A atualização militar cooperativa entre Rússia e Coreia do Norte desencadeou a já em andamento aliança nuclear mais profunda entre Estados Unidos e Coreia do Sul, escreve o jornal japonês Nikkei Asia.
Mais de 70 anos após o fim nominal da Guerra da Coreia, Coreia do Norte e Coreia do Sul se encontram em lados opostos diante de um conflito a 7 mil quilômetros de sua fronteira fortemente fortificada: o conflito na Ucrânia.
Enquanto Moscou e Kiev têm buscado Pyongyang e Seul, respectivamente, as apostas também foram significativamente aumentadas na península coreana, dizem acadêmicos ouvidos pelo jornal.
O encontro entre o presidente Vladimir Putin e o líder Kim Jong-un em Pyongyang, em junho, elevou os laços Rússia-Coreia do Norte a uma aliança militar formal de proteção mútua.
A resposta sul-coreana foi rápida: Seul não apenas disse que reconsideraria sua recusa em fornecer armas letais à Ucrânia, como, em um mês, assinou seus próprios laços de defesa atualizados com Washington em uma aliança que codifica o uso de armas nucleares dos EUA para defender a Coreia do Sul contra ameaças nucleares do Norte.
A rápida resposta dos EUA e da Coreia do Sul reflete a escala de alarme que alguns observadores registraram após o acordo Moscou-Pyongyang, segundo o qual os dois países concordaram em fornecer assistência militar um ao outro caso um deles fosse colocado em “estado de guerra”, escreve a mídia.
“Isso está levando a um maior fortalecimento das relações entre três países liberais na Ásia: Coreia do Sul, EUA e Japão”, disse Kim Jae-chun, professor de relações internacionais na Universidade Sogang, em Seul.
O professor acrescentou que a região agora está testemunhando dois “círculos viciosos” paralelos, à medida que blocos rivais estreitam seus laços enquanto competem entre si.
“Ambos os blocos — um bloco de países revisionistas e um bloco de países liberais e voltados para o status quo — estão agora fortalecendo seus laços, estabelecendo parcerias de aliança entre si”, afirmou Kim ao Nikkei Asia.
Após a visita de Putin à Coreia do Norte, o diretor de Segurança Nacional sul-coreano, Chang Ho-jin, deu a entender que Seul “reconsideraria” o possível envio de armas para a Ucrânia.
Na cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), neste mês, o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, se comprometeu a dar mais ajuda a Kiev – mas não chegou a mudar a posição de seu país sobre envio de armas.
Em um e-mail à mídia, o embaixador ucraniano na Coreia do Sul, Dmitry Ponomarenko, reiterou os apelos para que Seul forneça armas para auxiliar as tropas ucranianas.
“Os russos no momento têm uma vantagem no ar e em mão de obra. […] A Ucrânia precisa ter paridade com o inimigo em armas e munições”, disse Ponomarenko, citado pelo jornal.
Quando Seul sugeriu que poderia estar aberta ao envio de armas a Kiev, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que “o fornecimento de armas letais para a zona de combate na Ucrânia seria um erro muito grande. Espero que não aconteça. Se acontecer, então nós também tomaremos as respectivas decisões, com as quais a atual liderança da Coreia do Sul provavelmente não ficará satisfeita”, disse Putin em uma entrevista coletiva durante sua visita ao Vietnã, em 20 de junho.