A Rússia viveu horas tensas entre sexta-feira (23) e sábado (24). A crise começou com mensagens publicadas por Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo de mercenários Wagner, que lutou do lado russo na guerra da Ucrânia e foi crucial para algumas vitórias de Moscou no conflito.
Nas mensagens, Prigozhin fez ataques e acusações ao comando militar russo. O chefe do grupo Wagner é um antigo amigo do presidente Vladimir Putin que comanda uma tropa paga de ex-presidiários e estrangeiros que, segundo estimativas, tem cerca de 50 mil homens.
A crise rapidamente evoluiu para um motim da milícia, que saiu da Ucrânia, entrou em território russo, tomou as instalações militares em Rostov, no sul do país, e avançou em direção a Moscou. Na tarde de sábado (no Brasil, noite na Rússia), um acordo mediado pelo governo de Belarus, aliado de Putin, pôs fim à rebelião. Os rebeldes recuaram quando algumas tropas já estavam a cerca de 200 km de Moscou.
Abaixo, entenda o que aconteceu.
Quem são os envolvidos?
Os acontecimentos das últimas 24 horas envolvem:
- Vladimir Putin, presidente da Rússia.
- Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo de mercenários Wagner.
- Grupo Wagner, composto por mercenários que atuam ao lado da Rússia na guerra com a Ucrânia.
- Sergei Shoigu, ministro da Defesa russo.
Como começou a rebelião?
O motim começou após Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo de mercenários Wagner, compartilhar mensagens nas redes sociais na sexta-feira (23). Nas postagens, ele acusou o ministério da Defesa da Rússia, chefiado por Sergei Shoigu, de realizar um ataque contra seus combatentes e afirmou que muitos morreram. O governo da Rússia negou as acusações.
Hora depois, Prigozhin compartilhou mais mensagens, agora acusando as autoridades russas de mentir, e prometeu uma retaliação do grupo Wagner ao suposto ataque.
“Aqueles que destruíram nossos rapazes serão punidos. Peço que ninguém ofereça resistência. Somos 25 mil e vamos descobrir por que o caos está acontecendo no país”, disse o chefe do grupo Wagner. “Este não é um golpe militar. É uma marcha por justiça. Nossas ações não interferem de forma alguma nas tropas.”
Isso levou a FSB, um dos serviços de segurança da Rússia, a abrir um caso criminal contra Prigozhin, acusando-o de um motim (um levante contra a autoridade militar).
As declarações de Prigozhin levaram parte dos mercenários a se mobilizar nas ruas do país. A segurança de Moscou foi reforçada e o prefeito da capital russa, Sergei Sobyanin, declarou que medidas antiterroristas foram tomadas.
O que aconteceu durante o motim?
Após os mercenários do grupo Wagner tomarem as ruas de diversas cidades da Rússia, que reforçaram a segurança nas ruas.
Em um vídeo divulgado neste sábado (24), Prigozhin disse que todos as sedes militares da Rússia em Rostov-on-Don estavam sob controle do Grupo Wagner. Além disso, a agência Reuters afirmou que instalações militares de Voronezh, a 500 km de Moscou, também foram tomadas pelo grupo.
“Chegamos aqui, queremos receber o chefe do estado-maior [Valery Gerasimov] e [Sergei] Shoigu”, disse Prigozhin em um vídeo divulgado em uma rede social. “A menos que eles venham, estaremos aqui, bloquearemos a cidade de Rostov e seguiremos para Moscou.”
Prigozhin também jurou ir “até o fim” contra o Ministério da Defesa e que iria destruir tudo o que estivesse no caminho. Segundo o líder, os mercenários derrubaram um helicóptero do Exército da Rússia.
Em resposta, o Ministério da Defesa disse que os integrantes do Grupo Wagner foram enganados e colocados em uma “aventura criminosa” e pediu para que os soldados retornem às suas bases militares.
Mais tarde, Prigozhin ordenou que seus combatentes, que vinham avançando sobre Moscou, voltassem para suas bases na Ucrânia para evitar um derramamento de sangue na capital russa.
O anúncio de Prigozhin, feito através de uma mensagem de áudio, foi divulgado após o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko – aliado de Putin – afirmar que fez um acordo com Prigozhin para conter a ofensiva dos mercenários.
Quais são os termos do acordo?
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou ainda que houve uma negociação seguida de um acordo entre as duas partes intermediados pelo governo de Belarus.
Outros pontos combinados são:
- Que Prigozhin vai se exilar em Belarus, país aliado de Moscou, e deixar o front na Ucrânia e São Petersburgo, sua cidade natal.
- O líder dos mercenários não havia confirmado a informação do Kremlin até a última atualização desta notícia.
- Que nenhum outro membro do grupo Wagner que participou da rebelião será perseguido criminalmente.
- Que os mercenários que não aderiram à revolta serão integrados ao Ministério da Defesa russo.
Qual a relação do grupo Wagner com a guerra na Ucrânia?
O “Wagner” é uma espécie de organização paramilitar ligada ao governo russo. O grupo surgiu em 2014, composto por ex-soldados de elite altamente qualificados.
Com a invasão da Ucrânia, acredita-se que o grupo tenha se expandido recrutando prisioneiros para lutar a favor da Rússia. Os mercenários reforçaram a linha de frente e atuaram em várias batalhas, incluindo na conquista de Bakhmut.
A relação entre o grupo e o Ministério da Defesa da Rússia já estava estremecido há alguns meses.
Fonte: G1.