Dmitry Peskov, porta-voz do presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse ontem, em entrevista à rede de TV americana PBS, que a Rússia só usará armas nucleares se houver “ameaça à sua existência”, em meio ao conflito na Ucrânia, que completa 34 dias hoje.
“Temos um conceito de segurança que afirma muito claramente que somente quando houver uma ameaça à existência do Estado em nosso país podemos usar e usaremos de fato armas nucleares para eliminar a ameaça ou a existência de nosso país”, disse ele.
Peskov esclareceu que a existência do Estado e a invasão à Ucrânia — que a Rússia chama de “operação militar especial” — são coisas separadas.
“Mas, ao mesmo tempo, se você se lembra da declaração do presidente quando ordenou a operação em 24 de fevereiro, havia uma parte de sua declaração alertando diferentes estados para não interferirem nos assuntos entre Ucrânia e Rússia durante essa operação. Ele foi muito rigoroso em seu aviso, e ele foi bastante duro com isso. E acho que todos entendem o que ele quis dizer”, continuou ele.
No início de março, Putin declarou que qualquer tentativa de interferência de outras nações no conflito teria consequências “catastróficas”.
Questionado se o presidente quis dizer que usaria armas nucleares ao dar a declaração, Peskov disse acreditar que não e completou que “ninguém está pensando em usar”.
O porta-voz do Kremlin também classificou como “bastante alarmantes” os comentários do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre Putin. No final de semana, o democrata chamou o líder russo de “carniceiro” e disse que ele “não deve permanecer no poder”.
“Em primeiro lugar, é um insulto pessoal. E dificilmente se pode imaginar um lugar para insultos pessoais na retórica de um líder político, e especialmente de um líder político do maior país do mundo, os Estados Unidos. Então, sentimos muito por isso. E sua declaração envolve se Putin não deveria ou deveria estar no poder na Rússia. Claro, é completamente inaceitável. Não cabe ao presidente dos Estados Unidos decidir quem vai ser e quem é o presidente da Federação Russa. É o povo da Rússia que está decidindo durante as eleições.”
Peskov negou que os militares russos tenham civis como alvos na Ucrânia e disse que os bombardeios visam apenas a infraestrutura militar do país. Pelo menos 1.151 civis foram mortos em ataques armados na guerra, incluindo 103 crianças, de acordo com o último relatório do Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos divulgado ontem.
Questionado se a Rússia vai cortar suas exportações de gás para a Europa caso os países se recusem a pagar o produto em rublos, Peskov disse não saber o que vai acontecer.
“Assim que tivermos a decisão final, vamos ver o que pode ser feito. Mas, definitivamente, não vamos fazer disso uma caridade e enviar gás gratuitamente para a Europa Ocidental.”
Fonte: UOL.