Os houthis, que têm sido uma dor de cabeça para boa parte do comércio global e dos navios comerciais que transitam pelo Mar Vermelho, podem se tornar uma verdadeira ameaça à comunicação. Empresas do setor de telecomunicações ligadas ao governo reconhecido internacionalmente do Iêmen temem que a milícia xiita possa estar planejando sabotar cabos submarinos, necessários para a transmissão de dados financeiros e para o funcionamento da internet ocidental.
O temor surgiu após um grupo afiliado aos houthis ter compartilhado no Telegram, no dia 24 de dezembro, um mapa que mostra a disposição desses cabos pelo Mar Vermelho, segundo o jornal britânico The Guardian. Na legenda, o grupo escreveu em árabe: “Existem mapas de cabos internacionais que ligam todas as regiões do mundo através do mar. Parece que o Iêmen está numa localização estratégica, já que as linhas de internet que ligam continentes inteiros — não apenas países — passam perto dele”.
No mesmo dia, mais duas postagens similares foram feitas por um canal afiliado ao Hezbollah, grupo xiita baseado no Líbano e apoiado pelo Irã, e por um grupo que apoia as milícias financiadas por Teerã no Oriente Médio, segundo o Instituto de Pesquisa de Mídia do Oriente Médio (MEMRI, na sigla em inglês). Em uma das publicações, os houthis são citados e um dos grupos afirma que os cabos que passam pela região “estão nas nossas mãos”. Então, ele questiona se seria uma “mensagem velada à coalizão Ocidental”, formada nas últimas semanas para garantir a livre circulação de navios comerciais na região.
O ministro da Informação do governo iemenita com base no Aden, Moammar al-Eryani, citado pelo Guardian, afirmou que o grupo representa uma séria ameaça a “uma das infraestruturas digitais mais importantes do mundo”. Estima-se que o Mar Vermelho, importante rota marítima, por onde passa 12% do comércio global, abrigue também 17% do tráfego mundial de internet através de tubos de fibra.
Pouca tecnologia
A Corporação Geral de Telecomunicações do Iêmen, de acordo com o jornal britânico, informou que 16 destes cabos (alguns, com espessura similar a de uma mangueira e vulneráveis a danos causados por âncoras e outros navios) passam pela região. O mais importante e estratégico deles seria o AE-1 Ásia-África-Europa, com 25 mil km. Ainda assim, o grupo apresentava pouca ameaça, já que não desfrutava da tecnologia necessária para realizar qualquer tipo de dano intencional, segundo um relatório do Fórum de Segurança do Golfo.
O documento, citado pelo Guardian, explica que a milícia teria um arsenal para “assediar o transporte de superfícies através de mísseis e embarcações de ataque rápido”, mas que carecia de “submersíveis necessários para alcançar os cabos”. O alerta das empresas, contudo, seria relativo a alguns cabos que passam a 100 metros de profundidade, o que diminuiria a necessidade de submarinos ou tecnologia avançada.
De acordo com a Yemen Telecom, foram feitos esforços jurídicos e diplomáticos para dissuadir alianças internacionais de negociarem com a milícia xiita, já que quaisquer acordos forneceriam dados estratégicos sobre as redes de internet na região, cita o jornal. O Iêmen, apesar de ter um governo reconhecido internacionalmente no Aden, tem a sua capital, Sanaa, e boa parte do norte do país controlados pelos rebeldes.
O grupo, desde novembro, tem atacado embarcações ligadas a Israel ou aliados, alegando apoio aos palestinos na Faixa de Gaza, palco da guerra entre Israel e o Hamas. Em resposta, os Estados Unidos e o Reino Unido lançaram um ataque em conjunto contra as posições do grupo no Iêmen, que desde então declararam que os interesses americanos e britânicos também são alvos legítimos. Outras duas ações ocorreram depois, sendo a última neste sábado. Os houthis prometeram revidar e alegaram que os ataques “não nos deterão”
Fonte: O Globo.