10 de fevereiro de 2015.
“Nós podemos compartilhar os mesmos genes com pais e irmãos, sem que os nossos hábitos consumidores sejam iguais. Sozinhos em nossos quartos, as estratégias de marketing são direcionadas para os percebidos ‘traços de caráter’ (individual) e a programação é encarregada de reforçá-los. Como resultado, membros de uma família perdem contato uns com os outros, mesmo que vivam debaixo do mesmo teto.” Inter-Personal Divide: The Search For Community in a Technological Age – Michael Bugela.
O uso da TV, computadores, tablets e smartphones têm aumentado o tempo que passamos olhando para as ‘telas’ desses aparelhos, e diminuído o tempo que passamos olhando uns para os outros. Via ‘redes sociais’ ficamos inteirados acerca do que os nossos amigos e familiares estão fazendo e, por isso, julgamos ter relacionamentos responsáveis. Mas, a realidade é que: em nome da conveniência estamos abandonando a convivência.
Os ‘canais educativos’ entram, exatamente, no espaço vazio deixado pela falta de convivência entre pais e filhos. Esses ‘canais educativos’ são convenientes para os pais ou responsáveis, que se acham cansados demais para brincar com seus filhos. Sei das pressões do mercado de trabalho, e também sou tentado a dar o controle-remoto para os meus filhos, deixando-os livres para assistirem o que quiserem no Discovery Kids, Nickelodeon, Gloob, etc.
Mas um dia, os meus filhos estavam me chamando de ‘papai bobinho’, e eu não sabia o porquê. Então, decidi investigar e cheguei ao desenho da Peppa, que é a filha mais velha de uma família de porquinhos. Sabe qual foi a minha surpresa? Descobri que, por várias vezes, a Peppa dirigia-se ao pai com a expressão: “Que papai bobinho!” Tudo bem, talvez, ela realmente quisesse dizer: “Que papai engraçado!”, mas não era assim que a Peppa falava. Nesse ponto, alguém poderá pensar que estou sendo muito radical com um desenho tão inocente e familiar. Mas, será? Tenho minhas dúvidas, pois, frequentemente, a figura do pai é retratada, no desenho, como um ‘apêndice dispensável’, porque ele é atrapalhado e sem assertividade.
Não gostaria que os meus filhos me vissem assim. Por isso, precisamos estar atentos, enquanto pais, porque a responsabilidade de educá-los é nossa, e não dos‘canais educativos’. Até porque, a questão é: o que esses canais, ditos educativos, estão ensinando? No exemplo acima, o desrespeito à autoridade paterna é ensinado de uma forma sutil. Outros desenhos ensinam outras coisas, às vezes, de forma explícita, tais como: apologia à violência; erotização precoce e deturpação da sexualidade humana; apreciação pelo que é de natureza horrível (monstros, morte, maldade), dentre outros ensinamentos perniciosos.
Sabemos que há bons desenhos que ensinam a tratar bem os pais e os amigos, a falar a verdade, a pedir perdão, identificar as emoções, usar a fala para expressar sentimentos, além dos estímulos para o desenvolvimento de habilidades matemáticas e outros conhecimentos (ecologia, geografia, música, artes, etc.).
Mas, a pergunta é: “Quem está com o controle nas mãos?” Não devemos confiar na classificação etária indicativa obrigatória para a programação de TV. Além do mais, lembre-se que, acima de tudo, esses canais educativos estão ensinando nossos filhos a se tornarem consumidores, uma vez que cada propaganda é preenchida com uma infinidade de artigos e produtos designados para crianças e adolescentes.
É nossa responsabilidade paterna filtrar o que os nossos filhos assistem. Bem como, ensiná-los a ter senso crítico e discernimento das produções culturais que estão em cartaz. Portanto, o controle-remoto só deve ser passado às suas mãos, quando estiverem aptos para escolher o que é bom*.
A convivência fraterna, em família e na sociedade, depende dos nossos esforços. Pai e Mãe são os principais canais educativos que Deus deu para os filhos. Não sejamos ‘bobinhos’, mas pais amorosos, sábios e presentes.
Com amor, capelão André Luís Marques de Souza – [email protected]
*Bom é aquilo que é edificante e agradável a Deus.
Fonte: http://www.ipeonline.com.br/capelania/canais-educativos