As agências da ONU para alimentos e refugiados planejam cortes profundos devido a uma queda sem precedentes no financiamento, incluindo do antigo principal doador, os Estados Unidos, segundo memorandos internos enviados às equipes, levantando questões sobre como manter o alívio da fome.
O setor humanitário tem sido abalado por cortes de financiamento dos principais doadores, liderados pelos Estados Unidos sob o comando do presidente Donald Trump, e de outros países ocidentais, que priorizam os gastos com defesa, motivados pelo medo crescente da Rússia e da China.
O Programa Mundial de Alimentos, uma agência da ONU sediada em Roma, alertou no mês passado que 58 milhões de pessoas correm o risco de passar fome extrema ou inanição, a menos que haja financiamento urgente para ajuda alimentar. Milhões de pessoas que enfrentam escassez aguda de alimentos no Sudão podem ser afetadas, disse o PMA na sexta-feira.
Em um memorando interno enviado aos funcionários na quinta-feira e visto pela Reuters, o diretor do PMA, Stephen Omollo, disse que os cortes são necessários devido ao “ambiente de financiamento sem precedentes”, com a perspectiva de doações para 2025 em US$ 6,4 bilhões, ou uma redução de 40% em relação ao ano passado. Ele não citou nenhum país responsável.
“Continuamos preocupados que a situação não mostra sinais de melhora”, afirmou ele, acrescentando que os cortes planejados podem não ser suficientes e que outras reduções estão sendo exploradas.
“Nesse ambiente desafiador sobre os doadores, o PMA priorizará seus recursos limitados em programas vitais que levam a assistência alimentar urgentemente necessária aos 343 milhões de pessoas que lutam contra a fome e enfrentam cada vez mais a inanição”, disse o PMA em um comunicado à Reuters.
Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e a Comissão Europeia estiveram entre os principais doadores nos últimos anos, segundo seu site. O PMA, como muitas agências das Nações Unidas, depende inteiramente de doações voluntárias.
A nota do chefe do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Filippo Grandi, enviada aos funcionários em 23 de abril, dizia que a organização planeja uma redução geral de 30% nos custos e que o número de cargos seniores seria cortado pela metade.
“Teremos que fechar alguns escritórios nacionais e, em vez disso, cobrir esses países por meio de estruturas de escritórios multinacionais fortalecidas”, afirmou Grandi.
O porta-voz do Acnur William Spindler disse em uma coletiva de imprensa em Genebra que a agência foi gravemente afetada pela incerteza do financiamento. “Tivemos que responder a isso interrompendo muito do trabalho que estávamos fazendo em campo”, declarou ele.
Um segundo porta-voz acrescentou posteriormente que o Acnur estava realizando uma revisão abrangente de suas operações, pessoal e estruturas, recusando-se a fornecer um cronograma, já que a revisão está em andamento.
Fonte: Reuters.