A China delineou seu limite no que toca às relações sino-americanas e demonstrou impossibilidade de haver compromisso nos casos de Hong Kong e Taiwan, mesmo afirmando que ainda poderá haver diálogo e cooperação em outras esferas.
Em coletiva de imprensa anual, no domingo (7), o ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, citou as preocupações ligadas ao desenvolvimento das relações sino-americanas, afirmando que Pequim poderia trabalhar com os EUA em vários assuntos, tais como controle da pandemia, recuperação econômica e alterações climáticas, segundo o South China Morning Post.
No entanto, o chanceler chinês sublinhou que há determinadas questões em que as relações entre os dois países deveriam se basear no princípio de não interferência em assuntos domésticos e respeito à soberania nacional.
“Os EUA sempre interferem nos assuntos de outras nações sob pretexto de direitos humanos e democracia. Contudo, estão criando muitos problemas, e isso é a origem do caos no mundo […]. Enquanto os EUA não estiverem cientes disso, o mundo não terá paz”, declarou Wang no Congresso Nacional do Povo, citado pela mídia chinesa.
Wang descreveu Taiwan como uma “linha vermelha” que não deve ser ultrapassada, e aconselhou a Casa Branca a abdicar da relação com a ilha, reforçada pela administração Trump.
“O governo chinês não tem espaço para compromisso nem para concessão no que diz respeito a Taiwan […]. Advertimos a nova administração norte-americana a estar completamente ciente da sensibilidade da questão taiwanesa […] e a mudar completamente as práticas de ‘atravessar a linha’ e ‘brincar com o fogo’ do governo anterior”, acrescentou o ministro chinês, citado pelo South China Morning Post.
Segundo Wang Yi, Taiwan, o mar do Sul da China, Xinjiang e Hong Kong são assuntos internos da China, e como tal devem ser geridos pela nação chinesa.
As declarações firmes de Wang foram expressas após Washington ter caracterizado o plano chinês de alteração do sistema eleitoral de Hong Kong como um “ataque direto” à autonomia e a processos democráticos do território autônomo.
Nos últimos anos, as relações sino-americanas demonstram deterioração ocasionada por guerra econômica, tensão geopolítica no mar do Sul da China, conflitos ideológicos e acusações vindas de Washington de abuso de direitos humanos em Xinjiang e Hong Kong.
“Como duas nações com sistemas sociais diferentes, é inevitável que a China e os EUA tenham diferenças. A solução é que ambos devem gerir suas diferenças por meio da comunicação sincera, evitando mal-entendidos estratégicos e confronto”, rematou Wang em um tom mais brando e, de certo modo, conciliador, citado no texto.
Pequim tenciona dar outra chance para as relações China-EUA, pois o presidente chinês, Xi Jinping, sabe que confronto com os EUA apenas resultaria em desastre. Porém, não obstante, o requerimento para Washington respeitar os limites de Pequim se mantém.
Na opinião de Huang Jing, diretor do Instituto de Estudos Internacionais e Regionais da Universidade de Línguas e Cultura de Pequim, o chanceler chinês evitou classificar a rivalidade entre EUA e China como competição estratégica, algo que os EUA e muitos outros países ocidentais têm feito nos últimos anos.
“O maior problema em lidar com as relações EUA-China é o fato de Washington ver Pequim como sua principal adversária – e ameaça – econômica, de segurança nacional, e geoestratégica […]. Pequim, obviamente, está ciente dos riscos [em ser uma competidora estratégica] e Wang está apelando a ambos os lados que regulem suas diferenças e tensões”, explica Huang, citado pela mídia.