Na terça-feira (27), o Egito entregou sua primeira ajuda militar à Somália em mais de quatro décadas, disseram três fontes diplomáticas e do governo somali, em uma ação que provavelmente aprofundará as tensões entre os dois países e a Etiópia.
Dois aviões militares egípcios chegaram ao aeroporto de Mogadíscio na manhã de terça-feira (27) com armas e munições, disseram dois diplomatas e uma alta autoridade somali à Reuters, falando sob condição de anonimato.
Um vídeo compartilhado nas redes sociais e verificado pela mídia mostrou os aviões na pista do aeroporto.
Egito e Somália se aproximaram este ano depois que a Etiópia assinou um acordo preliminar com a Somalilândia, república separatista não reconhecida localizada na parte noroeste da Somália, para arrendar terras costeiras em troca do possível reconhecimento de sua independência da Somália.
Um dos diplomatas disse que a Somália estava “brincando com fogo” ao importar armas egípcias e antagonizar a Etiópia.
A oferta egípcia de contribuir com tropas para uma nova missão de manutenção da paz a ser lançada no ano que vem na Somália foi anunciada em um comunicado da União Africana no início deste mês. Cairo não comentou o assunto publicamente, relata a agência.
A Turquia sediou duas rodadas de negociações indiretas desde julho entre a Somália e a Etiópia sobre o acordo da Somalilândia, que ainda não foi finalizado. Uma terceira rodada é esperada para o mês que vem.
“Se os egípcios colocarem tropas no chão e enviarem tropas ao longo da fronteira com a Etiópia, isso poderá levar os dois países a um confronto direto. A ameaça de uma guerra direta é baixa, mas um conflito por procuração é possível”, disse Rashid Abdi, analista do think tank Sahan Research, ouvido pela agência.
A Etiópia, sem litoral, precisa de acesso ao mar. Mogadíscio insiste que a Somalilândia, que não obteve reconhecimento internacional apesar de desfrutar de autonomia prática por mais de 30 anos, é parte da Somália.
O Egito, em desacordo com a Etiópia há anos sobre a construção de uma vasta represa hidrelétrica por Adis Abeba nas nascentes do rio Nilo, condenou o acordo da Somalilândia, assinou um pacto de segurança com Mogadíscio no início deste mês e se ofereceu para enviar tropas para uma nova missão de manutenção da paz no país.