“E ouvireis de guerras e de rumores de guerras;…” Mateus 24:6
11 de agosto de 2019.
Chanceler israelense ressaltou a importância da melhoria das relações com Estados árabes. Em entrevista à Sputnik, o doutor Hassan Nafaa, professor da Universidade de Cairo, analisa a situação.
Em uma declaração no Knesset, o chanceler israelense Israel Katz disse que no momento a prioridade de seu país é a reaproximação com os países árabes, noticiou o site Ona.az.
Perguntado pela Sputnik, o professor de Ciências Políticas Hassan Nafaa comentou a afirmação do ministro de Israel.
“Isso tem sido um objetivo de Israel a longo prazo. O país tem trabalhado para normalizar suas relações com os países árabes, em especial os do golfo Pérsico, mas o país não está pronto para pagar o preço, ou seja, alcançar um acordo com o povo palestino”, disse Nafaa.
O professor acrescentou que em 2002, durante a cúpula árabe em Beirute, a Arábia Saudita propôs a paz com o Estado judeu caso Israel retirasse suas tropas dos territórios árabes ocupados e cooperasse na criação de um Estado palestino independente. No entanto, Israel nunca esteve pronto para tal passo.
Nafaa afirma que foi uma tarefa difícil convencer os Estados do golfo Pérsico que o Irã deveria ser encarado como inimigo e os colocar no mesmo lado de Israel.
“Deu muito trabalho para convencer os Estados árabes do golfo Pérsico a encararem o Irã como o verdadeiro inimigo e que Israel estaria pronto para cooperar com eles contra esta ameaça. Eu acho que Israel deverá ter sucesso agora, visto que os países árabes do Golfo têm tentado melhorar suas relações com Israel nos últimos três ou quatro anos”, disse o professor.
Um fator importante na reaproximação de Israel com os países árabes tem sido a relação entre Tel Aviv e Washington. A amizade entre o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e o presidente norte-americano Donald Trump facilita uma ação conjunta com os países árabes contra o Irã. No entanto, o professor Nafaa explicita algumas implicações do triângulo EUA – Israel – Estados árabes.
“Por vezes Israel exagera o nível de normalização que foi atingido. No entanto, é um fato que conversações secretas estão sendo mantidas com a Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes e muitos outros. Mas não é claro se tais negociações levaram a um acordo sobre como lidar com o Irã e sobre a questão palestina […] Se houver um ataque militar e Trump aprovar esse ataque, então acredito que alguns países árabes irão cooperar com Israel, especialmente a Arábia Saudita e os EAU […] Caso contrário […] se Trump se concentrar nas próximas eleições, as coisas vão esfriar e nada vai acontecer a esse respeito”, disse o professor.
Em setembro deste ano, Israel terá eleições parlamentares. Para alguns especialistas, tais eleições serão as mais difíceis do século. Perguntado sobre a influência delas no relacionamento do país com os Estados árabes, o professor disse acreditar que as eleições não deverão ter algum efeito em especial.
“Israel tem se deslocado para um governo de extrema-direita e isso não deverá mudar no momento, a não ser que tenhamos uma grande surpresa nas eleições, o que eu não acredito. Sendo assim, as coisas vão continuar como estão. O elemento mais decisivo na melhoria dos laços com os países árabes será a questão iraniana, quer haja um ataque ou não. Israel tem sido o principal apoiador de uma mudança de regime no Irã e tem estado por trás de tudo o que está acontecendo entre os EUA e o Irã“, disse Nafaa.
Por último, o professor disse sobre como os Estados do golfo Pérsico deverão reagir aos objetivos da reaproximação de Israel.
“Os países do Golfo não são iguais. Quero dizer, a Arábia Saudita e os EAU estão de um lado […] mas Omã é diferente e o Kuwait é diferente. Já o Bahrein é um Estado dependente – não possui uma política externa independente, estando ela ligada com a saudita. Portanto temos que ver, você entende que há polarização entre o Qatar e alguns Estados do Golfo. Eles estão profundamente divididos e os EUA tentam tirar proveito disto […] Então eu não sei se um ataque militar contra o Irã uniria os países do Golfo para enfrentar o Irã ou não. Parece-me que a divisão entre eles é mais profunda”, disse o professor.
Fonte: Sputnik