O discurso do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, proferido por Zoom ao parlamento de Israel no domingo, 3 de março, deixou a impressão de que ele não está totalmente claro sobre o fim do jogo que deseja para acabar com a guerra com a Rússia. Uma certa inquietação está se insinuando nos corredores do poder em algumas capitais da OTAN por causa dessa falta de clareza e dúvidas sobre a agenda de Zelensky. Alguns estão começando a sugerir que se não fosse pela nuvem de incerteza que paira sobre Kiev, a invasão russa poderia ter sido evitada. Do jeito que as coisas estão agora, a crise ameaça ficar fora de controle e pode até se transformar em uma guerra mundial.
Embora ninguém tolere a decisão de Moscou de atacar a Ucrânia, alguns analistas ocidentais se perguntam se Vladimir Putin não se sentiu incitado a perseguir suas extremidades imperdoáveis pela atitude volátil de Zelanskyy. O presidente da Ucrânia está empenhado em reorganizar o equilíbrio de poder na Europa Central? Ele está tentando ditar um novo jogo para as potências mundiais? Se esse é o seu objetivo, ele está fadado ao fracasso. A Ucrânia pode ser o maior país do continente europeu em área – mas é muito fraco militar e politicamente para usar tal tática.
Zelensky conseguiu dar apoio a muitos israelenses por seu tom ofendido contra as deficiências de Israel. Ele criticou longamente o país por reter a ajuda militar e optar por não aderir às sanções da Otan, enquanto dava uma aula seletiva de história. Sua reclamação de que Israel se recusou a dar ao seu exército baterias antimísseis Iron Dome foi vista como injustificada quando a ajuda humanitária é oferecida gratuitamente. Israel não é uma potência mundial, observou seu público, e para compensar a escassez desse sistema vital para sua própria defesa, é forçado a contar com os EUA para aumentar seus estoques – mais recentemente com US$ 1 milhão em assistência. Desviar qualquer número de Cúpulas de Ferro para a Ucrânia deixaria Israel exposto a foguetes e drones em uma de suas próprias frentes, no norte ou no sul.
Invocar repetidamente o Holocausto nazista da Segunda Guerra Mundial para condenar os crimes da Rússia na Ucrânia falhou mal em um lugar onde as memórias são longas e os registros documentados precisos. Os parlamentares em Jerusalém não demoraram a lembrar a Zelensky que nos anos de 1941 a 1944, um milhão de judeus foram assassinados somente na Ucrânia pelas unidades alemãs Einsatzgruppen e seu pessoal ucraniano. Além disso, o novo Batalhão Azov nazista é hoje parte integrante da Guarda Nacional da Ucrânia.
O primeiro-ministro Naftali Bennett respondeu ao discurso de Zelensky dizendo que Israel está administrando a crise na Ucrânia de “maneira sensível, benigna e responsável”, enfatizando também que “o Holocausto não pode ser comparado a nada”. Ele disse que houve avanços nas negociações de cessar-fogo mediadas por Israel entre a Rússia e a Ucrânia, mas ainda existem lacunas “muito grandes” entre os dois lados, algumas delas em questões fundamentais. “Continuaremos, junto com outros países, tentando acabar com a guerra”, disse Bennett.
Recuando parcialmente em seus comentários críticos, Zelensky comentou mais tarde que Jerusalém é “o lugar certo para a paz”. Ele admitiu em um vídeo que publica diariamente nas mídias sociais,
“É claro que Israel tem seus interesses, uma estratégia para proteger seus cidadãos. Entendemos tudo isso”, disse o líder ucraniano. “O primeiro-ministro de Israel, Sr. [Naftali] Bennett, está tentando encontrar uma maneira de manter as negociações. E somos gratos por isso. Somos gratos por seus esforços, para que mais cedo ou mais tarde comecemos a conversar com a Rússia, possivelmente em Jerusalém”, disse ele.