O mundo provavelmente verá o aquecimento global ultrapassar o marco de 1,5°C em comparação com níveis pré-industriais nos próximos cinco anos, alertou nesta quarta-feira a Organização Meteorológica Internacional. Há uma janela de oportunidade para que o cenário seja revertido até o fim do século, segundo o braço da Organização das Nações Unidas, mas para isso é necessário ação muito mais rápida e eficaz do que a vista até agora.
A chance de que o limite de 1,5°C, considerado essencial para evitar um cataclismo, seja rompido entre 2023 e 2027, é de dois terços — é a primeira vez que o pêndulo tende para mais provável do que para menos. No relatório anual de 2022, a previsão era de 50%. A temperatura média do planeta pode chegar a aumentar 1,8°C no próximo quinquênio, apesar de isso ser mais provável.
Cada meio grau é chave para evitar mudanças climáticas extremas que põem em risco a vida na Terra, como secas e enchentes cada vez mais frequentes e graves e o aumento do nível dos oceanos que ameaça extinguir pequenos Estados-ilha. Segundo previsões de relatórios prévios da ONU, por exemplo, uma seca extrema que sem interferência antropogênica aconteceria uma vez por década, passaria a ocorrer 4,1 vezes se a temperatura do planeta subir 1,5ºC até o fim do século.
“Nós realmente agora estamos na margem de probabilidade de exceder 1,5°C na média anual, e é a primeira vez que estivemos tão perto”, afirmou Adam Scaife, chefe de projeções de longo prazo do Met Office, o escritório meteorológico do Reino Undo, que produziu o relatório para a OMI.
Limitar o aquecimento global ao marco é parte do emblemático e vinculante Acordo de Paris, firmado na COP21, a conferência da ONU sobre o clima de 2015. Ele almeja limitar o aquecimento global em 2100 a até 2ºC em comparação aos níveis pré-industriais e, idealmente, mantê-lo inferior a 1,5ºC — patamar que foi reforçado há dois anos na COP26, em Glasgow, e ano passado na COP27, no balneário egípcio de Sharm el-Sheikh.
A constatação do relatório recém-divulgado não significa necessariamente que o pacto de Paris foi um fracasso, já que o cenário pode ser mitigado até o fim do século, mas é o mais recente de uma série de alertas. Na entrevista coletiva de lançamento, Leon Hermanson, cientista que produziu o relatório, contudo, afirmou que a catástrofe está “cada vez mais perto”.
A conclusão está de acordo com parte do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado em março, que afirma haver “uma janela de oportunidade que se fecha rapidamente para garantir um futuro habitável e sustentável para todos”. O mesmo documento, que sintetizou um ciclo de avaliações iniciado em 2018, afirma ser provável que o mundo exceda o 1,5°C até 2100.
Todos os caminhos pare reverter o cenário, alerta o documento, envolvem “rápidas, profundas e, na maioria dos casos, imediatas reduções de emissões em todos os setores” até 2030. A urgência é enorme, destacam os especialistas, afirmando que opções hoje viáveis se tornarão ineficazes ou inviáveis conforme a temperatura planetária aumenta.
Fonte: Exame.