O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou por telefone nesta quinta-feira (9) com o presidente da Ucrânia e nove aliados da Otan no leste da Europa para transmitir seu apoio em caso de um ataque russo à Ucrânia e a promessa de severas sanções econômicas contra Moscou se isto ocorrer.
Os contatos acontecem num momento em que os Estados Unidos e seus aliados europeus pressionam o presidente Vladimir Putin para que se afaste da fronteira com a Ucrânia, onde concentrou mais de 100 mil soldados nas últimas semanas, aumentando os temores de uma possível invasão.
Biden falou com o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para oferecer o seu apoio frente a um eventual ataque de Moscou.
Zelensky agradeceu a Biden por seu “apoio constante, firme e decidido à soberania e à integridade territorial” da Ucrânia e “reafirmou seu compromisso com a busca da paz”, informou a presidência ucraniana em um comunicado após a conversa.
A Casa Branca informou que após este telefonema, Biden conversou por 40 minutos com os líderes de Bulgária, República Tcheca, Hungria, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Eslováquia — que, ao contrário da Ucrânia, se juntaram à Otan após o colapso da União Soviética em 1991.
Pressão e sanções
“Deixei bem claro que, se invadir a Ucrânia, haverá consequências, graves consequências, consequências econômicas como nunca se viu antes”, declarou Biden na quarta-feira, um dia após uma reunião de duas horas com o presidente russo.
Kiev também recebeu apoio dos principais aliados europeus dos Estados Unidos. O novo chanceler alemão, Olaf Scholz, ameaçou na quarta-feira com possíveis “consequências” sobre o desenvolvimento e a ativação do gasoduto Nord Stream II – que conecta a Rússia com a Alemanha – se as tropas de Moscou invadirem a Ucrânia.
“Nossa posição é muito clara, queremos que todos respeitem a inviolabilidade das fronteiras. Todos devem entender que, em caso contrário, haverá consequências”, declarou Scholz em sua primeira entrevista após assumir o poder.
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, e o presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, concordaram na quarta-feira, após um telefonema, “sobre a necessidade de impor sanções rápidas e severas à Rússia” caso a escalada militar se intensifique.
Reino Unido e França também se juntaram ao coro de vozes europeias que pedem moderação a Putin. O Ministério de Relações Exteriores francês advertiu em uma nota sobre as “consequências estratégicas e maciças” que a Rússia enfrentaria em caso de uma agressão à Ucrânia.
Preocupação defensiva
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, posam para foto antes da reunião em Villa la Grange, em Genebra, na Suíça, em 16 de junho de 2021 — Foto: Denis Balibouse/Reuters
A Rússia, que anexou a península da Crimeia em 2014, nega qualquer intenção bélica contra seu vizinho, mas se opõe categoricamente à entrada de Kiev na Otan.
Moscou pede “garantias jurídicas confiáveis” de que isso não vai acontecer, e também manifestou sua preocupação com as atividades crescentes da Otan no Leste Europeu.
Putin disse a Biden na quarta-feira que a Rússia tem o “direito de defender sua segurança” e acrescentou que permitir, sem reagir, a aproximação da Otan de suas fronteiras seria “criminoso”.
“Não podemos não ficar preocupados com a eventual admissão da Ucrânia na Otan, porque isso seria acompanhado, sem sombra de dúvida, por um destacamento de contingentes militares, de bases e de armamentos que são ameaças para nós”, acrescentou.
Sem tropas para a Ucrânia
Biden afirmou que a “obrigação sagrada” que une os EUA aos países da aliança transatlântica “não se estende para a Ucrânia”, excluindo, por ora, o envio de tropas, pois aos Estados Unidos não interessa um confronto direto com os russos.
Contudo, o líder americano advertiu que um ataque russo levaria a um reforço da presença militar americano nos países-membros da Otan no Leste Europeu.
Também garantiu, “claramente à Ucrânia”, que, em caso de um ataque, os Estados Unidos vão lhe proporcionar “meios de defesa”.
Kiev receberá “armas leves e munições”, enviadas esta semana como parte de um plano de apoio aprovado por Biden, anunciou na quarta-feira o porta-voz do Pentágono, John Kirby.
Além disso, Washington oferece ajuda para o treinamento das forças ucranianas e prometeu mais de 2,5 bilhões de dólares para fortalecer um Exército que ruiu em face da incursão russa para anexar a Crimeia em 2014.
O presidente ucraniano, que vem pedindo há meses mais apoio de seus aliados ocidentais, considerou “positivo” o encontro entre Biden e Putin.
“Agora, vemos uma verdadeira reação pessoal e um papel pessoal do presidente Biden na resolução do conflito”, disse Zelensky em uma coletiva de imprensa.
Kiev acusa o Kremlin de apoiar os separatistas pró-Rússia da região de Donbass, no leste do país, algo que Moscou nega. O conflito interno começou logo depois da anexação russa da Crimeia e já deixou mais de 13 mil mortos.
A Ucrânia se comprometeu esta semana, antes do feriado de Natal, a negociar um cessar-fogo, a libertação de detidos e a reabertura de viagens nas áreas disputadas do leste do país.
Em meio ao clima de tensão, o ministério da Defesa russo afirmou por meio de um comunicado nesta quinta-feira ter enviado caças para interceptar e escoltar aeronaves militares americanas e francesas que voavam perto de suas fronteiras no Mar Negro.
As cinco aeronaves deram meia-volta e, em seguida, os caças russos retornaram para sua base, informou o ministério.
Fonte: AFP.