Centenas de satanistas compareceram, entre sexta (28) e domingo (30), a uma conferência promovida pelo Templo Satânico de Boston, nos EUA. Essa foi a segunda edição do evento, batizado de SatanCon. A primeira, realizada no ano passado, ocorreu em Scottsdale, no Arizona.
A conferência anual celebrou os dez anos do Templo Satânico e teve muitos participantes fantasiados, com chifres, camisetas com o número da besta, 666, e eventos como renovação de votos para casais, reversão do batismo e o “Baile Satânico” – com traje semiformal, música e bebidas.
A programação do evento, que teve todos os ingressos vendidos, incluiu mais de dez palestras, inclusive uma sobre o Brasil. Participantes também puderam visitar um mercado satânico com mais de 40 expositores. A organização exigiu que os visitantes fossem vacinados contra a covid-19 e que utilizassem máscaras de proteção.
Brasil em pauta
O cartaz do evento mostra que uma das apresentações da feira falava sobre o Brasil, mais especificamente sobre pânico satânico. Isso repercutiu em portais de temática gospel brasileiros, “alertando” contra a SatanCon.
Não há informações sobre o que foi discutido, especificamente, mas o termo pânico satânico vem da década de 1980, nos EUA, quando houve uma onda de medo e histeria em relação a supostos rituais satânicos envolvendo crianças. Quase nunca ficou comprovado esse tipo de ligação, e os casos geraram uma série de acusações falsas e condenações injustas, além de acabar afastando investigações da direção em que eles poderiam ser resolvidos.
Bíblia é rasgada
Durante a abertura da conferência, uma Bíblia foi rasgada junto com uma bandeira representando a polícia local. Segundo a performer, o ato teve o objetivo de “destruir símbolos de opressão”. Os participantes também puderam participar de rituais em que revertiam seus batizados.
Em resposta ao evento, manifestantes cristãos protestaram do lado de fora do Marriott Copley Place, onde a conferência era realizada. Também houve a organização de um evento contrário à SatanCon, chamado de “Revive Boston!”.
“Eu entendo a confusão, o medo. Mas, ao mesmo tempo, nós somos um grupo muito julgado. Nós somos como todo mundo, pagamos nossos impostos e queremos que nossas comunidades melhorem. Amamos nossos filhos como todo mundo. Somos normais, só acreditamos em algo um pouco diferente”, disse Suzanna Plum, uma das participantes do evento, à rede CBS.
Dex Desjardins, ministro do Templo Satânico, afirmou à rede de TV que muitas pessoas pensam que os satanistas querem ofender cristãos. “Mas, honestamente, nós não ligamos muito para o que pensam sobre nós. Não estamos fazendo nada para ofender ninguém”, disse.
“Não acreditamos literalmente em um satanás”
O Templo Satânico se define como uma organização religiosa que tem a missão de “encorajar a benevolência e a empatia entre as pessoas”. Entre os princípios do templo estão rejeitar autoridade tirânica, defender o bom senso e se opor à injustiça. As bandeiras da organização incluem, por exemplo, a defesa do direito ao aborto.
À agência AFP, Chalice Blythe, diretora da SatanCon, afirmou que os participantes “não acreditam, literalmente, em um satanás”. “O satanás é uma metáfora. Nós temos os nossos princípios básicos, de empatia, compaixão, justiça, autonomia do corpo, coisas assim, que traduzem a nossa filosofia de vida”, disse Blythe.
Briga com prefeita de Boston
Nos cartazes de divulgação do evento, o Templo Satânico dava um “agradecimento especial” à prefeita de Boston, Michelle Wu. O Templo processa a cidade desde 2021, depois de ser impedido de fazer uma invocação no começo de uma reunião do Conselho Municipal.
Segundo a organização, a administração municipal praticou intolerância religiosa contra os satanistas, já que adeptos de outras religiões são autorizados a falar no início das sessões.
No cartaz de divulgação da SatanCon, o Templo Satânico afirma que Boston fez “repetidos esforços inconstitucionais para manter a organização fora de espaços públicos”.
Por outro lado, o Conselho Municipal diz que ninguém é autorizado a fazer manifestações religiosas antes das reuniões.
Fonte: UOL.