Uma enorme seção da muralha de Jerusalém do período hasmoneu foi descoberta no Museu da Torre de Davi, revelando um dos segmentos mais completos e extensos já encontrados da era dos Macabeus. A imponente fortificação, construída no final do século II a.C., estende-se por mais de 40 metros de comprimento e mede aproximadamente 5 metros de largura – um testemunho da força de Jerusalém durante o período em que a soberania judaica foi restaurada após a revolta dos Macabeus.
A escavação da Autoridade de Antiguidades de Israel, realizada em preparação para a nova Ala Schulich de Arqueologia, Arte e Inovação do Museu, no histórico complexo de Kishle, revelou o que fontes antigas chamavam de “Primeira Muralha”. A estrutura é meticulosamente construída com grandes e pesadas pedras, apresentando o relevo cinzelado característico da arquitetura hasmoneia. Embora a enorme muralha originalmente tivesse mais de dez metros de altura, apenas seus alicerces permanecem visíveis hoje.
Mas por que essa formidável estrutura defensiva – descrita pelo historiador Flávio Josefo, do século I d.C., como “inexpugnável” e fortificada por 60 torres ao longo de sua extensão – foi sistematicamente demolida?
A resposta se conecta diretamente ao período turbulento que se seguiu à vitória dos Macabeus. Os Sábios ensinam que os muros de Jerusalém representam não apenas proteção física, mas também a soberania espiritual da cidade. Quando o Rei Salomão dedicou o Primeiro Templo, ele declarou: “Mas, na verdade, habitará Deus na terra? Eis que nem os céus, nem o céu dos céus, te podem conter; quanto menos este templo que eu edifiquei!” (1 Reis 8:27). Contudo, os muros de Jerusalém simbolizavam a presença Divina habitando entre o povo judeu em sua terra, tornando sua destruição uma questão de significado tanto político quanto espiritual.
Segundo os diretores da escavação, Dr. Amit Re’im e Dra. Marion Zindel, da Autoridade de Antiguidades de Israel, a destruição do muro foi deliberada, e não resultado do tempo ou de um ataque aleatório. Dois cenários emergem dos registros históricos. O primeiro envolve Antíoco VII Sidetes, descendente de Antíoco IV Epifânio – o vilão da história de Hanucá – que sitiou Jerusalém entre 134 e 132 a.C. Flávio Josefo relata que o líder hasmoneu João Hircano I negociou a paz com Sidetes, usando tesouros do túmulo do Rei Davi para garantir os termos. O armistício exigia que Jerusalém desmantelasse suas fortificações como condição para o fim do cerco. O muro recém-descoberto pode ser uma evidência física desse doloroso acordo.
A segunda possibilidade aponta para o Rei Herodes, que procurou apagar a legitimidade dos Hasmoneus e estabelecer a sua própria dinastia. Destruir os seus monumentais projetos de construção, incluindo esta muralha da cidade, teria servido como uma declaração política: a era Hasmoneia tinha terminado e Herodes era agora soberano.
As evidências arqueológicas corroboram a história violenta da muralha. Escavações realizadas na década de 1980 na base da Primeira Muralha revelaram centenas de pedras de catapulta, pontas de flecha, pedras de funda e balas de chumbo – armas do cerco de Antíoco VII que não conseguiram romper a fortificação hasmoneia e caíram inofensivamente em seus alicerces. Esses artefatos estão agora em exibição no Museu da Torre de Davi em Jerusalém.
O complexo de Kishle, onde a muralha foi descoberta, possui sua própria história multifacetada. A estrutura da era otomana serviu como prisão durante os domínios turco e britânico, e posteriormente abrigou instalações da polícia israelense. Seu nome deriva da palavra turca para quartel. O edifício fica adjacente à cidadela tradicionalmente chamada de Torre de Davi, embora sua estrutura principal date do reinado de Herodes, e não da época do rei bíblico.
Esta seção da Primeira Muralha faz parte de um sistema defensivo mais amplo que outrora circundava a cidade expandida durante o período do Segundo Templo. Outros segmentos foram identificados no Monte Sião, na Cidade de Davi, no pátio da Cidadela e ao longo da parte externa da muralha ocidental da Cidade Velha de Jerusalém. Juntas, essas seções revelam como a dinastia Hasmoneia transformou Jerusalém de um modesto assentamento em uma capital fortificada, condizente com um Estado judeu soberano.
O Ministro do Patrimônio, Rabino Amichai Eliyahu, declarou: “Este segmento da antiga muralha da cidade de Jerusalém, descoberto pela Autoridade de Antiguidades de Israel, é uma prova tangível e comovente do poder e da importância de Jerusalém durante o período Hasmoneu. As descobertas arqueológicas nos permitem conectar-nos à continuidade histórica que nos une – gerações de judeus – a Jerusalém, e demonstram e exibem ao mundo o nosso orgulhoso patrimônio.”
O momento desta descoberta tem um significado especial. Enquanto judeus em todo o mundo celebram o Hanucá, comemorando a vitória dos Macabeus e a rededicação do Templo, este muro surge como prova física desse triunfo. Os Hasmoneus, que construíram esta fortificação, foram os mesmos líderes que derrotaram os gregos selêucidas, purificaram o Templo e reacenderam a menorá . Seu sucesso militar permitiu-lhes construir defesas que protegeriam Jerusalém por gerações.
Quando a nova Ala Schulich for inaugurada, os visitantes poderão ficar em pisos transparentes sobre essas pedras antigas, criando uma conexão visual e física direta com o passado hasmoneu de Jerusalém. A ala, financiada pela Fundação Schulich, criada pelo filantropo canadense Seymour Schulich, integrará a preservação arqueológica à arte contemporânea.
A descoberta deste trecho da muralha reforça o que os judeus afirmam há milênios: Jerusalém pertence ao povo judeu, sustentada por uma linhagem ininterrupta que se estende dos Macabeus até os dias atuais. As pedras falam por si mesmas – nenhum revisionismo histórico pode apagar o que jaz sob a superfície de Jerusalém. Cada escavação revela mais evidências da presença judaica contínua, da soberania e da conexão com esta terra. A Muralha Hasmoneia ergue-se como um monumento à independência judaica reconquistada, mesmo que sua destruição nos lembre que a soberania deve ser defendida em cada geração.
