O aumento da tensão na guerra entre Rússia e Ucrânia fica cada dia mais evidente, principalmente após o ataque com drones feito em território russo há cerca de uma semana, no domingo (1º).
Nesta segunda-feira (9), um assessor do presidente da Vladimir Putin ameaçou uma “guerra nuclear” caso Ucrânia e Otan (Aliança Militar do Atlântico Norte) tentem reaver territórios ocupados pelas tropas russas no país, segundo a agência estatal russa Tass.
Vladimir Medinski, assessor de Putin que também lidera a delegação russa nas negociações diretas com a Ucrânia pelo fim do conflito, disse que seria “o fim do mundo” caso não haja a assinatura de uma “paz verdadeira” para encerrar a guerra. Ameaças de uso de armas nucleares não são novidade no conflito entre os dois países, que já dura três anos.
A Rússia, que herdou as armas nucleares da União Soviética, possui o maior número de ogivas nucleares do mundo, segundo a Federação dos Cientistas dos EUA, um think tank (instituto de análises políticas) americano (FAS, em inglês). Ogiva é uma arma nuclear “guardada” em uma cápsula para ser colocada na parte cilíndrica de um foguete, míssil ou projétil.
Essa quantidade de ogivas significa, na prática, que a Rússia poderia destruir o mundo “várias vezes”, segundo a agência Reuters.
Superpotência nuclear
Durante a Guerra Fria, a União Soviética chegou a ter 40 mil ogivas simultaneamente, enquanto os EUA possuíam cerca de 30 mil.
Putin controla 5.580 ogivas, segundo a Federação dos Cientistas dos EUA.
Destas, 4.380 estão armazenadas para uso em lançadores estratégicos de curta e de longa distância e outras 1.200 estão “aposentadas” – fora do arsenal oficial, mas provavelmente intactas, guardadas em bunkers –, de acordo com a FAS.
Das que estão armazenadas, 1.710 estão posicionadas: são cerca de 870 em mísseis balísticos para lançamento em terra, cerca de 640 para lançamento de submarinos e possivelmente 200 em bases aéreas, diz a Federação dos Cientistas.
Em quais situações armas nucleares seriam usadas?
A Rússia publicou em novembro de 2024 um novo texto de sua doutrina nuclear, na qual são estabelecidas as condições em que um presidente russo pode considerar usar uma arma nuclear:
- como resposta a um ataque à Rússia com armas nucleares ou outras armas de destruição em massa;
- no caso de uma ameaça crítica à soberania ou integridade territorial do Estado.
Quem dá a ordem para o lançamento de uma arma nuclear na Rússia?
Vladimir Putin é o principal responsável pela decisão sobre o uso de armas nucleares russas. Uma maleta nuclear, que possibilita o lançamento de ogivas, está sempre com o presidente.
Acredita-se que o ministro da Defesa russo, Andrey Belousov, e o chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, também tenham uma dessas maletas.
A maleta nuclear é uma ferramenta de comunicação que conecta o presidente aos seus principais militares e, em seguida, às forças de foguetes através da rede de comando e controle eletrônico altamente secreta chamada “Kazbek”.
Ela funciona assim: se a Rússia considerar que está sofrendo um ataque nuclear, Putin abre a maleta e envia uma ordem de lançamento direto para o comando do Estado-Maior e unidades de comando de reserva que detêm códigos nucleares. Tais ordens se propagam rapidamente por diferentes sistemas de comunicação para unidades de força de foguetes estratégicos, que então lançam mísseis, que poderiam ter os Estados Unidos e a Europa como alvos.
Se um ataque nuclear for confirmado, Putin também poderia ativar um sistema de último recurso, chamado “Dead Hand” ou “Perimetr”, em que computadores decidiriam o dia do juízo final. Um foguete de controle ordenaria ataques nucleares de todo o arsenal russo.
A Rússia realizará testes nucleares?
Putin afirmou que a Rússia consideraria testar uma arma nuclear caso os Estados Unidos o fizessem.
Em 2023, o presidente russo assinou uma lei que retirou a Rússia do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT, na sigla em inglês).
Até hoje, a Rússia pós-soviética não realizou nenhum teste nuclear.
Segundo a Associação de Controle de Armas, organização sediada nos EUA, desde o colapso da União Soviética, em 1991, apenas alguns países testaram armas nucleares: os Estados Unidos testaram pela última vez em 1992; China e França, em 1996; Índia e Paquistão, em 1998; e Coreia do Norte, em 2017.
A União Soviética testou pela última vez em 1990.
O Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares foi assinado pela Rússia em 1996 e ratificado em 2000. Os Estados Unidos assinaram o tratado em 1996, mas ainda não o ratificaram.
Novas armas nucleares
Os EUA afirmaram em 2022, em sua Revisão da Posição Nuclear, que Rússia e China estavam expandindo e modernizando suas forças nucleares, e que Washington (capital dos EUA) deveria adotar uma postura baseada no controle de armas, de forma a evitar corridas armamentistas de alto custo.
“Ao mesmo tempo em que a retórica nuclear da Rússia é motivo de preocupação, o arsenal e as operações nucleares russas mudaram pouco desde as nossas estimativas de 2023 para além do atual processo de modernização”, diz a FAS em sua análise de 2024.
“No futuro, porém, o número de ogivas disponibilizadas para as forças estratégicas russas pode aumentar, com mísseis de ogiva única dando lugar a mísseis equipados com múltiplas ogivas”, completa o FAS.
Guerra, tensões com o Ocidente e eleições
A Rússia está em guerra com a Ucrânia há três anos, após Putin ordenar uma invasão em larga escala em território ucraniano em fevereiro de 2022.
As tensões na guerra estão acirradas nas últimas semanas, após o ataque a drones feito pela Ucrânia em solo russo, o maior ataque do tipo desde o início do conflito.
Fonte: G1.