O presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, descreveu o reconhecimento israelense da região somali da Somalilândia como “inesperado e estranho”, dizendo que, como moeda de troca, ele quer que o território aceite suas condições, o que pode trazer mudanças significativas à situação geopolítica.
Durante uma entrevista à Al Jazeera publicada na quarta-feira, ele lembrou que a Somalilândia vem reivindicando a questão da secessão há três décadas, e nenhum país no mundo a reconheceu. “Quanto a nós, temos tentado reunificar o país pacificamente”, enfatizou o líder somali. “Então, depois de 34 anos, foi muito inesperado e estranho que Israel de repente interviesse e dissesse: ‘Reconhecemos a Somalilândia'”, disse ele.
Nesse contexto, afirmou que três medidas foram acordadas entre Somalilândia e Israel: o reassentamento de palestinos no território da região, o estabelecimento de uma base militar israelense na costa do Golfo de Aden e a adesão da Somálida aos Acordos de Abraão. “Estas são as três exigências de Israel que a Somalilândia aceitou, segundo nossas informações. Portanto, não é um e não há três. Se essas três medidas forem implementadas, o que acontecerá no futuro? Isso abrirá a caixa de Pandora no mundo”, disse Mohamud.
Da mesma forma, ele disse que a Somália possui inteligência indicando que já há certo nível de presença israelense na Somalilândia, e que o reconhecimento israelense da região é simplesmente uma normalização do que já estava acontecendo de forma encoberta. Ele também denunciou que Tel Aviv recorrerá ao deslocamento forçado de palestinos e que sua presença na região não é para a paz.
- Israel se tornou na semana passada o primeiro estado do mundo a reconhecer a Somalilândia. Autoridades somalis rejeitaram categoricamente o que chamaram de “invasão flagrante” de Israel e alertaram que não permitiriam que seu território fosse usado como base para Israel conduzir guerras regionais. A maioria das nações africanas e árabes expressou apoio à Somália.
- O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enquadrou essa medida no “espírito” dos Acordos de Abraão e sugeriu que o gesto poderia abrir caminho para o reconhecimento eventual dos Estados Unidos.
- A Somalilândia, localizada no noroeste da Somália e com capital em Hargeisa, declarou independência em 1991, mas até a semana passada não havia obtido reconhecimento formal de nenhum Estado.
