O primeiro-ministro da China, Li Qiang, afirmou na quarta-feira (6) que as grandes potências devem “evitar uma Guerra Fria” durante a reunião de cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que acontece na Indonésia e tem a participação da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris.
Pequim já expressou preocupação com a formação de blocos geopolíticos apoiados por Washington na região, mas também enfrenta críticas de outros países por questões como suas reivindicações sobre a quase totalidade do Mar da China Meridional.
“Podem surgir divergências e disputas entre países por mal-entendidos, interesses divergentes ou interferências externas”, declarou Li durante uma reunião com os líderes do Japão, da Coreia do Sul e da Asean.
“Para manter estas disputas sob controle, o essencial agora é não tomar partido, opor-se à confusão entre blocos e evitar uma nova Guerra Fria”, afirmou.
Em junho, o ministro da Defesa da China, Li Shangfu, fez uma advertência contra a criação de alianças do tipo Otan na região Ásia-Pacífico e pediu uma “cooperação inclusiva, em vez de pequenas camarilhas”.
Os governantes dos 10 países da Asean (Mianmar, Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietnã) celebrarão encontros separados com China, Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e Canadá, que permitirão a estas potências pressionar o bloco.
Compromisso americano
As reuniões de quarta-feira precedem a organização na quinta-feira da Cúpula do Leste Asiático, que tem 18 países membros e contará com a participação do ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. O encontro deve abordar temas geopolíticos mais amplos.
A vice-presidente americana Kamala Harris, que representa o presidente Joe Biden, agradeceu aos líderes da Asean por seu “compromisso compartilhado com as regras e normas internacionais (…) e as questões regionais”.
Em uma demonstração do interesse crescente dos Estados Unidos com a região, Harris anunciou a criação de um primeiro centro EUA-Asean em Washington.
O presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, advertiu os líderes de Asean sobre colaborações com a Coreia do Norte, que, segundo o governo dos Estados Unidos, está em negociações para vender armas à Rússia.
“Qualquer tentativa de forjar uma cooperação militar com a Coreia do Norte, que atua para minar a paz na comunidade internacional, deve ser contida imediatamente”, afirmou Yoon, informou a agência sul-coreana Yonhap.
A Indonésia, país anfitrião, afirmou na terça-feira que a Asean não pode ser cenário de disputas entre as grandes potências, em um cenário de tensões entre Estados Unidos e China a respeito de Taiwan, o Mar da China Meridional e a invasão russa da Ucrânia.
A mesa redonda com Lavrov e Harris será o primeiro encontro de alto escalão dos dois países desde uma reunião de ministros das Relações Exteriores em julho em Jacarta, onde autoridades dos Estados Unidos e da Europa criticaram o ministro russo pela invasão do território ucraniano.
Disputas marítimas
Mianmar e as disputas pela soberania no Mar da China Meridional são outros temas importantes do encontro.
Os líderes da Asean condenaram com veemência na terça-feira a violência e os ataques contra civis em Mianmar, que atribuíram diretamente à junta militar, que tem na China um importante aliado.
A junta birmanesa acusou na quarta-feira o bloco de ser “parcial” e pediu que a Asean respeite o princípio de “não interferência em assuntos internos dos Estados membros”.
Pequim também irritou na semana passada vários membros da Asean, como Vietnã, Malásia e Filipinas, ao divulgar um mapa que reivindicava a soberania sobre quase todo o Mar da China Meridional.
Um diplomata regional disse à AFP que as declarações conjuntas das reuniões “farão referências ao Mar da China Meridional e Mianmar”.
Os líderes expressarão preocupações com as “reivindicações de território, as atividades e os graves incidentes” neste mar disputado, segundo um rascunho de comunicado da presidência da Asean consultado pela AFP.
Analistas, no entanto, consideram que o bloco evitará irritar Pequim.
“Não vão arriscar sua relação com as grandes potências”, declarou à AFP Aleksius Jemadu, professor de Relações Internacionais da Universidade Pelita Harapan, da Indonésia.
Fonte: AFP.