Especialistas conseguiram flagrar pela primeira vez uma zona de subducção —o ponto de colisão onde uma placa tectônica mergulha sob outra — se rompendo ativamente no Pacífico.
O que aconteceu
Equipe de pesquisadores capturou uma zona de subducção em processo de fragmentação. Flagra foi feito na costa da Ilha de Vancouver, na região de Cascadia, onde as placas Juan de Fuca e Explorer se movem lentamente sob a placa norte-americana e estão se partindo.
Cientistas enviaram ondas sonoras de um navio para o fundo do mar. Os ecos foram registrados com um dispositivo de escuta subaquático de 15 quilômetros de comprimento.
‘Ultrassom’ mostrou as falhas e fraturas. Imagens de reflexão sísmica, algo semelhante a um ultrassom do subsolo da Terra, revelaram falhas e fraturas nas profundezas do oceano, indicando locais onde Juan de Fuca e Explorer estão se partindo. O resultado foi publicado no final de setembro na revista Science Advances.
Esta é a primeira vez que temos uma imagem clara de uma zona de subducção em vias de extinção.
As imagens mostraram rupturas cortando a placa oceânica, incluindo um enorme deslocamento. Neste ponto, a placa tem uma espécie de fenda de cerca de cinco quilômetros de profundidade. “Há uma falha muito grande que está ativamente rompendo a placa. Ainda não está 100% rompida, mas está perto disso”, disse Shuck.
Registros de terremotos também foram analisados pelos cientistas. Ao longo da ruptura de 75 quilômetros de extensão, algumas seções ainda são sismicamente ativas, enquanto outras estão “silenciosas”. “Depois que um pedaço se rompe completamente, ele não produz mais terremotos porque as rochas não estão mais grudadas”, explicou o geólogo. Segundo os especialistas, a lacuna está aumentando lentamente ao longo do tempo.
Em vez de colapsar de uma só vez, a placa está se desfazendo pedaço por pedaço. Com isso, microplacas menores, com novas delimitações, estão se formando no oceano. Ao se desprender em pedaços menores, a placa maior perde impulso e, eventualmente, para de ser puxada para baixo.
Cada pedaço que se desprende é um processo que leva vários milhões de anos. Entretanto, juntos, esses episódios gradualmente paralisam todo sistema de subducção. “Em vez de um grande desastre, é como assistir a um trem descarrilando lentamente, um vagão de cada vez”, disse Shuck.
Como as placas tectônicas impactam a Terra
As zonas de subducção estão entre as “forças mais poderosas da Terra”. Elas movimentam os continentes ao redor do globo, desencadeiam terremotos e erupções vulcânicas, e reciclam a crosta do planeta para o interior do manto.
Essas estruturas não são definitivas e se rompem com o passar do tempo. “Se [as zonas de subducção] durassem para sempre, os continentes colidiriam e se acumulariam indefinidamente”, explica o comunicado da LSU.
A grande questão debatida entre os geólogos é como estes poderosos sistemas chegam ao fim. “Iniciar uma zona de subducção é como tentar empurrar um trem morro acima —exige um esforço enorme. Mas, uma vez em movimento, é como se o trem estivesse descendo a toda velocidade, impossível de parar. Acabar com isso requer algo drástico”, relatou Shuck.
As descobertas do novo estudo são evidências geológicas que podem auxiliar os especialistas neste sentido. A ruptura lenta e em etapas explica a existência de fragmentos abandonados de placas tectônicas e explosões incomuns de atividade vulcânica.
À medida que cada fragmento se desprende, ele remodela a superfície da Terra. As novas bordas podem criar “janelas” por onde o manto quente sobe, desencadeando atividades vulcânicas. Com o tempo, os limites das placas migram, novas microplacas se formam, e o ciclo se repete. “É uma ruptura progressiva, um episódio de cada vez”, disse Shuck. “Combina muito bem com o que vemos no registro geológico, onde as rochas vulcânicas se tornam mais jovens ou mais velhas em uma sequência que reflete esse rompimento gradual.”
Os pesquisadores agora estão investigando se um terremoto poderia romper uma dessas fissuras recém-descobertas, ou se as fendas poderiam influenciar a propagação dessas rupturas. Embora essas descobertas ajudem a refinar modelos de como as complexidades estruturais afetam o comportamento dos terremotos, elas não alteram significativamente a perspectiva de risco para a Cascadia. A região continua capaz de produzir terremotos e tsunamis de grandes proporções, e compreender como essas novas fissuras influenciam os padrões de ruptura aprimorará as previsões destes fenômenos.
Fonte: UOL.
