O abalo sísmico de magnitude 4 registrado na manhã de terça-feira (18), em Frutal, no Triângulo Mineiro, foi o mais forte dos últimos 9 anos na região, segundo a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR). Apenas em 2024, foram 27 tremores na cidade, segundo o geofísico Juraci Mário de Carvalho, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.
Embora todos sejam considerados de baixa magnitude, a quantidade de tremores chama atenção dos especialistas. Em cidades vizinhas, no mesmo período, também foram registrados abalos, mas com uma frequência bem menor, 3 em Planura e 1 em Pirajuba.
Não foi identificada uma causa específica para tantas atividades sísmicas. Segundo a Rede Sismográfica Brasileira, tremores de baixa magnitude são relativamente comuns no Brasil, causados por pressões geológicas da movimentação das placas tectônicas, que são fraturas na crosta terrestre.
A ação humana, em alguns casos, também pode causar eventos sísmicos, porém, o geofísico não acredita que seja o caso de Frutal, que não é uma região conhecida por atividades intensas a tal ponto.
Por que os tremores acontecem?
O Observatório Sismológico da Universidade de Brasília tem estações próprias instaladas na região e, por isso, tem mais precisão e capacidade de registrar eventos de magnitude menor, o que é mais difícil de ser captado.
Segundo o geógrafo e professor João Paulo Santos Maia, esses abalos ocorrem por conta de uma colisão entre placas, ou seja, há uma pressão entre as placas tectônicas Sul-Americana e a de Nazca com a cadeia MesoAtlântica, causando os eventos sísmicos.
O Brasil se localiza em cima da placa Sul-Americana, que sofre contato com a placa de Nazca, localizada no Oceano Pacífico. Ao mesmo tempo, essa placa se afasta da placa Africana por conta da cadeia de montanhas Dorsal MesoAtlântica, que fica no fundo do Oceano Atlântico. Os tremores acontecem por conta de toda essa movimentação.
“Como o Brasil se localiza distante da área de contato entre as placas, os abalos sísmicos são de menor intensidade”, explica o geógrafo.
Essas placas, que são grandes blocos rochosos que compõem a crosta terrestre — a camada mais externa da Terra —, se movimentam constantemente, de forma lenta e dentro do limite entre elas. O calor do manto, que é uma camada mais interna da Terra e anterior à crosta, é o que causa o movimento das placas tectônicas.
O geógrafo explicou ainda que esses abalos sísmicos acontecem não somente pelo choque desses blocos rochosos entre si, mas também quando uma placa pressiona a outra. O tremor sentido na terça, cuja magnitude foi maior que os tremores registrados anteriormente na região, aconteceu por essa razão.
“Imagine duas mãos que batem uma na outra e depois continuam a se pressionar. Vai tremer, porque continuam se pressionando, mesmo depois do choque, que foi há mais tempo atrás”.
Apesar do elevado número de tremores nos primeiros seis meses de 2024 em relação a outras cidades da região, o geofísico Juraci Mário explica que todo ambiente intraplacas, como é o caso de Frutal, tem potencial para tremores.
Segundo ele, existem hipóteses documentadas e casos comprovados de que a ação humana pode desencadear um evento sísmico. No entanto, ele não acredito que seja a causa dos tremores registrados na cidade mineira.
“Uma mina que extrai muito material, tirando o peso, um reservatório de água que exerce um peso e infiltração de água no subsolo, poços artesianos que conectam aquíferos de camadas diferentes, infiltrando água, fracking para remoção de petróleo, é até teorias que o excesso de chuva possa propiciar a ocorrência de tremores. Mas não vejo uma razão que possa justificar a presença de tremor em Frutal e não em Uberaba, por exemplo”, disse Juraci.
Baixa magnitude
De acordo com o geógrafo João Paulo Santos Maia, o abalo sísmico de até 5 é considerado de baixa magnitude.
“Mas, para o Brasil, o valor de 4 pode ser considerado relativamente raro, já que tremores assim não são comuns no país”.
Por sua vez, tremores a partir de magnitude 5 podem causar estragos significativos e acima 6 são considerados graves. João disse ainda que não é possível prever tremores e terremotos, diferente de tsunamis e erupções vulcânicas.
“No Brasil, a gente sabe que vão acontecer os abalos sísmicos, quase todos os dias são registrados pelos sismógrafos, aparelhos que registram o movimento das placas. Só que são pequenos tremores, nada estrondoso”.
Moradores da região sentiram o abalo por pouco mais de 10 segundos, como demonstra o vídeo acima. Em comércios, foi possível observar prateleiras balançando e uma luz chega a estourar em uma casa.
O tremor foi seguido por outro na região, de magnitude 3,2, segundo a RSBR. A diferença entre eles foi de 11 minutos. O primeiro tremor foi sentido pelo moradores às 10h08 e o segundo, às 10h19. Outros dois foram registrados no dia, sendo um às 10h53 e outro às 13h38.
O epicentro do primeiro tremor variou entre 0 e 10 km de profundidade. O ponto central do abalo aconteceu na zona rural de Frutal, a cerca de 15 km do centro da cidade e também atingiu a vizinha Pirajuba, a cerca de 11 km do epicentro.
As informações são do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) e, em relação ao epicentro, sofrem uma margem de erro de um quilômetro para mais ou para menos.
Fonte: G1.