“E ouvireis de guerras e de rumores de guerras;…” Mateus 24:6
20 de agosto de 2019.
A Rússia acusou hoje o governo dos Estados Unidos por uma “escalada de tensões militares” após o anúncio de Washington de seu primeiro teste de míssil de médio alcance desde a Guerra Fria, consequência do fim do tratado de desarmamento nuclear INF.
Menos de um mês após o fim do tratado, que aboliu o uso por Estados Unidos e Rússia de mísseis terrestres com alcance de 500 a 5.500 quilômetros, a corrida armamentista parece ter recomeçado entre os dois rivais da Guerra Fria.
O teste americano, que teve sucesso, aconteceu no domingo na ilha de San Nicolas, na costa da Califórnia, às 14H30 locais (18H30 de Brasília), segundo o Pentágono. O projétil era uma “variação de um míssil de cruzeiro de ataque terra-terra Tomahawk”.
“Lamentamos tudo isto. O governo dos Estados Unidos toma de maneira flagrante o caminho de uma escalada de tensões militares, mas não cederemos à provocação”, declarou o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov.
Para Riabkov, o “prazo extremamente apertado” que Washington precisou para executar com sucesso o teste demonstra que o governo americano estava preparado para o abandono do tratado assinado pelos dois países.
O diplomata afirmou que o uso do Tomahawk e do Mark 41 significa que “estes sistemas serão utilizados para o lançamento não apenas de mísseis interceptores, mas também de mísseis de cruzeiro”, que têm longo alcance.
Rússia e Estados Unidos concretizaram no início de agosto o abandono do tratado sobre armas nucleares de médio alcance (INF), cuja assinatura no período final da Guerra Fria em 1987 acabou com a crise dos mísseis europeus, provocada pelo deslocamento na Europa dos SS-20 soviéticos com ogivas nucleares.
O presidente americano Donald Trump criticou o tratado no dia 1 de fevereiro e Moscou fez o mesmo no dia seguinte. Os países trocaram acusações de violação do texto.
Os americanos questionam especialmente o míssil russo 9M729, que tem alcance, segundo Washington, de 1.500 km, o que Moscou nega, insistindo que o novo projétil tem alcance máximo de “480 km”.
As forças dos Estados Unidos posicionam há muito tempo mísseis de cruzeiro de médio alcance a bordo de navios de guerra, que geralmente são disparados a partir de sistemas Mark 41.
A novidade no teste de domingo foi o sistema de lançamento instalado em terra. O míssil era convencional, mas qualquer míssil pode posteriormente ser equipado com uma ogiva nuclear.
O presidente russo, Vladimir Putin, que visitou a França na segunda-feira, reiterou que Moscou não vai instalar novos mísseis enquanto Washington não fizer o mesmo.
Durante uma entrevista coletiva com o presidente francês, Emmanuel Macron, Putin acusou Washington de “não ouvir” Moscou. “Os europeus devem nos escutar e reagir”, disse.
No início do mês, Putin solicitou a Washington um “diálogo sério” sobre o desarmamento para “evitar o caos”. Ele propôs uma moratória sobre a instalação das armas nucleares proibidas pelo tratado INF.
Agora resta em vigor apenas um acordo nuclear entre os dois países: o tratado START, que mantém os arsenais nucleares dos dois países abaixo do nível da Guerra Fria e que expira em 2021.
Fonte: AFP