“A essa altura, é mais provável morrer de fome do que por coronavírus”, afirmou Pantira Sutthi, que vende comida na maior favela da Tailândia, Klong Toei, onde vivem quase 100 mil pessoas.
Localizada no coração da moderna Bangkok, essa comunidade pobre repleta de casas feitas de madeira e ferro velho ocupa uma área de 1,5 quilômetro quadrado de terra pantanosa atravessada por canais.
Sutthi é uma mãe solteira que sustenta sozinha o filho e o neto. Durante a semana, ela ganha o equivalente a R$ 160 por dia vendendo frango frito e bolinhos de carne em uma escola da vizinhança.
Mas sua única fonte de renda desapareceu de uma hora para outra por causa da pandemia, que levou ao fechamento das escolas do país asiático de 70 milhões de habitantes. Mais de 15 milhões de estudantes foram afetados pela medida.
Agora, sem renda nem apoio financeiro, Sutthi teme pelo futuro de sua família.
Alimentos doados
Para Sutthi, estocar alimentos para sua casa é mais prioritário que comprar álcool em gel ou máscaras.
“Por sorte, até agora ninguém na minha comunidade foi infectado, então não vou ficar doente ou morrer disso. Mas a pobreza tem nos matado lentamente”, disse. Até agora, o país registrou 2.613 casos da doença e 41 mortes.
“Eu só espero que essa situação melhore logo, e que nosso governo nos ajude.”
Sem consumidores, Sutthi não tem dinheiro para comprar comida para sua família ou para produzir os alimentos que vende na comunidade. Assim, ela tem sobrevivido de doações de entidades religiosas e fundações.
“Se eu ouço alguma coisa sobre gente doando comida, eu vou até lá e tento conseguir o suficiente para minha família. Eu tenho medo do vírus, mas com essa falta de recursos, é a única opção que eu tenho para sobreviver.”
Quase sem saída
Não há muitas opções de carreira profissional para as pessoas que vivem na favela.
Como muitos outros de sua comunidade, Thongrueng Thongphuen, 56, tem sofrido para obter seu ganha-pão. Ao lado de seu marido, ela deixa sua casa todos os dias e fica na rua principal de seu bairro à espera de que alguém lhe contrate para trabalhos manuais.
Ela sabe que o governo recomenda que as pessoas não saiam de casa, mas ela sente que é mais importante ganhar dinheiro para sobreviver.
“Pessoas pobres como nós quase não têm opções. Ninguém quer nos contratar, estamos em risco de contrair o vírus na rua e podemos até carregá-lo até nossa comunidade. Mas o que eu posso fazer? Minhas crianças precisam comer e os cobradores de dívidas sempre aparecem para receber o dinheiro que me emprestaram. Estou sob muita pressão. Às vezes, eu não vejo razão para continuar a viver.”
Vulnerabilidade
Klong Toei é a maior favela da Tailândia, e o adensamento populacional ali pode facilitar o espalhamento de um vírus respiratório como o coronavírus.
Muita gente ali tem noção dos riscos em torno da pandemia, mas com os recursos escassos que têm, não resta muita coisa a fazer que não seja se preocupar uns com os outros.
“A maioria das pessoas nessa comunidade é formada por crianças, idosos e pessoas doentes com mobilidade reduzida. Basta um caso de infecção aqui dentro para varrer nossa comunidade inteira”, disse Sanitmueanwai.
Moradora de Klong Toei, a jovem de 26 anos Ladda Mangmeepol produz máscaras e as distribui de graça para os vizinhos.
“Eu tenho sorte de conseguir manter meu emprego e a renda da minha família. Mas eu vejo muitos parentes e vizinhos sofrendo com a crise.”
E acrescenta: “Todos são trabalhadores e não há empregos para eles neste momento. É só o primeiro mês de epidemia em Bangkok e as pessoas já estão sofrendo com isso. Eu não consigo nem imaginar como será no mês que vem”.
Ela disse ter medo de muitas pessoas de sua comunidade morrerem de covid-19. Até agora, uma pessoa se infectou com a doença ali.
Apesar dos preparativos para enfrentar o pico da pandemia que ainda não chegou, as pessoas na maior favela da Tailândia já estão em situação de extremo perigo.
O governo colocou anteriormente Klong Toei na lista de lugares que devem ser demolidos nos próximos dez anos, mas o lugar já parece ter sido esquecido.
Fonte: BBC.