Um mês de conflito e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, surpreende ao desafiar o presidente americano, Joe Biden. O premiê escolhe a pior solução, e ela tem forte carga provocativa.
Netanyahu mudou posição. No início do mês não aceitou o cessar-fogo sem que o Hamas libertasse todos os reféns. Mas, diante da pressão americana, mostrou-se aberto a uma pausa humanitária e admitiu, no domingo, voo jordaniano nos céus de Gaza, com remédios arremessados por paraquedas.
De repente, Netanyahu resolveu engrossar e coloca por terra o plano costurado pelos EUA para gestão de Gaza e pronta implantação do Estado da Palestina.
Segundo analistas hebreus laicos, a direita radical promete garantir a maioria para Netanyahu continuar como premiê, depois do fim do conflito. Para isso, Netanyahu deverá adotar a posição da direita extremada, ou seja, manter o enclave de Gaza ocupado por tropas de Israel e continuar a adiar a instalação do Estado palestino.
Biden colocou, como frisei no comentário anterior, o secretário de Estado e o diretor da CIA para fechar um acordo sobre a gestão de Gaza, finalizado o conflito. Em périplo no final de semana, o secretário Antony Blinken negociou com o Egito, a Jordânia, a Turquia e o Iraque. Garantiu a retirada de Israel da Faixa de Gaza ao fim do conflito — durante a guerra, o acordo é de uma pausa humanitária, em alguns pontos territoriais.
A solução encontrada, e hoje vazada, seria a ANP (Autoridade Nacional Palestina) assumir o controle de Gaza, que é terra dos palestinos.
A Palestina é una e indivisível, disse Blinken, no encontro de domingo passado com Mahmoud Abbas, presidente da ANP e também conhecido por Abu Mazen — isso na tentativa de convencê-lo a governar também Gaza, no dia seguinte ao fim do confronto.
No plano, uma força da ONU, formada por soldados árabes e turcos, ficaria estacionada em Gaza na tentativa de manter a paz — e a ANP assumiria a gestão do enclave.
Abbas impôs como condição, em cumprimento da Convenção da ONU de 1947 e do Direito Internacional, uma rápida implantação do Estado Palestino, com Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Leste. Em resumo, também topou a proposta americana.
Hoje, para surpresa geral, Netanyahu deu entrevista à televisão americana ABC e disse não aceitar o acordo em costura.
Informou que o resultado da operação militar em Gaza foi de absoluto sucesso: transcorreu como o esperado, e o Hamas está destruído. Mentiu, pois os reféns não foram encontrados nem libertados.
Não bastasse isso, Netanyahu ressaltou que Israel não pretende deixar Gaza — e que é indefinido o tempo de permanência das e tropas. Justificou dizendo que, depois da saída e o governo do Hamas a partir de 2007, “deu no que deu” — numa referência ao ataque terrorista de 7 de outubro e na montagem de estrutura de guerra pelo Hamas.
A resposta a Netanyahu foi dada, por orientação de Biden, pela Secretaria de Estado dos EUA: “O nosso ponto de vista é que os palestinos devem ser os primeiros na tomada de uma decisão. Gaza é terra palestina e permanecerá terra palestina”.
A propósito e do mencionado sucesso da operação militar, Netanyahu, volto a frisar, não libertou os reféns — e a sua nova posição só coloca a vida deles em risco.
Embora seja da tradição do Estado judaico não mudar de premiê num conflito, com as forças políticas interrompendo os dissensos políticos, o certo é que Israel só perde com o sanguinário Netanyahu na chefia do governo.
Mais uma vez, o primeiro-ministro está colhendo uma vitória de Pirro. E pelo seu autoritarismo, virou um novo Putin, com fala em hebraico.
Fonte: UOL.