Desde abril de 2023, o conflito entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) e as Forças de Suporte Rápido (RSF, na sigla em inglês) está destruindo o Sudão. O primeiro grupo é liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhan e o segundo é comandado pelo general Mohamed Hamdan Dagalo (Hemedti).
Embora todos os civis sejam afetados pela violência, a situação é mais grave para os cristãos, que são uma minoria indesejada no país. Há evidências de abusos dos direitos humanos e muitos relatórios apontam as RSF como responsáveis. Mas fontes locais afirmam que os civis estão sendo atacados pelos dois grupos. Um dos locais dos ataques é El Fashir, onde mais de dois mil civis foram executados pelas RSF.
A equipe de pesquisa sobre a guerra no Sudão da Universidade de Yale denuncia: “Estas ações devem ser consideradas crimes de guerra. Observamos o crescimento de uma área de sepultamento totalmente nova com mais de 60 novas valas comuns que foram construídas em apenas duas semanas”.
Quais são as consequências da guerra no Sudão?
Estima-se que mais de 150 mil pessoas tenham sido mortas desde o início dos combates e mais de 10 milhões de pessoas precisaram fugir de suas casas e comunidades, tornando-se deslocadas internas. Além disso, cerca de 4 milhões de pessoas se refugiaram em países vizinhos.
A guerra gerou uma grave insegurança alimentar aos civis que permanecem no Sudão. Eles passam fome porque organizações de ajuda enfrentam restrições severas de acesso e locomoção, impedindo a entrega de alimentos e suprimentos básicos.
Quem está em guerra no Sudão?
As Forças de Suporte Rápido (RSF) e as Forças Armadas Sudanesas (SAF) estão em guerra para governar o Sudão após a queda do governo de transição, em 2021. As SAF exige que as RSF se integre totalmente às suas fileiras e estrutura de comando.
As SAF nasceram da milícia Janjaweed, que foi acusada de genocídio em Darfur. Também ajudaram a derrubar o ex-presidente al-Bashir (2019) e o governo civil de transição (2021). Atualmente, controlam a maior parte do Norte e Leste do país e têm Porto Sudão como quartel-general. Também retomaram a capital, Cartum, no início de 2025, mas a cidade continua em ruínas.
Segundo a rede de notícias BBC, ministérios do governo, bancos e grandes edifícios de escritórios permanecem destruídos em Cartum. Hospitais e clínicas também foram destruídos por ataques aéreos e artilharia, às vezes com pacientes ainda dentro. A cidade continua insegura devido à retomada de ataques de drones contra alvos da SAF e infraestruturas estratégicas, como o aeroporto.
As SAF também retomaram o controle da maior parte do crucial estado de Gezira, após a capital do estado, Wad Madani, sofrer um ataque e cair sob controle das RSF no final de 2023.
As RSF formaram um governo rival, levantando temores de que o Sudão possa se dividir pela segunda vez (o Sudão do Sul se separou em 2011 e levou a maior parte dos campos de petróleo do país).
As RSF controlam a maior parte da região de Darfur (no Sudoeste) e as províncias vizinhas de Kordofan, a leste de Darfur. O combate mais intenso nas últimas semanas ocorreu ao redor da capital do Norte de Darfur, El Fasher. Há um temor de que a batalha se mova em direção a El Obeid, a capital de Kordofan do Norte, rica em petróleo.
Houve tentativas de finalizar a guerra no Sudão?
Houve várias iniciativas de mediação nos conflitos no Sudão. A União Africana não conseguiu fazer com que os grupos entrassem em acordo e finalizassem a guerra. Os esforços atuais de mediação de paz são liderados por quatro países – denominados Quad: Estados Unidos, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Há acusações contra os Emirados Árabes Unidos de suposta cumplicidade nas ações violentas das forças paramilitares. O encontro de armas de pequeno porte, como fuzis, e motores para veículos blindados fabricados na Grã-Bretanha nas áreas de luta sugerem que os Emirados Árabes Unidos estejam fornecendo as armas britânicas para o conflito.
Fontes disseram à Portas Abertas que a paz real não será alcançada apenas punindo ou negociando diretamente com os dois lados em guerra (SAF e RSF) porque há parceiros externos sustentando os conflitos.
Como os cristãos são afetados pela guerra no Sudão?
Os cristãos representam cerca de 4% da população do país e são vistos como uma minoria indesejada. Tanto as SAF quanto as RSF possuem ideologias baseadas no islamismo radical, assim, não respeitam a liberdade religiosa no país e consideram cristãos como inimigos.
Em cidades como Wadi Halfa, as autoridades locais forçaram grupos de cristãos a se dispersarem e proibiram celebrações religiosas como o Natal. Líderes de igrejas e cristãos foram encontrados mortos, como o pastor Martino Mathiew Miyan, em El Fashir. Suspeita-se que eles sejam assassinados por serem cristãos ou por suposta associação com as SAF.
Um pastor de Porto Sudão testemunha: “Esta guerra causou a falta de oportunidades de trabalho e um aumento no preço dos bens. Todos estão sem esperança, sem saber como agir ou como viver. Você consegue comer apenas uma refeição por dia, às vezes, nada. As pessoas estão enfrentando uma vida difícil”.
O líder cristão continua: “Quanto a mim, que sou um servo na igreja, a coisa que mais me afeta é que eu não tenho uma fonte de renda fixa. Não posso deixar a igreja para procurar um emprego, porque isso afetaria o serviço da igreja. Eu nem sequer tenho dinheiro para o transporte. Hoje, eu vim sem nada no bolso. Tenho menos de um dólar, ainda assim, sou grato porque Deus é o nosso provedor”.
Outro problema causado pelos conflitos é o trauma emocional. Um parceiro local no Sudão explica: “Muitas pessoas não compreendem qual é o seu problema. Elas pressupõem que têm outros problemas médicos, mas na verdade são perturbações psicológicas”. Outro líder de igreja complementa: “A igreja não está consciente dos sinais e efeitos do trauma e da necessidade de cuidados. É muito triste”.
Como a Portas Abertas apoia cristãos perseguidos no Sudão?
A Portas Abertas fornece socorro emergencial aos cristãos mais vulneráveis no Sudão. O apoio alimentar incluiu farinha, óleo, açúcar e enlatados. Também são distribuídos alguns kits de higiene nos acampamentos. Desde 2023, 12.221 pedidos de ajuda de famílias sudanesas foram atendidos.
Além disso, a Portas Abertas exorta a comunidade internacional a fazer tudo ao seu alcance para acabar com o derramamento de sangue e forçar as potências internacionais a interromperem o apoio aos combatentes, para cessarem imediatamente o conflito.
Como posso ajudar cristãos perseguidos no Sudão?
Além de orar pelos cristãos perseguidos no Sudão, você pode doar e garantir o socorro imediato aos seguidores de Jesus que possuem necessidades de alimentação e itens básicos de sobrevivência.
