Dezenas de manifestantes foram mortos pela polícia, e mais de 1.000 ficaram feridos no Cazaquistão – anunciaram as autoridades locais nesta quinta-feira (6), no mesmo dia que a Rússia e seus aliados enviaram tropas para enfrentar os violentos distúrbios no país.
A onda de indignação começou no domingo (2) em zonas provinciais, devido ao aumento do preço do gás. O movimento se espalhou para a maior cidade do país, Almaty, onde se transformou em revolta, com manifestantes invadindo prédios do governo e, brevemente, o aeroporto, em meio a saques.
Diante do caos, a vizinha Rússia e seus aliados da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) anunciaram, nesta quinta-feira (6), o envio do primeiro contingente de uma “força coletiva de manutenção da paz” para o Cazaquistão, a pedido do governo autoritário deste último.
Composto por tropas russas, bielorrussas, armênias, tadjiques e quirguizes, o contingente terá a missão de “proteger as instalações militares e estatais” e “ajudar as forças de ordem cazaques a estabilizar a situação e restabelecer o Estado de direito”.
Até o momento, o presidente cazaque, Kassym Jomart Tokayev, não conseguiu apaziguar os protestos, apesar das concessões sobre os preços do gás, da renúncia do governo e da introdução do estado de emergência e do toque de recolher noturno no país.
Nesta quinta-feira, a polícia informou que “dezenas” de manifestantes foram mortos, quando tentavam invadir prédios administrativos e delegacias de polícia.
O Ministério da Saúde disse que há mais de mil feridos, dos quais 62 se encontram em terapia intensiva. Além disso, 13 membros das forças de segurança morreram, dois deles decapitados, e 353 ficaram feridos, segundo a televisão estatal.
Medidas de emergência
Imagens divulgadas pela imprensa local e nas redes sociais mostraram cenas de caos, com lojas saqueadas e alguns prédios administrativos atacados e incendiados em Almaty, a capital econômica do país. Também é possível ouvir disparos de armas automáticas.
A porta-voz do Banco Central, Oljassa Ramazanova, anunciou a suspensão das atividades de todas as instituições financeiras do país, onde a Internet não funciona.
Os aeroportos de Almaty, Aktobe, Aktau e Nursultão continuavam sem funcionar nesta quinta, após o cancelamento de voos no dia anterior.
Como resultado do caos, o preço do urânio, do qual o Cazaquistão é um dos maiores produtores mundiais, subiu drasticamente, enquanto as cotações das empresas nacionais despencaram na Bolsa de Valores de Londres.
O país também é um centro de mineração de Bitcoin, atividade que também está experimentando forte queda.
O presidente cazaque implementou, nesta quinta, medidas de emergência para “estabilizar o trabalho dos serviços públicos, transporte e infraestruturas”, reforçar a prontidão das forças de segurança e restabelecer o trabalho dos bancos.
Além disso, a exportação de certos tipos de alimentos foi proibida para estabilizar os preços.
Tokayev disse na quarta-feira (5) que “gangues terroristas” que “receberam um amplo treinamento no exterior” estavam liderando os protestos.
“Grupos de elementos criminosos agridem nossos soldados, humilham-nos, arrastam-nos nus pelas ruas, atacam mulheres e saqueiam lojas”, relatou, em um discurso transmitido pela televisão.
Edifícios incendiados
Nas últimas noites, a polícia disparou bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo contra a multidão, mas não conseguiu impedir a invasão de alguns prédios administrativos.
Segundo a imprensa local e testemunhos nas redes sociais, os manifestantes foram à prefeitura e à residência presidencial de Almaty, entre outros lugares, e atearam fogo a estes edifícios. Cinco emissoras de televisão foram saqueadas.
Hoje, ainda não é possível obter um quadro completo da situação no país. Jornalistas e testemunhas não puderam ser encontrados online, nem por telefone, ambos desligados.
A raiva dos manifestantes é dirigida em particular ao ex-presidente Nursultan Nazarbayev, de 81 anos, que governou o país de 1989 a 2019 e mantém grande influência. Ele é considerado o mentor do atual presidente Tokayev.
Maior das cinco ex-repúblicas soviéticas na Ásia Central e a maior economia da região, o Cazaquistão tem uma grande minoria russa e é de crucial importância econômica e geopolítica para a Rússia.
Moscou pediu na quarta-feira que a crise seja resolvida pelo diálogo, “e não com distúrbios nas ruas e com violação da lei”. Estados Unidos e União Europeia pediram “moderação” a todas as partes envolvidas.
Fonte: AFP.