Pesquisadores anunciaram a descoberta de um selo de mais de 2.600 anos com o nome daquele que foi um funcionário de confiança do rei Josias. Ele foi encontrado em Jerusalém.
O que aconteceu
A inscrição foi encontrada em um pequeno pedaço de argila durante uma recente etapa de peneiração no local. A divulgação do resultado foi feita no portal oficial do projeto Temple Mount Sifting Project (Projeto de Peneiração do Monte do Templo, em tradução livre).
No objeto está escrito “Pertencente a Yedayah (filho de) Asayahu”, este último equivalente a Asaías. Na Bíblia Hebraica, o personagem apareceu durante o reinado do rei Josias, que ficou à frente do reino de Judá entre 641-609 a.C. “De acordo com o estilo da escrita, o selo data do final do período do Primeiro Templo (aproximadamente do final do século 7 a.C. ao início do século 6 a.C.)”, diz o comunicado. O objeto, portanto, tem mais de 2.600 anos.
Segundo os arqueólogos, a versão do nome inscrito no selo, “Asayahu”, carrega detalhe simbólico. O sufixo “yahu” era frequentemente adicionado a nomes hebraicos antigos para atestar sua conexão com Deus (Y-H-V-H, transliteração do tetragrama que representa o nome de Deus na Bíblia Hebraica).
Inserido no selo por meio de um carimbo, o nome foi escrito com antigas letras hebraicas. O arqueólogo Mordechai Ehrlich foi o responsável pela descoberta e, segundo o portal do projeto, o artefato é raro e está “excepcionalmente bem preservado”.
Esta é apenas a segunda vez, desde que o projeto começou há mais de 20 anos, que descobrimos um selamento com uma inscrição tão completa —quase todas as letras são claramente legíveis.
Zachi Dvira, arqueólogo e um dos diretores do projeto, ao portal do “The Times of Israel”.
O bom estado de preservação revelou também marcas no verso do selo. Segundo o comunicado oficial, as marcas detectadas indicam que ele foi usado como lacre em uma bolsa ou em um recipiente de armazenamento. Uma impressão digital “nítida” também foi observada. Para os arqueólogos, a marca foi deixada pelo antigo dono do objeto.
Historicamente, selos do tipo eram reservados para oficiais de alta patente. Muitos indivíduos cujos nomes foram descobertos em selos em Jerusalém foram identificados como oficiais da era bíblica. Segundo os especialistas, os pedaços de argila eram pressionados sobre o nó de uma corda que prendia uma maçaneta ou um pote, por exemplo, e serviam para indicar o dono de determinado produto. O selo continha a identificação do responsável ou de seu superior, para impedir que outros manipulassem os pertences alheios.
A descoberta iniciou uma missão que envolveu diferentes profissionais. Além dos arqueólogos do projeto, uma epigrafista —especialista em epigrafias, ou seja, em inscrições gravadas em materiais como cerâmica e pedra— trabalharam para identificar o que estava escrito. Nesta etapa, os pesquisadores utilizaram uma técnica que cria imagem composta fotografando um objeto várias vezes a partir do mesmo ponto, sob condições de iluminação variáveis.
O nome Asayahu já apareceu em outro selo de argila, identificado há cerca de 20 anos. No objeto, o nome estava junto às palavras “servo do rei”. “No entanto, como o artefato [encontrado há duas décadas] veio do mercado de antiguidades, e não de um contexto arqueológico, é mais difícil ter certeza de sua autenticidade”, pontuou Dvira.
De acordo com os especialistas, dezenas desses selos de argila já foram desenterrados em Jerusalém, e alguns deles carregam nomes que aparecem na Bíblia. “Obviamente, não temos certeza de que o Asayahu mencionado no selo seja o mesmo que aparece na Bíblia. No entanto, vários artefatos encontrados na área do Monte do Templo têm nomes bíblicos, e isso faz sentido, pois não eram objetos usados por pessoas comuns”, explicou o arqueólogo ao portal local.
A descoberta abre novas portas aos arqueólogos e entusiastas. Segundo Dvira, a equipe envolvida no projeto já está trabalhando na publicação de um artigo acadêmico sobre o artefato.
Há cerca de 2.600 anos, o rei Josias de Judá ordenou reparos no Templo de Jerusalém. Durante esses reparos, os trabalhadores descobriram um antigo pergaminho sagrado —Sefer haTorah—, no que se acredita ser o livro do Pentateuco de Deuteronômio (2 Reis 22:12; 2 Crônicas 34:20). O texto alertava para castigos que acometeriam aqueles que desobedecessem às leis divinas.
Alarmado com as possíveis punições, o rei Josias enviou oficiais de confiança para buscar o conselho divino da profetisa Hulda, que previu a destruição de Jerusalém. Entre os enviados de confiança de Josias estava um funcionário de alto escalão, chamado Asayahu, descrito como “o servo do rei”.
Fonte: UOL.