O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu neste sábado aos palestinos que se unam pela “vitória” em meio à guerra de Israel em Gaza, após conversas de horas com o chefe do Hamas, Ismail Haniyeh, em Istambul, informou seu gabinete.
Erdogan, que chamou o Hamas de “grupo de libertação” e Israel pior do que os nazistas, tentou e não conseguiu estabelecer uma posição como mediador no conflito de Gaza que assola a região.
Erdogan disse que a unidade palestina é “vital” após as negociações no Palácio Dolmabahce, às margens do estreito de Bósforo, que, segundo a imprensa turca, duraram mais de duas horas e meia.
“A resposta mais forte a Israel e o caminho para a vitória estão na unidade e integridade”, disse Erdogan, de acordo com um comunicado da presidência turca.
O Hamas – considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, União Europeia e Israel – é um rival da facção Fatah que governa a Autoridade Palestina semiautônoma na Cisjordânia.
Em meio a temores de uma guerra regional mais ampla, Erdogan disse que os recentes eventos entre Irã e Israel não devem permitir que Israel “ganhe terreno” e que “é importante agir de uma forma que mantenha a atenção em Gaza”.
O ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, condenou a reunião, escrevendo em X: “Aliança da Irmandade Muçulmana: estupro, assassinato, profanação de cadáveres e queima de bebês. Erdogan, que vergonha!”
O Hamas foi fundado por membros da Irmandade Muçulmana em 1987.
Laços estreitos com Haniyeh
Com o Catar dizendo que reavaliará seu papel como mediador entre o Hamas e Israel, Erdogan enviou seu ministro das Relações Exteriores, Hakan Fidan, a Doha na quarta-feira, em um novo sinal de que quer um papel.
“Mesmo que apenas eu, Tayyip Erdogan, permaneça, continuarei enquanto Deus me der a minha vida, a defender a luta palestina e a ser a voz do povo palestino oprimido”, disse o presidente na quarta-feira, quando anunciou a visita de Haniyeh.
O Hamas tem um escritório na Turquia desde 2011, quando a Turquia ajudou a garantir o acordo para o grupo libertar o soldado israelense Gilad Shalit.
Erdogan manteve ligações com Haniyeh, que tem sido um visitante frequente.
Fidan foi um ex-chefe da inteligência turca e o país forneceu informações e passaportes a funcionários do Hamas, incluindo Haniyeh, de acordo com Sinan Ciddi, especialista em Turquia da Fundação para a Defesa das Democracias em Washington.
No entanto, isso nunca foi confirmado pelas autoridades turcas.
Erdogan critica Israel
Se o Catar se retirar dos esforços de mediação, a Turquia poderia tentar aumentar seu perfil de mediação com base em suas ligações com o Hamas. É improvável que Israel aceite Ancara no papel em meio à crise nos laços entre os países.
Fidan conversou no sábado com o ministro das Relações Exteriores egípcio, Sameh Shoukry, com ambos enfatizando a necessidade de entregar mais ajuda humanitária à Gaza devastada, onde a ameaça da fome se aproxima.
A Turquia é um dos principais parceiros de ajuda humanitária de Gaza, enviando 45.000 toneladas de suprimentos e medicamentos para a região.
Mas Erdogan só pode esperar um papel “muito limitado” por causa de sua condenação declarada de Israel e suas ações em Gaza, de acordo com Ciddi.
No ano passado, o líder turco comparou as táticas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu às do líder nazista Adolf Hitler e chamou Israel de “Estado terrorista” por causa de sua ofensiva contra o Hamas após os ataques do grupo terrorista em 7 de outubro contra Israel.
Ciddi disse que Erdogan não seria bem-vindo em Israel e, no máximo, poderia passar mensagens entre negociadores palestinos e israelenses.
Os ataques sem precedentes do Hamas que desencadearam a guerra em Gaza resultaram na morte de cerca de 1.200 pessoas no sul de Israel, a maioria civis. Os terroristas também fizeram 253 reféns. Acredita-se que 129 reféns permaneçam em Gaza – nem todos vivos.