermelha, uma situação que não podemos mais tolerar”, disse Peskov.
O governo da Rússia considera que, devido ao atual clima de tensão, é necessário manter tropas na região fronteiriça com a Ucrânia.
“As tropas russas estão no território da Federação da Rússia perto da fronteira com a Ucrânia, e consideramos que é necessário que elas continuem lá ante a uma situação muito tensa, atmosfera hostil, criada por diversos exercícios da OTAN, caças e aviões-espiões da OTAN, avanço da infraestrutura da OTAN até as [nossas] fronteiras”, disse o porta-voz.
A cooperação entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos Estados Unidos, Joe Biden, foi citada como esperança para que a situação envolvendo OTAN e Rússia consiga ser acalmada, mas adicionou que os resultados das negociações realizadas geram pessimismo.
“Eu acredito sinceramente que a sabedoria política de Putin e de Biden é uma ótima base para a continuidade das tentativas de chegarmos a um consenso”, disse o porta-voz do Kremlin à CNN.
O porta-voz também sublinhou que “a Rússia não vai discutir com ninguém a retirada de quaisquer mísseis, quaisquer armamentos de Kaliningrado, já que Kaliningrado é território da Rússia“.
Ameaça de sanções
Peskov também comentou o projeto de lei apresentado por senadores do Partido Democrata dos EUA sobre sanções contra a economia, dívida pública e altos funcionários da Rússia em caso de agressão russa contra Ucrânia. Esse passo, segundo o porta-voz do Kremlin, seria “um grande erro”. Ele destacou que sanções nunca ajudaram a resolver problemas.
“Potencialmente, sanções deste tipo podem levar ao rompimento das relações entre nossos países, o que não vai corresponder nem aos interesses de Moscou, nem aos de Washington”, disse.
Peskov sublinhou que os EUA obrigam a Rússia a viver sob sanções, mas o país responde a isso com desenvolvimento da produção nacional e da economia para compensar o déficit de peças importadas.
“Somos um país bem grande e muito, muito autossuficiente para ser vulnerável a essas sanções, vocês devem compreender [isso].”