Muitas vezes, tomamos como certa a liberdade para praticar nossa fé. Podemos ler a Bíblia em cafés porque ninguém nos prenderá. Temos liberdade para cantar louvores, mesmo na rua. Enquanto isso, do outro lado do mundo, nossos irmãos e irmãs em Cristo sussurram orações em segredo e escondem suas Bíblias. Você sabia que não há nenhum outro país no mundo que tenha tantas Bíblias enterradas como a Coreia do Norte? Lá, apenas ter uma Bíblia pode levar a consequências que ameaçam a vida.
Por que o cristianismo assusta tanto a Coreia do Norte? Para entender o porquê, é preciso se aprofundar na complexa ideologia do regime. Vamos explorar por que o medo deles do cristianismo é enraizado de maneira tão profunda. Para entender o motivo da guerra da Coreia do Norte ao cristianismo é preciso saber que o país não tem uma ideologia exclusiva, pois existe um coquetel letal unindo diversas ideologias.
O que é ideologia juche?
No coração da ideologia norte-coreana está a juche, termo que traduzido de maneira livre significa autossuficiência. Juche é uma filosofia que está entrelaçada na estrutura da sociedade norte-coreana, enfatizando a independência quanto a pensamentos, política e economia. É um sistema de crenças que afirma que a Coreia do Norte deve permanecer sozinha, sem qualquer influência externa, o que, por sua vez, molda sua perspectiva do cristianismo.
Para o regime norte-coreano, os princípios do cristianismo são vistos como uma forma de influência ocidental, uma ameaça a sua absoluta autossuficiência. Por isso, o país suprime a prática do cristianismo, como forma de proteger sua independência.
O que é kimilsungismo? Em todo o país, há estátuas enormes dos líderes da família Kim
No coquetel ideológico da Coreia do Norte também está o kimilsungismo, que trata como deuses o fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung, e seus sucessores. Os membros da família Kim não são vistos apenas como líderes, mas são aclamados como figuras de deuses, configurando o culto à personalidade.
Imagine o tipo de atrito gerado junto às crenças cristãs, em que há um único Deus e certamente não é Kim Il-sung, Kim Jong-il ou Kim Jong-un. O conflito é claro: a adoração a qualquer outra divindade além da família Kim é considerada uma forma de traição, resultando em perseguição aos cristãos.
O que é política songun?
A política songun é a abordagem “militares primeiro”, que prioriza o poder militar sobre as demais coisas. Essa política sustenta um ambiente de medo e controle, deixando pouco espaço para a prática da religião. Sob a sombra do Exército quase onipresente, a liberdade religiosa é esmagada. O foco militar do Estado forma ainda outra barreira à adoração cristã, sufocando expressões de fé sob um punho de ferro.
Qual a influência do marxismo-leninismo?
Embora a Coreia do Norte tenha desviado do caminho clássico marxista-leninista, suas raízes nessa ideologia ainda têm um impacto. O marxismo-leninista tradicional defende um ateísmo estatal, vendo a religião como o “ópio das massas”. Essas raízes ajudaram a moldar como o regime aborda a religião, alimentando profundas suspeitas ao cristianismo, que é visto como uma ferramenta potencial para subversão e agitação.
O que é sistema songbun?
Classificados como categoria hostil, muitos cristãos são presos por serem considerados traidores
O sistema songbun é uma ferramenta que divide e categoriza cidadãos com base em sua perspectiva de lealdade ao regime. Nessa hierarquia, os cristãos estão na parte inferior, rotulados como desleais e até mesmo hostis. O sistema songbun fortalece o papel do cristianismo como inimigo do Estado, reforçando os julgamentos enfrentados pelos cristãos na Coreia do Norte.
Qual a influência do fascismo?
Se a juche é o coração da ideologia norte-coreana, o nacionalismo baseado na raça é o sangue correndo em suas veias. De acordo com um estudo feito aos livros e materiais de propaganda da Coreia do Norte para educar seu povo, a Coreia do Norte é profundamente fascista.
A verdade é que muitas das atrocidades pelas quais a Coreia do Norte é conhecida têm raízes na ideologia fascista. Uma das práticas mais terríveis que ocorre em prisões norte-coreanas são os abortos forçados em norte-coreanas que engravidam na China. Muitas refugiadas são levadas por pessoas ligadas ao tráfico humano e forçadas a se casar com chineses. Muitas acabam ficando grávidas. Caso uma norte-coreana grávida seja presa na China, raramente haverá qualquer piedade por parte das autoridades chinesas. Os agentes enviam as mulheres de volta sem misericórdia, sabendo que as autoridades da Coreia do Norte matarão os fetos.
Isso se dá por meio de injeções e abuso físico, fazendo com que o nascimento seja induzido. Caso a criança sobreviva, ela é morta de outra forma, geralmente afogada em um balde de água. Por trás desse infanticídio impiedoso está uma ideologia de nacionalismo radical, em que a raça norte-coreana “pura” prevalece a outros interesses. Os cristãos norte-coreanos não aderem a esse nacionalismo baseado na raça, portanto, são considerados inimigos ideológicos do Estado.
Qual a realidade dos cristãos norte-coreanos?
No mesmo dilema de Saulo, que foi obrigado a descer os muros de Damasco dentro de uma cesta (Atos 9), cristãos norte-coreanos enfrentam dificuldades diárias por causa da fé em meio a um cenário de medo. Eles incorporam uma história de sofrimento terreno enquanto o coração deles ecoa uma esperança celestial.
No entanto, a dificuldade terrena é uma pequena sombra se comparada à promessa do reino celestial que preenche os pensamentos deles. Como Saulo, eles também estão pendurados em um cesto, a corda de sua fé é precária enquanto aguardam o cumprimento de sua promessa espiritual.
Nas palavras de um cristão secreto: “O amor do pai é maravilhoso. Somos devedores do seu amor. Quero andar nesse caminho de fé e obediência até a morte. Quero dizer às pessoas de Deus – que fazem muito para nos ajudar – que praticaremos o amor do pai aqui na Coreia do Norte”.
Encorajamento para cristãos norte-coreanos
A única maneira de muitos cristãos na Coreia do Norte receberem conteúdo cristão é por meio de programas de rádio clandestinos. Uma doação permite que cristãos norte-coreanos isolados tenham acesso a transmissões de rádio que os encorajam na caminhada com Jesus.