O Exército russo reuniu 50 mil soldados, incluindo da Coreia do Norte, para lançar uma ofensiva para recuperar território capturado pela Ucrânia na região russa de Kursk, segundo funcionários americanos e ucranianos. De acordo com uma avaliação dos EUA, a Rússia conseguiu montar essa força sem desviar soldados do Leste ucraniano — seu campo de batalha prioritário —, o que permite ao país manter a pressão militar em múltiplos fronts.
Apesar de as tropas russas já terem recuperado parte do território em Kursk por meio de ataques contra posições ucranianas com mísseis e fogo de artilharia, ainda não lançaram um grande assalto. Segundo autoridades ucranianas, a expectativa é de que isso comece nos próximos dias com o envolvimento de militares norte-coreanos que, por enquanto, treinam com soldados russos. Sob condição de anonimato, autoridades dos EUA disseram que a Ucrânia ainda tem uma forte defesa na região e pode ser capaz de resistir, ao menos por algum tempo.
A informação surgiu no mesmo dia em que a Rússia e a Ucrânia realizaram seus maiores ataques mútuos com drones desde o início da guerra. O Ministério da Defesa da Rússia disse que foram interceptados 84 drones em seis regiões, incluindo algumas perto de Moscou, o que forçou o desvio de voos dos três principais aeroportos da capital. A Força Aérea ucraniana disse que a Rússia lançou 145 drones contra todo o país ontem à noite, sendo a maioria abatida.
Perspectiva Trump
A perspectiva da ofensiva também surge enquanto o presidente eleito Donald Trump se prepara para assumir o cargo em 20 de janeiro com o objetivo declarado de pôr um fim rápido à guerra. Apesar de Trump não ter dado detalhes de como pretende acabar com o conflito, seu vice, J.D. Vance elaborou um plano que permitiria à Rússia manter o território que capturou da Ucrânia.
O presidente Joe Biden apoiou de forma profunda a Ucrânia, pressionando o Congresso a aprovar bilhões de dólares em auxílio e fazendo as agências militares e de espionagem americanas ajudarem o país a travar a guerra.
Mas algumas autoridades militares e de Inteligência dos EUA estão cada vez mais pessimistas sobre as perspectivas gerais de Kiev, pontuando que a Rússia tem sido consistente no avanço terrestre em Kursk e no Leste ucraniano. Um funcionário ocidental disse que a incursão surpresa da Ucrânia em Kursk em agosto enfraqueceu suas forças ao longo do campo de batalha no Leste, deixando-se as vulneráveis aos avanços russos.
Grande escalada
Autoridades ocidentais e ucranianas dizem que a chegada das forças norte-coreanas é uma grande escalada depois de mais de dois anos de guerra, com a estimativa de que o regime de Pyongyang enviou mais de 10 mil soldados para lutar com a Rússia em Kursk. Eles usam uniformes russos e foram equipados por Moscou, mas provavelmente lutarão em suas próprias unidades, disseram funcionários de Defesa.
Segundo um funcionário ucraniano, as forças norte-coreanas foram divididas em dois grupos, uma unidade de assalto e outra de apoio, que ajudará a fornecer segurança dentro do território recapturado das forças ucranianas.
A Rússia tem treinado os norte-coreanos em fogo de artilharia, táticas básicas de infantaria e, criticamente, em limpeza de trincheiras, disseram autoridades americanas. Esse treinamento sugere que ao menos parte das forças norte-coreanas estarão envolvidas em assaltos frontais nas posições de defesa que foram cavadas pela Ucrânia.
“Esperamos completamente que os soldados da RPDC possam se engajar em combate”, disse Sabrina Singh, a vice-secretária de imprensa do Pentágono na quinta-feira, usando as iniciais do nome formal da Coreia do Norte, a República Popular Democrática Coreia.
A Coreia do Norte tem um Exército grande mas, diferentemente da Rússia, não se envolve em combate terrestre há décadas. Os soldados que está destacando, porém, são considerados seus melhores, convocados da Unidade 11ª, base dos soldados de operação especial do país.
Os ucranianos capturaram centenas de quilômetros quadrados de território com pouca oposição, mas a Rússia agora parece pronta para lançar uma operação em grande escala para recuperar o que ainda não conseguiu.
Como a expectativa é de que os ucranianos oferecerão resistência, as forças russas e norte-coreanas devem registrar fortes perdas, similares às que a Rússia sofreu no Leste da Ucrânia. Segundo analistas americanos e britânicos, por dia a Rússia registra 1,2 mil soldados mortos e feridos.
Os norte-coreanos estarão lutando como infantaria leve, sem o benefício de veículos blindados. E as atuais táticas ucranianas de fogo de artilharia e ataques com drones provaram ser devastadores para soldados russos sem proteção. Dito isso, se a Rússia conseguir impulsionar avanços, pode não parar na própria fronteira, tentando repelir as forças ucranianas para bem além da divisa. Não está claro se o regime de Pyongyang autorizará suas forças a conduzir operações sustentáveis na Ucrânia ou se a intenção é de que apenas atuem na contraofensiva em Kursk, segundo autoridades de Defesa dos EUA.
George Barros, um analista no Instituto para Estudo da Guerra, disse que, apesar da inexperiência, as forças norte-coreanas são bem organizadas.
“A única coisa em que realmente devem ser melhores do que os russos é na coesão e disciplina|”, disse.
Em troca pelo fornecimento de tropas, as autoridades americanas acreditam que a Coreia do Norte espera receber tecnologia de foguetes e mísseis da Rússia, bem como apoio diplomático. Mas as autoridades ucranianas disseram que a Coreia do Norte também pode esperar fortalecer suas tropas e aprender com as tácticas em desenvolvimento na guerra.
Fonte: Exame.