Muito se tem falado sobre a nova parceria entre a China e o Irã. Havia rumores sobre tais acordos sendo discutidos desde pelo menos junho. Na verdade, essas negociações começaram há muito tempo, em 2016, quando o Irã finalizou seu acordo nuclear e o presidente chinês Xi Jinping se reuniu com o líder supremo aiatolá Ali Khamenei. Ambos os líderes anunciaram sua intenção de buscar uma parceria mais estreita. E agora um documento – que sugere que o Irã e a China estão entrando em uma parceria estratégica de 25 anos – vazou. Essa parceria não diz respeito apenas a questões comerciais, políticas e culturais, mas também tem um componente de segurança/militar. E isso certamente incomoda os EUA. O acordo trará muitos benefícios à economia do Irã (gravemente afetada pelas sanções) por meio da venda de gás e petróleo iranianos para a China. Também garante a segurança energética da China.
Levará algum tempo para que todo o acordo se torne público. De acordo com o suposto vazamento e com diversos especialistas, além de telecomunicações, saúde e outros setores importantes, o negócio também incluirá compartilhamento de inteligência e cooperação militar. O Irã é uma grande potência regional e sua localização (conectando a Ásia Central e o Oriente Médio) também o torna estratégico para o Belt and Road Initiative da China. Tanto o Irã quanto a China foram prejudicados pelo governo de Donald Trump – que busca um comércio com a China e impôs sanções ao Irã. As autoridades chinesas temem que os EUA possam pressionar outros países a não mais fornecer energia à China – e a política energética da China sempre foi de diversificar suas fontes.
Além disso, uma cooperação iraniano-chinesa abre caminho para que a China desempenhe um papel mais forte – e talvez diferente – no Oriente Médio. A abordagem “apolítica” (ou pragmática) chinesa concentra-se na paz de desenvolvimento e não necessariamente na “paz democrática” – isso basicamente significa que os chineses não estão interessados em promover guerras para expandir a “democracia” ou sua própria noção do que a democracia deveria ser.
Na verdade, a China não é o único ator-chave que se aproxima do Irã: a Rússia também. A Rússia e o Irã, é claro, são parceiros há algum tempo. Mas os laços Moscou-Teerã estão se desenvolvendo. O fato de o ministro Foregin do Irã, Mhammad Zarif, ter visitado Moscou três vezes nos últimos seis meses é um bom indicativo. Ambos os países têm desempenhado recentemente um papel importante na região do Oriente Médio em termos de dissuasão do terrorismo e reforço da estabilidade regional. Por exemplo, é amplamente reconhecido que a coalizão Rússia-Irã-Síria desempenhou um papel vital na neutralização e enfraquecimento da organização terrorista Estado Islâmico. Embora a presença militar chinesa na Síria fosse bastante modesta, ela aumentou durante o conflito sírio. Isso também mostra que a cooperação China-Irã deve ser entendida como parte de um contexto mais amplo,
O enviado dos EUA ao Irã, Brian Hoo, disse a repórteres em junho que a Rússia e a China ficariam “isoladas” (nas Nações Unidas) caso se opusessem à oferta dos EUA de estender o embargo de armas ao Irã (que termina em outubro). Alguns descreveram o Oriente Médio como o próximo “campo de batalha” onde ocorrerá uma disputa sino-americana pela hegemonia. Mas não é apenas o Oriente Médio. Essa disputa se estende ao próprio oceano.
Os EUA, de certa forma, dominaram os mares (substituindo a Inglaterra, que ocupava esse cargo). Mas isso está sendo desafiado por alguns novos desenvolvimentos que podem levar os Estados Unidos a perder sua atual supremacia naval. No ano passado, por exemplo, ocorreu um exercício naval conjunto Rússia-China-Irã sem precedentes (no Golfo de Omã e no Oceano Índico). No mesmo ano, a Marinha chinesa também deu uma grande demonstração de sua força e capacidade ao cruzar a chamada Linha Internacional de Data em um exercício marítimo – mostrando que está ativa não só na parte oeste do Oceano Pacífico, mas também pode chegar mais profundamente no Pacífico central e oriental. Bem, agora a China pode estar aumentando sua presença no Golfo Pérsico. Há sim uma disputa geopolítica pelos oceanos.
A geopolítica tradicional (ver Halford John Mackinder e Alfred Thayer Mahan) pode descrever a China e a Rússia como “potências terrestres” – enquanto o Reino Unido e os Estados Unidos seriam bons exemplos de “potências marítimas”. Parece, porém, que a China (e a Rússia também) estão olhando mais perto do oceano. E o Irã ocupa uma posição muito importante nessa disputa.