Um alto funcionário do serviço de inteligência de um país ocidental alertou que, se a Rússia decidir invadir a Ucrânia, o conflito entre os países pode se espalhar pela Europa.
Em conversa com jornalistas, incluindo a BBC, o agente, que pediu para não ser identificado, afirmou:
“Não podemos nos fazer de cegos. Se a Rússia iniciar um cenário de qualquer tipo, também iniciará uma ação contra membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”.
“Pensar que a guerra poderia ser limitada a uma nação seria tolice”, acrescentou.
Essas preocupações foram ecoadas pelo mais alto oficial militar britânico.
“O significado dos piores cenários em termos de uma invasão em grande escala seria algo nunca visto na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”, afirmou o almirante Tony Radakin, chefe do Estado-Maior de Defesa, a jornalistas na terça-feira (7/12).
O almirante descreveu o reforço da presença militar da Rússia em sua fronteira com a Ucrânia como “profundamente preocupante”.
Apesar das advertências dos EUA e de seus aliados da Otan de que qualquer invasão da Ucrânia pela Rússia teria “graves consequências econômicas”, o reforço da presença militar de Moscou na fronteira continua.
O oficial de inteligência que conversou com jornalistas descreveu a situação como “estável”, em vez de dramática.
A inteligência ocidental estima que a Rússia já tenha até 100 mil soldados posicionados perto da fronteira com a Ucrânia, junto a tanques e artilharia.
Washington sugeriu que as tropas poderiam aumentar para 175 mil até o fim de janeiro.
A fonte disse que se a Rússia optasse por realizar um ataque agora, teria capacidade para tal.
Mas, segundo ele, as forças russas concentradas na fronteira ainda carecem de alguns elementos cruciais — como apoio logístico completo, estoques de munição, hospitais de campanha e bancos de sangue.
O oficial de inteligência descreveu o reforço da presença militar como um “gotejamento lento” e um “aumento lento da pressão”.
As autoridades americanas também apontaram para um aumento da “desinformação” nas redes sociais da Rússia.
Enquanto isso, outras fontes de defesa ocidentais manifestaram preocupação com um aumento no volume de inteligência interceptada por sinais sendo monitorados, o que poderia sinalizar a preparação da Rússia para uma invasão.
Como poderia ser a guerra?
Se a Rússia decidir invadir a Ucrânia, o alto funcionário de inteligência disse que um grande número de pessoas serão desalojadas.
“Poderíamos ter um grande número de refugiados, as mortes poderiam ser razoavelmente altas, assim como a destruição dentro da Ucrânia”, afirmou.
A guerra que eclodiu no leste da Ucrânia em 2014 já deixou 14 mil mortos e uma estimativa de cerca de 1,4 milhão de desabrigados.
Mas o oficial disse que a Rússia também pode iniciar ofensivas contra membros da Otan, como guerra cibernética e híbrida, e até ataques físicos.
“Se respingar em outro lugar, todos esses efeitos podem ser ampliados”, afirmou.
Intenção de Putin
O Ocidente ainda não tem clareza sobre as intenções do presidente russo, Vladimir Putin.
Mas o alto funcionário de inteligência alertou que “opções militares são altamente prováveis na mesa do Kremlin” se as demandas da Rússia não forem atendidas.
“Putin decidiu iniciar um conflito? A decisão ainda está sendo tomada”, avaliou.
Mas o oficial observou que houve a combinação de uma retórica bélica acentuada de Moscou, acusações de ser provocada pela Ucrânia e pela Otan, falta de transparência e um histórico preocupante, incluindo a anexação da Crimeia em 2014.
“Soma-se a isso a recente crise de fronteira envolvendo milhares de migrantes em Belarus, assim como o apoio da Rússia aos separatistas no Cáucaso e em outros lugares”, acrescentou.
Embora o oficial tenha dito que é difícil dizer que tudo isso esteja estrategicamente relacionado, mostrou que havia um problema na parte oriental do Leste Europeu.
Segundo ele, a situação de segurança na Europa não tem precedentes desde a queda da Cortina de Ferro.
As demandas da Rússia e uma solução diplomática
Os EUA e a Otan deixaram claro que querem um diálogo com a Rússia para evitar um conflito, e Moscou também quer que o diálogo continue.
A reunião virtual do presidente americano, Joe Biden, com Putin no início desta semana foi um começo, e será seguida por mais conversas com outros membros da Otan.