O presidente da Rússia, Vladimir Putin, admitiu nesta terça-feira, 13, alguns problemas em sua invasão na Ucrânia, afirmando que poderia ter se preparado melhor para os ataques inimigos em regiões fronteiriças e que não há munições de alta precisão e drones suficientes. A contraofensiva de Kiev — cujo início oficial ainda não foi confirmado — ocorre em vários pontos da linha de frente, disse ele, antes de tentar minimizá-la afirmando que o país vizinho sobre baixas quase “catastróficas”.
Moscou, disse o presidente russo, poderia ter preparado melhor as regiões no sul do país para assaltos fronteiriços vindos do território ucraniano. Ele referia-se aos ataques em Belgorod, alvo frequente nos últimos dias de drones ucranianos e de incursões de combatentes russos contrários ao Kremlin, que lutam ao lado de Kiev — a autoria foi reivindicada pelos grupos Legião da Liberdade para a Rússia e Corpo de Voluntários Russos.
“Claro, não há nada bom nisso”, disse ele. “Mas, a princípio, poderíamos ter previsto que o inimigo se comportaria dessa forma e poderíamos ter nos preparado melhor”, afirmou.
Em outra ponderação, o chefe do Kremlin afirmou que as tropas russas na Ucrânia não têm munições de alta precisão e drones suficientes. O problema é notório — e motivo de atritos constantes entre o alto comando militar russo e o grupo paramilitar Wagner, que ganhou protagonismo na batalha — mas a admissão de Putin é simbólica frente às tentativas russas de projetar seu poder.
“Durante a operação militar especial, ficou claro que nos faltavam várias coisas: munições de alta precisão, equipamentos de comunicação, drones”, disse ele. “Dispomos deles, mas em quantidade insuficiente, infelizmente”.
Os comentários de Putin foram feitos em Moscou durante um encontro com correspondentes de guerra e blogueiros militares afeitos ao Kremlin. Apesar de fazer ressalvas sobre a defesa em Belgorod — desde que a invasão começou em 24 de fevereiro do ano passado, o Kremlin gastou cerca de US$ 125 milhões (R$ 392 mi) para fortalecer a proteção da região com minas, trincheiras e barreiras — o presidente minimizou a contraofensiva que diz ter começado no último dia 4.
Os ucranianos até agora não confirmam explicitamente se a contraofensiva começou ou não, mas dão indícios de que ela já está em curso — afirmaram na segunda, por exemplo, que retomaram na última semana sete vilarejos que estavam ocupados pelos russos. De acordo com a vice-ministra de Defesa, Hannah Malyar, o avanço mais profundo foi de pouco mais de 6 km, e “a área do território ocupado” que passou para o controle de Kiev é de 90 km².
O significado dos ganhos da contraofensiva, que começou nas regiões de Donetsk e Zaporíjia — ambas unilateralmente anexadas por Putin em setembro — será conhecido nos próximos dias, mas até o momento não parece que houve uma grande conquista. Os ucranianos não divulgam números de baixas, mas analistas creem que deve ser alto diante da necessidade de ultrapassar trincheiras, campos minados e tanques russos.
Lei marcial na Rússia?
Sem mostrar evidências, Putin disse que o Exército ucraniano sofre baixas maciças, que “se aproximam de um nível que poderíamos qualificar como catastrófico”. Os impactos no pessoal russo, completou também sem mostrar provas, “são dez vezes menores”, afirmando que hoje não há necessidade de seguir os passos do país inimigo e decretar lei marcial:
“Não há razão para introduzir algum tipo de regime especial ou lei marcial no país”, disse ele. “Não há necessidade de algo assim hoje”.
De acordo com Putin, os ucranianos perderam 160 tanques e de 25% a 30% dos veículos enviados pelos aliados ocidentais, que sustentam a resistência ucraniana desde que o arsenal de Kiev praticamente se esgotou nos meses iniciais da guerra. Os russos, disse ele, perderam 54 tanques.
Putin voltou ainda a culpar Kiev pela destruição da barragem de Kakhovka, no Sul da Ucrânia, no último dia 6. Ambos lados do conflito trocam acusações sobre a responsabilidade pelo incidente, que deixa impactos ambientais e humanitários ainda desconhecidos e cuja causa também permanece uma incógnita.
Os ucranianos culpam Moscou afirmando que as inundações permitiram aos russos reorganizar seus soldados, atrapalharam o abastecimento de água na Ucrânia e causaram danos extensos, buscando também atrapalhar a contraofensiva. Putin, por sua vez, disse que a barragem foi propositalmente destruída por Kiev usando foguetes Himars americanos, de alta tecnologia.
Fonte: Exame.