O primeiro ano da invasão russa na Ucrânia em 24 de fevereiro balizará a Conferência de Segurança de Munique, iniciada hoje, com 40 chefes de Estado e governo.
No campo do Direito Internacional coincidências felizes por vezes acontecem. Muitas delas são úteis para colocar fim às agressões internacionais.
A grande tensão internacional está na Ucrânia. E a invasão do seu território e a agressão à sua soberania pela Rússia completarão o primeiro e trágico aniversário.
Hoje, em Munique, começa a Conferência sobre Segurança e em jogo a segurança voltada a evitar uma possível terceira guerra mundial.
Vale lembrar que nessa mesma conferência, anos atrás, Putin fez um discurso agressivo, apontado, – pelos que se debruçam no exame do direito internacional -, como um aviso prévio de disposição de partir para uma agressão. Não deu outra e a Ucrânia foi invadida por ordem expressa do presidente Putin, com falsa alegação de “legítima defesa”.
Dois dias antes dessa Conferência de Munique, — e aponto aqui o começo das coincidências a que me referi acima—, Jüngen Habermas, seguramente o maior filósofo europeu vivo, fez um impressionante pronunciamento.
Com seus 93 anos de idade, ele analisou o conflito e concluiu sobre como o Ocidente deverá atuar neste difícil momento bélico: “Não deixar a Ucrânia vencer a guerra, mas evitar que ela perca”. Não há nenhuma contradição na sua conclusão.
O filósofo sabe que a Rússia não pode sair da aventura imperialista em que se meteu com a imagem de derrotada, desmoralizada. Por outro lado, nem Zelensky, no cenário internacional, poderá surgir como o novo Davi, aquele da bíblica luta contra o gigante Golias.
Também não existe nenhuma contradição de Habermas ao dizer que “devemos vencer o medo de enfrentar a Rússia, mas evitar que ela perca”. A perda seria a desmoralização, a desiquilibrar as forças internacionalmente. Em outras palavras, paz sem vencedores e sem derrotados.
Habermas entende que a Rússia violou o direito internacional e afrontou a Carta constitutiva das Nações Unidas ao invadir a Ucrânia.
O que esperar da Conferência de Segurança de Munique
Em Munique, a conferência sobre a segurança do planeta deverá ser influenciada pelo lúcido alerta de Habermas.
A conferência, vista sempre como evento de muita importância à luz do direito internacional e das geopolíticas e geoestratégias planetárias, transcorrerá em clima que poderá facilitar o acordo de paz entre Kiev e Moscou.
E pelo que corre, o esperado pronunciamento de sábado (18) de Kamala Harris, vice-presidente dos EUA, sinalizará para a paz. Tudo combinado com a assessoria político-militar do presidente Joe Biden.
Não faltará no pronunciamento de Kamala o esclarecimento, já repetido à exaustão, de os EUA estar auxiliando um país que se defende e que foi invadido.
A Conferência de Segurança foi aberta com o pronunciamento de Zelensky, por videoconferência. Depois, falou o chanceler alemão, Olaf Scholz.
O líder alemão sabe estar pesado o clima pró posturas bélicas. Pressionada, a Alemanha liberou os seus modernos tanques Leopard 2 para Kiev.
Embora todos saibam que os ucranianos só sabem manejar tanques fabricados na Rússia, a medida teve impacto e especula-se da presença de disfarçados militares poloneses nos tanques Leopard 2 e a ensinar o manejo.
Macron seguirá na fala. Pegou mal a comunicação da não presença da premiê italiana Giorgia Meloni: estaria enferma e será substituída pelo ministro de Relações Exteriores, que é do seu partido de direita.
Outro ponto a mostrar coincidências, diz respeito ao giro europeu de Wang Yi, chefe de relações internacionais do partido comunista chinês.
Wang Yi é da confiança do presidente chinês Xi Jinping. E no dia 24 de fevereiro próximo, no primeiro aniversário da invasão russa, está programado um discurso de Xi Jinping, apontado como fundamental para se chegar a um acordo de paz.
Por último, como se sabe, Putin, ao perceber o erro de mandar para guerra jovens e mal adestrados soldados, contratou agência Wagner de mercenários.
O estrategista da Wagner, Ricco Evgeny Prigoshin surpreendeu, ontem, a soltar e dar publicidade a uma nota. Ele reclama da burocracia militar russa e atribui a ela a culpa pelo atraso nas operações na região de Donbass.
A nota dos mercenários foi dada como inoportuna e enfureceu os generais russos que amargam a perda de metade dos tanques russos colocados na Ucrânia e se preocupam com os novos e modernos Leopard 2, de fabricação alemã.
Fonte: UOL.