O Irã é uma teocracia islâmica. É justamente neste país que um dos maiores avivamentos cristãos está acontecendo atualmente. É claro que isso não é apreciado pelo governo e pelos grupos radicais islâmicos.
Externamente, o Irã parece ser um país cheio de religiosos fundamentalistas. Na verdade, grande parte da população tem abandonado o islamismo. Em 2020, o instituto de pesquisa GAMAAN, com base na Holanda, conduziu uma pesquisa representativa sobre a afiliação religiosa entre a população iraniana. A pesquisa foi feita online via plataformas VPN – evitando os canais oficiais censurados. Quase metade dos participantes declararam ter perdido a fé. Apenas 32% se descreveram como muçulmanos xiitas.
“O Irã poderia ser descrito como um dos países mais seculares do Oriente Médio. O fato de que as pessoas tenham trocado sua fé ou até desistido completamente dela é o resultado das políticas opressivas da República Islâmica nos anos recentes”, diz Mansour Borji da organização de direitos humanos Article 18, que atua em favor dos cristãos iranianos. É também um sinal de que as pessoas estão percebendo que o islamismo não as está satisfazendo.
A revolução tornou-se islâmica
O Irã se tornou uma República Islâmica em 1979, quando o então rei (xá, em persa) foi deposto em uma revolução. A revolução tinha começado pelo povo, que estava insatisfeito com o xá por várias razões. O líder religioso islâmico xiita aiatolá Ruhollah Khomeini tornou-se a figura principal da integração. Ele fez diversas promessas: de liberdade, de igualdade, de direitos humanos – tudo de acordo com o islamismo. Dessa maneira, ele foi capaz de unir muitos setores da população e estimulou a insatisfação deles com o governo do xá.
No entanto, o real objetivo de Khomeini era estabelecer uma teocracia de acordo com as regras do islamismo. Isso ficou rapidamente aparente quando ele se tornou o líder espiritual e político supremo. A revolução tornou-se assim a “Revolução Islâmica”. Sob Khomeini, o Código Penal foi adaptado à sharia (conjunto de leis islâmicas), os livros escolares foram reescritos em termos islâmicos e a influência ocidental foi banida do país. Khomeini eliminou os vários grupos oposicionistas da revolução, sobretudo os grupos da esquerda comunista, e perseguiu os clérigos mais liberais.
Ele até criou uma unidade militar para esse propósito, a chamada Guarda Revolucionária. A missão da Guarda era proteger as conquistas da Revolução Islâmica contra ameaças externas e internas. Essas “ameaças” incluem os cristãos de origem muçulmana.
Repressão às igrejas
Pessoas de diferentes grupos étnicos vivem no Irã. A maioria é da etnia persa, mas há também armênios e assírios, por exemplo. Esses dois grupos étnicos são tradicionalmente cristãos. Na ocasião da Revolução Islâmica, eles eram a maioria dos cristãos no Irã e pertenciam a igrejas históricas (ortodoxa e católica), mas alguns também iam a igrejas protestantes, que eram quase sempre fundadas por cristãos ocidentais.
Devido à ligação com o Ocidente, algumas congregações foram pressionadas nos primeiros anos após a revolução. No entanto, o governo só começou a tomar medidas drásticas contra as igrejas nos anos 1990. Enquanto isso, tinha havido uma mudança na sociedade. A desilusão com o regime começou a se espalhar. Isso foi acompanhado pela desilusão com o islamismo, que o regime incorporara. Igrejas experimentaram a vinda de muçulmanos que estavam interessados em Jesus e tornaram-se cristãos. Algo inaceitável do ponto de vista do governo.
Os armênios e assírios tradicionalmente cristãos estavam liberados para praticar a fé, mas os da etnia persa tinham que permanecer muçulmanos. A evangelização, o batismo de cristãos de origem muçulmana e a aceitação em suas congregações eram severamente atacados. O pastor Hossein Soodmand, de origem muçulmana, foi oficialmente executado em 1990 por apostasia, enquanto outros líderes de igreja, como Mehdi Dibaj e Haik Hovsepian, foram encontrados mortos.
Com a eleição do presidente ultraconservador Ahmadinejad em 2005, a pressão contra as igrejas se intensificou, muitas igrejas foram fechadas, pastores e outros membros da igreja foram presos e julgados.
No entanto, nenhuma dessas medidas foi capaz de impedir a propagação do evangelho. Quando as igrejas oficiais foram fechadas, os cristãos se tornaram secretos e se encontravam em igrejas domésticas. O movimento de igrejas domésticas cresceu rápido porque o evangelho estava se espalhando muito rapidamente. Quando a igreja do pastor assírio Victor Bet-Tamraz foi fechada, em 2009, porque ele realizava cultos em persa, ele até agradeceu às forças de segurança: “Se vocês fecharem as portas da igreja, Deus abrirá os portões do céu”.