Os cristãos deslocados internos são todos os seguidores de Jesus forçados a deixar suas casas, igrejas e comunidades por causa da perseguição, mas que continuam dentro de seu país. De acordo com os dados da Lista Mundial da Perseguição (LMP) 2024, 278.716 cristãos foram deslocados em 60 países – no período de 1 de outubro de 2022 a 30 de setembro de 2023 –, um número 120% maior em relação à LMP 2023. Na África Subsaariana, a soma dos cristãos deslocados entre 2014 e 2022, totaliza 16,2 milhões de pessoas.
São inúmeros os motivos que forçam cristãos a deixarem tudo que conhecem para trás em busca de abrigos em cidades e províncias mais estáveis em suas nações. As causas envolvem desde conflitos armados e guerras a catástrofes naturais, terremotos e inundações. De um momento para outro, todo o tempo investido para construir uma casa, todo amor e sonhos para formar uma família se perdem e muitas vezes por causa da perseguição religiosa aos seguidores de Jesus.
Mesmo em casos em que o deslocamento não é diretamente causado pela perseguição, a condição de fuga só aumenta a vulnerabilidade em que os cristãos perseguidos já vivem. Por isso, o tema do Domingo da Igreja Perseguida (DIP) 2025 é “Forçados a fugir: cristãos deslocados por causa da violência pedem socorro. O movimento reúne anualmente milhares de igrejas no Brasil e América Latina em oração pela Igreja Perseguida. Saiba mais sobre o DIP no link.
Onde e como vivem os cristãos deslocados?
Os cristãos deslocados contabilizados pela Portas Abertas vivem em 60 países. Segundo dados da Lista Mundial da Perseguição 2024, 70% deles estão na Nigéria e em Mianmar, o equivalente a 100 mil pessoas em cada nação. Índia, Burkina Faso, Paquistão, Mali, Bangladesh, Níger, República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Camarões reúnem mais de 77 mil cristãos deslocados.
A moradia, nessa situação, é improvisada, assim como o acesso a água e alimentos. Tarefas como ir à escola e trabalhar ficam para trás, e a luta pela sobrevivência é diária em acampamentos, oficiais ou informais, de deslocados. Além disso, em muitos casos, o saneamento básico não existe. Logo, é um local propício para proliferação de doenças contagiosas. Muitas famílias são obrigadas a dividir espaços pequenos e ficam ainda mais vulneráveis a abusos.
Em fuga na Nigéria
Loise perdeu o esposo de 37 anos na Nigéria e ficou responsável pelo sustento dos cinco filhos. Quando o marido dela foi morto por extremistas entre o povo fulani, ela precisou fugir com a família para um acampamento. “Aqui temos dificuldades para conseguir comida, lugar para dormir e muitas outras coisas”, testemunha a seguidora de Jesus.
A realidade de Loise é semelhante a de outros 100 mil cristãos que circulam pela Nigéria em busca de um local seguro, longe dos ataques de grupos criminosos e extremistas islâmicos. “Não temos para onde ir ou o que comer. Eles queimaram nossas roupas. Estamos passando por momentos muito difíceis. Precisamos de comida, de roupas e abrigo. Queremos muito voltar para casa e que a paz seja restaurada”, conta Dalandi, outro cristão deslocado pela violência na Nigéria.
Deslocados em Mianmar
Em Mianmar, 1,5 milhão de pessoas foram obrigadas a fugir de suas casas e comunidades desde o golpe militar em fevereiro de 2021. Tun Maung (pseudônimo) fugiu com os pais, a esposa e os filhos para um local seguro no país. Mas foram forçados a se deslocar novamente devido a um novo conflito na região.
“Quando anoitece, chamamos todos para dentro de casa, trancamos as portas e as janelas, acendemos as lâmpadas e as velas e ficamos em silêncio. Às vezes, as crianças são barulhentas, tenho que lembrá-las de ficarem quietas. Como pai, me sinto mal porque sua infância é escondida e vivem com medo”, explica o cristão.
Apesar do constante risco de serem pegos e mortos, Tun Maung continua seu trabalho de encorajar outros cristãos deslocados e os que vivem em áreas afetadas por conflitos. Para chegar até os irmãos na fé, sofre assédio por parte dos soldados e corre risco de ser atingido por minas e bombas.
A vida em acampamentos em Manipur
Em Manipur, o conflito étnico-religioso que começou em 2023, e ceifou muitas vidas, também obrigou milhares de seguidores de Jesus a buscarem abrigos em acampamentos para deslocados internos. Obrigadas a viver em situação precária, as famílias muitas vezes são separadas, pois alguns locais só recebem mulheres e crianças. E a jornada até os acampamentos de deslocados internos não é fácil.
Ritika estava grávida quando teve que fugir em maio de 2023. Ao ver as ruas de Manipur tomadas por explosões e protestos, ela andou o mais rápido que a gravidez avançada permitia com a sogra. “Não estávamos preparados para esses ataques. Minha casa estava em chamas diante dos meus olhos. Foi uma cena terrível.” Pouco depois, ela começou a ter contrações no caminho e então seu bebê nasceu na floresta.
“As mulheres que estavam conosco me ajudaram a parir. Os homens fizeram uma cama de bambu, na montanha, e ficaram vigiando para nos proteger. Nunca vou me esquecer desse dia. Louvo a Deus pelo dom da vida que ele trouxe a esse mundo, mesmo em uma situação tão terrível”, conta Ritika. Hoje, ela e a família estão abrigados em um acampamento de deslocados internos e recebem apoio de parceiros locais da Portas Abertas.
Qual o impacto do deslocamento para as igrejas locais?
As igrejas locais são diretamente afetadas pelo deslocamento dos cristãos. Pois são elas que compõem a comunidade de fé. Quando todos os membros vão embora, a igreja é obrigada a interromper suas atividades e fechar suas portas.
Antes da invasão do Estado Islâmico, a igreja no Iraque tinha em média um milhão de cristãos. Mas milhares de seguidores de Jesus precisaram fugir e agora restam apenas 154 mil cristãos. Além dos conflitos, a falta de empregos e a crise econômica motivam as pessoas a deixar o país.
“Estamos trabalhando muito para preservar nossa existência. Meu grande sonho é que os jovens fiquem e se tornem o sal e a luz deste país. Nós realmente precisamos deles no futuro para levar nossa comunidade a um lugar melhor”, explica Daniel, um jovem líder cristão do Iraque.
Como a Portas Abertas apoia cristãos deslocados?
A Portas Abertas apoia cristãos deslocados de diversas formas. No socorro imediato, há distribuição de alimentos, água, utensílios domésticos e de necessidades básicas como cobertores e roupas de inverno.
Além disso, os cristãos deslocados são acompanhados por parceiros locais e recebem apoio emocional, jurídico e cuidados pós-trauma. Também aprendem uma profissão e participam do projeto de geração de renda, onde recebem um investimento para começar o próprio negócio e se sustentar sozinhos.