Em setembro de 2023, uma cidade na região central da Etiópia foi palco de ataques contra casas e negócios de cristãos. Entre as vítimas, estava Jemal*, cuja marcenaria e fábrica de aço foram completamente destruídas. “Tínhamos uma vida muito boa. Minha família inteira e eu vamos à igreja e adoramos a Deus aos domingos e quartas-feiras”, relatou.
Jemal e sua esposa, Fátima*, se converteram do islã para o cristianismo ainda jovens, enfrentando perseguição de suas famílias e comunidade. No entanto, com o apoio de uma igreja local, eles conseguiram reconstruir seus relacionamentos com a família e a vizinhança.
Como nasce a intolerância religiosa?
A paz foi abalada quando líderes muçulmanos itinerantes começaram a pregar mensagens radicais em mesquitas locais. Eles isolaram os cristãos, instruindo a comunidade a não interagir com eles. “Eles disseram à comunidade para não falar conosco. Por seis meses, eles fizeram seu trabalho em segredo. Eles amedrontaram a comunidade dizendo: ‘Quem falar com eles ou se sentar com eles não terá uma cerimônia de enterro adequada’”, contou Jemal. No islã, a proibição de enterro em cemitérios não muçulmanos é uma tática para pressionar os fiéis.
A perseguição se estendeu para a esfera econômica, com os líderes religiosos forçando a expulsão de cristãos de associações de ajuda mútua. Meios de transporte, como os bajaj (triciclos) e as motocicletas de cristãos, também foram segregados. A exclusão econômica é uma tática usada por extremistas para forçar cristãos a se converterem ao islã. Com o aumento da influência desses líderes, Jemal foi diretamente afetado. “Os muçulmanos em minha cidade diziam: ‘Não comprem nada deles, mas deixem que eles comprem de nós. Se vocês comprarem deles, eles ficarão mais ricos’”, lembrou.
O aumento da violência
A violência escalou quando um grupo de estudantes muçulmanos culpou professores cristãos por seu desempenho escolar. A situação piorou ainda mais com a instalação de megafones nas mesquitas para a transmissão do Alcorão. A intervenção do governo serviu como estopim para os conflitos violentos. “Eles começaram o ataque na noite de segunda-feira. Na terça-feira, eles até tentaram me matar”, recordou Jemal.
Apesar de querer proteger sua casa e negócios, Jemal foi persuadido por sua irmã a buscar refúgio na casa de um muçulmano, já que nenhuma casa de cristão era segura. “Então, na terça-feira de manhã, eles começaram a queimar tudo. Multidões foram de casa em casa, escolhendo casas e negócios cristãos, destruindo tudo o que encontravam e ateando fogo. Eles destruíram tudo o que eu possuía e construí ao longo dos anos. Em um único dia, eles transformaram tudo em cinzas.” Não só os edifícios, mas também equipamentos, matérias-primas e pedidos prontos para entrega foram consumidos pelas chamas. Pelo menos 215 casas de cristãos foram destruídas, forçando 375 famílias, incluindo a de Jemal, a se deslocarem.
Os extremistas buscavam desonrar e arruinar economicamente os homens cristãos para enfraquecê-los em sua capacidade de sustentar suas famílias. “Os extremistas acreditavam que, depois que nossas propriedades fossem destruídas, os cristãos se converteriam ao islã. Eles pensaram: ‘Quando não tiverem nada para comer ou beber, voltarão ao islã’”, explicou o cristão etíope.
As consequências da violência
Para Jemal, o ataque marcou o início de um período de grande sofrimento. Uma de suas filhas entrou em trabalho de parto durante os conflitos e teve o socorro negado. “Os médicos se recusaram a tratá-la porque ela era cristã. Uma médica sentiu pena da minha filha e deu a ela seu próprio véu [islâmico] para disfarçá-la como muçulmana. Foi uma experiência horrível. Eu fiquei muito preocupado com a possibilidade de perdê-la”, contou.
Durante o deslocamento, Jemal se viu separado de outros membros da família. “O ataque deixou todos sem esperança. Alguns de nós até perderam a cabeça. Muitas pessoas ficaram fisicamente paralisadas, por causa do trauma e do estresse. Também tivemos pessoas que morreram por causa da situação”, lamentou.
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*Nomes alterados por segurança.
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